Patricia Highsmith conta, literalmente, a história desde o lançar da semente. A autora retrocede ao que chama “semente” das suas obras para explicar o impulso, o estímulo ou as noções vagas na origem da escrita. Para manter a imagética, as ideias estão na raiz de tudo — “As ideias são o meu tipo de bênção preferido” (p.12). O que pode sugerir uma tautologia frustante é, porventura, um dos factores essenciais do trabalho de Highsmith — sobretudo, aquele exposto em Suspense. E um dos antídotos para o veneno de um “utilitarismo” que se poderia revelar letal. Se tudo radica na ideação — em detrimento, por hipótese, das personagens, do estilo, o carácter da linguagem, ou o próprio enredo —, as ideias não são um totem imobilizado, um testemunho passível de se transmitir em bloco. Porque, além do mais, cada ideia, ou cacho de ideias, serve o propósito para que foi concebido, mas não é forçoso que se ajuste aos projectos de outrem. É óbvio que não se poderia esperar uma lição demasiado alinhada, muito menos um pacote de lições prontas a usar, de alguém tão refractário à convencionalidade. Mas mesmo que a razão seja o fulcro organizador desta noção de escrita, onde as “ideias” têm o papel central, Patricia Highsmith não descrê por completo das forças que estão para lá, ou antes, da razão. Não que ceda a qualquer “misticismo”, como dirá, mas porque se mostra receptiva a quanto há de instintivo, pulsional, ou mesmo ilógico nos processos que tão habilmente descreve —“nem sempre é possível criar um bom livro apenas pela lógica”(p.46).
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Patricia Highsmith conta, literalmente, a história desde o lançar da semente. A autora retrocede ao que chama “semente” das suas obras para explicar o impulso, o estímulo ou as noções vagas na origem da escrita. Para manter a imagética, as ideias estão na raiz de tudo — “As ideias são o meu tipo de bênção preferido” (p.12). O que pode sugerir uma tautologia frustante é, porventura, um dos factores essenciais do trabalho de Highsmith — sobretudo, aquele exposto em Suspense. E um dos antídotos para o veneno de um “utilitarismo” que se poderia revelar letal. Se tudo radica na ideação — em detrimento, por hipótese, das personagens, do estilo, o carácter da linguagem, ou o próprio enredo —, as ideias não são um totem imobilizado, um testemunho passível de se transmitir em bloco. Porque, além do mais, cada ideia, ou cacho de ideias, serve o propósito para que foi concebido, mas não é forçoso que se ajuste aos projectos de outrem. É óbvio que não se poderia esperar uma lição demasiado alinhada, muito menos um pacote de lições prontas a usar, de alguém tão refractário à convencionalidade. Mas mesmo que a razão seja o fulcro organizador desta noção de escrita, onde as “ideias” têm o papel central, Patricia Highsmith não descrê por completo das forças que estão para lá, ou antes, da razão. Não que ceda a qualquer “misticismo”, como dirá, mas porque se mostra receptiva a quanto há de instintivo, pulsional, ou mesmo ilógico nos processos que tão habilmente descreve —“nem sempre é possível criar um bom livro apenas pela lógica”(p.46).