Incêndio em armazém paulista destrói obras de importantes artistas brasileiros

O edifício guardava mais de mil obras de arte de artistas representados pela galeria Nara Roesler, como Vik Muniz ou Abraham Palatnik, e 13 esculturas históricas de Emanoel Araújo, em trânsito para uma exposição nos Estados Unidos.

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Um violento incêndio atingiu esta quinta-feira um grande armazém em Taboão da Serra, nos arredores de S. Paulo, que funcionava como centro logístico para algumas das mais importantes galerias brasileiras, incluindo a prestigiada Nara Roesler, que conservava no edifício cerca de 1300 obras, mas não sabe ainda quantas e quais ficaram destruídas.

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Um violento incêndio atingiu esta quinta-feira um grande armazém em Taboão da Serra, nos arredores de S. Paulo, que funcionava como centro logístico para algumas das mais importantes galerias brasileiras, incluindo a prestigiada Nara Roesler, que conservava no edifício cerca de 1300 obras, mas não sabe ainda quantas e quais ficaram destruídas.

O fogo, que deflagrou por volta das 17h30 (hora local), terá ainda consumido 13 esculturas históricas de Emanoel Araújo, que a galeria Simões de Assis ali acondicionara provisoriamente enquanto aguardavam transporte para os Estados Unidos, onde iriam integrar uma exposição do artista, que foi director da Pinacoteca do Estado de S. Paulo e é o actual responsável pelo Museu Afro-Brasil.

Entre os muitos artistas representados pela Nara Roesler que tinham obras armazenadas neste edifício gerido pelo grupo Alke, contam-se nomes consagrados da arte contemporânea brasileira, como Vik Muniz, radicado nos Estados Unidos, ou os recém-falecidos Antônio Dias ou Abraham Palatnik, este último um pioneiro da arte cinética no Brasil. Os serviços de imprensa da galeria afirmam estar ainda a fazer o levantamento das obras que se encontravam no armazém.

Segundo o jornal Folha de São Paulo, o grupo Alke, especializado em logística, estava a transferir as obras de arte para um novo espaço, e o incêndio coincidiu com este processo. A empresa diz que é o primeiro acidente deste tipo que sofre e que, cita a Folha de São Paulo, “estava em dia com o auto de vistoria do Corpo de Bombeiros, licença que comprova legalmente que o estabelecimento está seguro”.

Outras galerias de São Paulo trabalhavam regularmente com o grupo, como a Luciana Brito ou a Zipper, mas não teriam neste momento obras dos seus artistas no armazém.

Ao jornal O Globo, Vik Muniz explicou que recebera na quinta-feira à noite um telefonema da galeria Nara Roesler a informá-lo do incêndio. “Possivelmente, há obras de exposições minhas inteiras que estavam guardadas lá, mas a galeria mantém o acervo em vários outros lugares”, explica, pelo que “ainda não dá para saber ao certo”.

Já Guilherme Simões de Assis, sócio da galeria Simões de Assis, lamentou à Folha de S. Paulo a provável perda das esculturas de Emanoel Araújo. “São obras históricas de um artista que já tem 80 anos de idade e está tendo um reconhecimento no exterior; é um pedaço da arte brasileira que vai embora”, afirma.

E o próprio artista disse ao mesmo jornal que foi um “choque enorme” saber que as suas criações estavam no incêndio. “Quando você perde uma obra, é muito difícil porque não dá para reconstruir. É uma coisa feita no passado, está perdida mesmo”, diz Emanoel Araújo. “É um abalo moral à obra e ao artista”, afirma, desabafando: “Não tem justificativa, é uma falta de atenção, de responsabilidade. Pode falar o que quiser, mas nada que se disser resolve.”