Governo escolhe 11 empresas para acelerar produção de vacinas na Europa
A Comissão Europeia quer envolver um grande número de empresas para aumentar a capacidade de produção de vacinas contra a covid-19 e o Executivo está à procura dos primeiros representantes da indústria portuguesa.
O Governo identificou 11 empresas portuguesas que podem ajudar a produzir vacinas contra a covid-19 na União Europeia (UE) e convidou-as para participar num evento online, nos dias 29 e 30 de Março. Aí poderão responder ao interesse de outras empresas que precisem de aumentar a sua capacidade de produção, anunciou o ministro da Economia e da Transição Digital, Pedro Siza Vieira.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
O Governo identificou 11 empresas portuguesas que podem ajudar a produzir vacinas contra a covid-19 na União Europeia (UE) e convidou-as para participar num evento online, nos dias 29 e 30 de Março. Aí poderão responder ao interesse de outras empresas que precisem de aumentar a sua capacidade de produção, anunciou o ministro da Economia e da Transição Digital, Pedro Siza Vieira.
Este encontro virtual faz parte da estratégia para aumentar a produção de vacinas contra a covid-19 na UE, da qual é responsável o comissário europeu Thierry Breton, que esteve nesta sexta-feira em Lisboa, uma vez que Portugal exerce a presidência rotativa do Conselho da UE. Esteve com o primeiro-ministro António Costa e com o ministro da Economia.
“Identificámos 52 fábricas na União Europeia capazes de fornecer tudo o que é preciso”, disse o comissário do Mercado Interno. “Compreendemos agora muito melhor a capacidade destas fábricas, pelo que temos uma maior certeza sobre a quantidade de vacinas que será entregue no segundo trimestre: mais de 360 milhões de doses”, disse Thierry Breton. A fatia de leão será da Pfizer-BioNtech (200 milhões de doses), mas nas contas incluem-se também 70 milhões da AstraZeneca e dez milhões da alemã CureVac, que deve ser em breve aprovada pela Agência Europeia do Medicamento, disse.
Mas é preciso preparar o que se segue, o Outono, quando pode ser necessário produzir uma dose de reforço das vacinas contra a covid-19, até porque estão a surgir muitas variantes do vírus SARS-CoV-2, e contra algumas as vacinas parecem não funcionar tão bem.
Por isso, a Comissão Europeia quer envolver um grande número de empresas para aumentar a capacidade de produção de vacinas. Para isso tem um novo instrumento, a Incubadora HERA, que “visa reunir investigadores, empresas de biotecnologia, fabricantes, entidades reguladoras e autoridades públicas para acompanhar as variantes, trocar dados e cooperar na adaptação das vacinas”, lê-se num comunicado de imprensa da Comissão.
As 11 empresas portuguesas com capital nacional e estrangeiro seleccionadas pelo Ministério da Economia para o evento de 29 e 30 de Março entram aí. O ministro Siza Vieira não as identificou - apenas mencionou a fábrica de vacinas víricas que a farmacêutica espanhola Zendal está a construir em Paredes de Coura - mas o PÚBLICO conhece algumas.
Por exemplo, a farmacêutica de Coimbra BluePharma. Tem havido “contactos ao nível da Secretaria de Estado da Internacionalização”, confirmou Paulo Barradas Rebelo, presidente da empresa. “Enviámos um documento escrito com o potencial que a BluePharma pode disponibilizar”, explicou.
Mas vai avisado: “Não é que nós fabriquemos neste momento vacinas e que pudéssemos começar a fazer a da covid-19. Não é nada disso”, disse Paulo Barradas Rebelo. “Temos um know-how grande na área dos injectáveis complexos [sistemas para administrar um medicamento através de uma agulha oca e uma seringa, usados para tratar cancro, por exemplo], que pode ser interessante”, exemplifica.
E a BluePharma está a construir uma fábrica nova. “Estamos a fazer grandes investimentos em Coimbra, e temos posto à disposição que podemos estender o projecto à área das vacinas”, adianta Paulo Barradas Rebelo. “Mas também dizemos sempre que isto não é uma coisa imediata. Trata-se de indústria farmacêutica, de construir uma unidade industrial. Isto requer projectos, licenciamento, encomendas de equipamento feito à medida, e validação de tudo isso, montar equipas e dar-lhes formação. São processos que se estendem sempre para três quatro anos”, avisou.
Já a Genibet, uma empresa criada em 2006 por iniciativa do Instituto de Biologia Experimental e Tecnológica, que também foi convidada a participar no evento online, é especialista em produzir biofármacos para ensaios clínicos, tem vários clientes para os quais produz produtos semelhantes aos usados nas vacinas contra a covid-19, como o ARN mensageiro, disse ao PÚBLICO a directora, Raquel Fortunato.
“Em 2015, fomos nós que fizemos o ARN mensageiro para o ensaio clínico de um outro medicamento da Moderna, que nada tinha a ver com a vacina da covid-19”, exemplificou.
Para outros clientes produz produtos de adenovírus desactivados semelhantes aos usados pelas vacinas da AstraZeneca e da Janssen para inserir no nosso organismo o gene do SARS-CoV-2 que ensina o sistema imunitário a lutar contra a infecção. “Temos dois clientes, um na Finlândia e outro em Espanha, que usam um vírus que só infecta células tumorais”, explica.
Mas mesmo a Genibet não poderia começar imediatamente a produzir em grande escala para dar resposta à produção de vacinas contra a covid-19. “Temos alguma capacidade, mas normalmente para fazer ensaios clínicos são precisos uns 500 frasquinhos com doses, por exemplo – a escala seria diferente. Temos o know-how, mas para ter escala e nos expandirmos precisaríamos de investimento”, reconhece Raquel Fortunato.