O 5G faz mal à saúde? Especialistas dizem que não
Há um conjunto de mitos que “viajam” na Internet, em particular nas redes sociais: há quem garanta que o 5G prejudica a saúde e, até, é responsável pelo surgimento do novo coronavírus. Teorias de conspiração há muitas, mas num relatório recente a Anacom revela que os campos eletromagnéticos do 5G “estão mais de 50 vezes” abaixo do valor referência recomendado pela Organização Mundial de Saúde.
A chegada da quinta geração das redes móveis tem sido recebida com muita expectativa, mas também com alguma desconfiança. Assim como aconteceu no passado com muitas outras inovações, o 5G tem sido o protagonista de várias teorias da conspiração que têm eco na Internet. Com a quinta geração das redes móveis a chegar a Portugal, é hora de colocar os pontos nos “is” e esclarecer os principais mitos associados ao 5G.
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A chegada da quinta geração das redes móveis tem sido recebida com muita expectativa, mas também com alguma desconfiança. Assim como aconteceu no passado com muitas outras inovações, o 5G tem sido o protagonista de várias teorias da conspiração que têm eco na Internet. Com a quinta geração das redes móveis a chegar a Portugal, é hora de colocar os pontos nos “is” e esclarecer os principais mitos associados ao 5G.
Os mitos relacionados com as redes sem fios são uma constante há décadas. A cada inovação tecnológica, regressa o mesmo gráfico de 2000, da autoria de Bill P. Curry, que serve de base a um conjunto de publicações alarmistas que associam as redes ao cancro. Segundo Curry, quanto maior fosse a frequência, mais perigosa seria a respectiva radiação; no entanto, o físico aplicou este estudo a tecidos expostos em laboratório e não ao organismo humano – em particular o impacto nas células –, não tendo em conta factores como, por exemplo, a capacidade que a pele tem em bloquear frequências consideradas não ionizantes. A interpretação errónea dos dados seria depois contestada por vários investigadores, mas, mais de 20 anos depois, o gráfico de Curry continua a ser um dos principais argumentos usados para espalhar mitos e inverdades, agora sobre o 5G.
Um dos mitos mais recentes, e sem fundamento, prende-se com a eventual responsabilidade do 5G no surgimento e proliferação do novo coronavírus por todo o mundo. Na origem deste mito estaria a teoria, sem evidência científica, que a utilização do 5G enfraqueceria o sistema imunitário o que estaria na origem de doenças e vírus como a Covid-19.
Apesar da suspeição em torno das redes móveis, a verdade é que a Organização Mundial da Saúde (OMS) nunca identificou nenhum efeito adverso para a saúde, sendo que as medições dos campos electromagnéticos permitem ter a situação sob controlo. Atendendo aos factos, Luís M. Correia, professor do Instituto Superior Técnico e um dos responsáveis do projecto FAQtos, que disponibiliza informação relevante sobre radiação electromagnética em comunicações móveis, considera que “não há motivo para preocupação, uma vez que, em condições normais, a exposição das pessoas a radiações electromagnéticas está de facto abaixo dessas recomendações”.
Através do FAQtos, têm sido feitas medições desde 2003 em “milhares de locais públicos, que mostram que os limites recomendados internacionalmente não foram ultrapassados”. Logo, “não existe motivo para a esmagadora maioria das preocupações existentes”, garante Luís M. Correia. “A investigação em sistemas de telecomunicações sem fios tem abordado, desde há décadas, o problema da exposição a radiações electromagnéticas” e, como resultado, “tem incluído nos novos sistemas mecanismos para diminuir essa exposição, sendo o 5G mais um passo nesse sentido”, reforça.
Outro dos temas que tem ganhado alguns adeptos prende-se com a uma campanha camuflada que atacaria directamente a carteira dos consumidores. Segundo esta teoria da conspiração, o 5G seria uma forma de as empresas tecnológicas obrigarem os cidadãos a substituir todos os seus equipamentos.
A quinta geração das redes móveis está relacionada, sobretudo, com a comunicação facilitada e em massa entre equipamentos, ligados em rede, e a velocidade a que esta acontece. Desta forma, os utensílios que comunicam através de uma rede sem fios vão continuar a fazê-lo, não sendo “extinguidos” pelo aparecimento do 5G. O 5G não vai tornar obsoletas as utilidades que temos actualmente: estamos a falar de uma adição complementar aos serviços já existentes, mas que não os termina (o 5G não substitui, assim, o 4G LTE).
Além de ter a capacidade de suportar mais equipamentos IoT, e com maior resiliência, o 5G abre as portas para novas funcionalidades e capacidades tecnológicas, que certamente vão contribuir para novos e melhores equipamentos a médio-longo prazo.
Desconhecimento é a principal origem dos mitos
A divulgação de mentiras sobre as redes sem fios – e o 5G em particular – é fortalecida pelo “desconhecimento que a grande maioria das pessoas tem sobre como funcionam os sistemas de telecomunicações, o que sempre foi terreno fértil para muita desinformação”, explica Luís M. Correia.
Embora a ciência contrarie os mitos, nem sempre é fácil desmenti-los: “tem mensagens simples, mas exige de quem as contraria uma explicação pormenorizada”, realça o investigador. Fortalecer o “conhecimento geral sobre os acontecimentos” pode ajudar a criar as condições para facilitar, depois, o esclarecimento através de factos. Também os meios de comunicação podem, na opinião do professor, contribuir para este trabalho, por exemplo com a criação de “cantinhos da ciência”.
“A origem das preocupações com a possibilidade de as radiações electromagnéticas (e não o 5G em particular) originarem cancro está nalguns estudos que foram feitos e que levaram a que o IARC as incluísse na lista de agentes possivelmente carcinogénicos (Categoria 2B)”, exemplifica Luís M. Correia, salvaguardando que “o que normalmente se desconhece é que na mesma categoria estão o extracto de aloé vera, os fumos de escape da gasolina e gasóleo, e picles. A classificação da IARC tem de ser vista em contexto de risco e não absoluto”, sublinha.