Professores portugueses têm os níveis de stress mais altos da Europa
Portugal é o país onde os professores do 3.º ciclo do ensino básico viveram mais situações de stress elevado devido à profissão, revela um relatório da Comissão Europeia.
Quase metade dos professores europeus do 3.º ciclo do ensino básico (do 7.º ao 9.º anos de escolaridade) sentem níveis de stress elevados associados à profissão. Portugal aparece acima da média europeia e encabeça a tabela, com 87% dos profissionais da educação a viverem momentos de “bastante” ou “muito” stress no trabalho. Os dados constam do relatório da Comissão Europeia “Professores na Europa - Carreiras, Desenvolvimento e Bem-estar”, publicado esta quarta-feira.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Quase metade dos professores europeus do 3.º ciclo do ensino básico (do 7.º ao 9.º anos de escolaridade) sentem níveis de stress elevados associados à profissão. Portugal aparece acima da média europeia e encabeça a tabela, com 87% dos profissionais da educação a viverem momentos de “bastante” ou “muito” stress no trabalho. Os dados constam do relatório da Comissão Europeia “Professores na Europa - Carreiras, Desenvolvimento e Bem-estar”, publicado esta quarta-feira.
As principais fontes de stress para os professores não estão ligadas às aulas, revela o estudo, que compreende os anos entre 2018 e 2020. Tarefas administrativas, ter de cumprir exigências por parte de superiores ou sentirem-se responsáveis pelo sucesso dos alunos são algumas das explicações para o desgaste da classe profissional.
“Níveis mais elevados de stress estão relacionados com a avaliação sobre a progressão na carreira, mais horas de trabalho, mau comportamento dos estudantes e níveis mais baixos de autoconfiança na gestão dos alunos”, pode ainda ler-se no documento, que conjuga dados qualitativos da Eurydice (a rede de informação sobre os sistemas educativos europeus) com dados quantitativos obtidos pelo TALIS (Teaching and Learning International Survey - Inquérito Internacional de Ensino e Aprendizagem, em português), da OCDE.
Também no que respeita ao impacto do trabalho no bem-estar dos professores, Portugal aparece acima da média europeia no que aos piores cenários diz respeito. Mais de metade dos educadores diz sofrer física e mentalmente com o trabalho. A par de Portugal estão países como a Bélgica, a Bulgária, a Dinamarca, França, Letónia e o Reino Unido. Em termos gerais, na Europa, 24% e 22% dos profissionais reportam um impacto negativo da profissão tanto na saúde mental como na física, respectivamente.
Precariedade e envelhecimento
No que toca às condições de trabalho, o cenário não é melhor: cerca de 80% dos professores portugueses com idades inferiores a 35 anos têm contratos a termo certo. Portugal está na cauda da Europa: estes profissionais mais jovens reduzem-se a apenas 3,4% do total de professores no país quando a média europeia é de 19,2%.
O relatório revela uma realidade já antiga em Portugal, partilhada com o resto da Europa: uma classe profissional envelhecida. A Estónia é o país com professores mais velhos (54,5% do total), seguida pela Grécia, Lituânia, Itália e Letónia, países onde pelo menos metade dos educadores tem mais de 50 anos. Portugal aparece no oitavo lugar da tabela: entre 40% a 50% dos professores portugueses do 3.º ciclo vão-se aposentar nos próximos 15 anos.
Quanto às condições salariais, aspecto importante para a satisfação laboral, o descontentamento é geral. Na média da União Europeia, apenas 37,8% dos professores consideram o vencimento satisfatório ou muito satisfatório. Portugal situa-se, mais uma vez, abaixo da média, assim como a Islândia. Por cá, menos de um em cada dez professores diz estar satisfeito com o salário que recebe.
O relatório alerta que em Portugal o salário dos professores aumentou “muito pouco” ao longo dos últimos dez anos, desde a crise económica de 2009. Já na Bélgica e na Áustria, 70% dos profissionais da educação dizem-se satisfeitos com a sua remuneração.