Egipto suspende navegação no Canal do Suez para desencalhar porta-contentores
A corrida para libertar o navio que bloqueia a via de circulação essencial para transportar petróleo para o Médio Oriente vai no terceiro dia e pode arrastar-se durante semanas.
Os utilizadores das redes sociais não têm resistido a manipular as imagens do gigante MV Ever Given – 219 mil toneladas, 400 metros de comprimento e 59 de largura – face aos pequenos rebocadores que trabalham à sua volta. Mas, ao terceiro dia depois de ter ficado encalhado, aumenta a pressão para que seja retirado.
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Os utilizadores das redes sociais não têm resistido a manipular as imagens do gigante MV Ever Given – 219 mil toneladas, 400 metros de comprimento e 59 de largura – face aos pequenos rebocadores que trabalham à sua volta. Mas, ao terceiro dia depois de ter ficado encalhado, aumenta a pressão para que seja retirado.
A Autoridade Egípcia do Canal do Suez anunciou que suspendeu temporariamente a navegação, quando 165 navios com petróleo, partes de automóveis e bens de consumo fazem fila dos dois lados desta via comercial que liga a Ásia à Europa.
Na quarta-feira as expectativas eram de uma operação rápida que permitisse reabrir completamente a navegação numa das vias marítimas comerciais mais movimentadas do mundo, mas, com o porta-contentores bloqueado na areia, admite-se agora que o processo implique desembarcar os contentores a bordo, o que pode demorar semanas. O Ever Given (operado pela empresa Evergreen Marine, com pavilhão de Taiwan) está atravessado no canal, impedindo o tráfego.
Depois de uma pequena suspensão durante a noite, os trabalhos recomeçaram nesta quinta-feira de manhã. Segundo Peter Berdowski, director executivo da empresa Boskalis, especializada em dragagem, que enviou uma equipa para o local, os dados existentes sugerem “que não é realmente possível soltá-lo” sem que seja descarregado, diz ao diário The Guardian. “É uma enorme baleia encalhada na praia. É um peso enorme na areia. Poderemos ter de trabalhar numa combinação de reduzir o peso, retirando contentores, petróleo e água do navio, rebocadores e dragagem de areia”, explica Berdowski.
Nesta quinta-feira de manhã havia cinco rebocadores em redor do navio, com mais três a caminho. O porta-contentores com bandeira do Panamá, e que saíra da Índia com destino a Roterdão, deixou de conseguir navegar numa altura em que a zona foi afectada por ventos fortes, com rajadas de até 50 km por hora, e uma tempestade de areia.
“Lamentamos muito por causar uma preocupação tremenda aos navios que estão a viajar ou planeiam passar no Canal do Suez, e a todas as pessoas envolvidas”, afirmou a empresa proprietária do navio, a japonesa Shoei Kisen, que diz estar a cooperar com as autoridades locais e com a sua empresa de gestão técnica. Mas “a operação é extremamente difícil”, alerta.
Com 190km de comprimento, o Canal do Suez é uma das vias marítimas mais importantes do mundo, concentrando cerca de 10% do comércio marítimo internacional. É especialmente importante para o transporte de petróleo vindo do Médio Oriente. Foi alargado em 2015 para permitir aos navios transitarem nas duas direcções em simultâneo, mas apenas em parte da rota. O Ever Given encalhou na zona de sentido único do canal.
Tráfego diário de 9600 milhões
Como a operação poderá demorar semanas, os impactos económicos para o centro de logística do Suez e para o comércio mundial poderão ser superiores ao que se pensava, quando se esperava que o problema durasse apenas alguns dias.
Além do reflexo nos preços do petróleo, que já se fizera sentir na quarta-feira, as operadoras de logística começam a fazer as contas ao que estão a perder com a paragem dos outros navios que se preparavam para fazer o percurso do Suez, tanto para oeste como para este.
A perturbação poderá não só complicar os fluxos comerciais entre continentes, mas também aumentar as reclamações no sector dos seguros, refere uma análise da agência de rating Standard and Poor’s.
O Lloyd’s List, histórico jornal britânico que cobre informação relacionada com os transportes marítimos, calcula que haja 165 embarcações num extremo ou noutro do canal à espera de passar.
O tráfego diário no Suez, diz o jornal, vale 9600 milhões de dólares (cerca de 8100 milhões de euros), dos quais 5100 milhões de dólares no sentido ocidente-oriente e 4500 milhões no sentido contrário. O transporte de contentores representará cerca de 26% do total.
Entre as embarcações paradas há 24 navios de transporte de petróleo, indica o Lloyd’s List.
Sendo o Suez uma passagem essencial no transporte da produção no Médio Oriente, o congestionamento prolongado, a confirmar-se, poderá ter impactos nos preços de negociação a nível mundial.
Ainda na quarta-feira, perante a incerteza sobre a duração do congestionamento, o preço dos contratos futuros de brent do mar do Norte subiu perto de 6%, para 64,16 dólares por barril, embora na tarde desta quinta-feira o preço já esteja em sentido inverso, a corrigir da forte variação da véspera, com uma descida na ordem dos 4%, para 61,6 dólares.