Carlos Moedas assustou o PS
Carlos Moedas dificilmente seria chamado à comissão de inquérito sobre o Novo Banco, caso ainda fosse comissário europeu ou um discreto administrador da Gulbenkian.
A comissão parlamentar de inquérito ao Novo Banco vai requerer o depoimento de Aníbal Cavaco Silva, Pedro Passos Coelho e Durão Barroso por alegado conhecimento da situação financeira do BES e por não terem evitado o aumento de capital do banco pouco antes do colapso.
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A comissão parlamentar de inquérito ao Novo Banco vai requerer o depoimento de Aníbal Cavaco Silva, Pedro Passos Coelho e Durão Barroso por alegado conhecimento da situação financeira do BES e por não terem evitado o aumento de capital do banco pouco antes do colapso.
É natural que uma comissão parlamentar como esta, ainda para mais neste caso, queira inquirir os principais responsáveis políticos da época sobre o contexto que precedeu a resolução do BES, em 2014. O que é mais duvidoso é a inclusão de Carlos Moedas neste novelo.
A comissão parlamentar não quer inquirir o ex-secretário de Estado Adjunto do primeiro-ministro, e elo de ligação do Governo à troika, porque o mesmo não teve qualquer participação directa na resolução do Novo Banco. Moedas dificilmente seria chamado a esta comissão sobre o Novo Banco, caso ainda fosse comissário europeu ou um discreto administrador da Gulbenkian.
Quem a comissão quer inquirir é o recém-anunciado candidato de uma coligação de direita à Câmara de Lisboa. Com isto, o PS, de alguma forma, instrumentaliza a comissão de inquérito e pratica o que Costa criticou no PSD: “A jogada política” a pensar nas autárquicas.
Já se percebeu que Moedas, como escreveu no PÚBLICO Francisco Mendes da Silva, pode ser um candidato em contraciclo, com a “possibilidade de vencer uma eleição partidária de impacto nacional”. Moedas tem a credibilidade suficiente para reunir à sua volta uma direita capaz de separar o trigo do joio, frente a uma esquerda que concorrerá isolada e com azedume. O seu sucesso não deixará ninguém incólume. A começar pelo próprio.
As próximas autárquicas são um excelente momento para rediscutir o modelo de desenvolvimento das nossas cidades, esvaziadas pela especulação imobiliária, quando nos confrontamos com a importância da habitação, dos transportes ou do espaço público neste longo período pandémico. São um excelente momento para olharmos o interior e rediscutirmos o que deve ser um país descentralizado.
Carlos Moedas pode contribuir para que as eleições municipais sejam mais isto do que o somatório de “jogadas políticas” de partidos preocupados em manter ou obter hegemonia a qualquer custo, seja recrutando mulheres pelo WhatsApp, seja recorrendo à esperteza de candidatar no concelho ao lado quem não se pode recandidatar no seu próprio concelho por excesso de mandatos. Há uma diferença entre o jogo político sério e a jogada de habilidade vulgar. Os eleitores percebem a diferença.