Morreu George Segal, que foi de Quem Tem Medo de Virginia Woolf? às sitcoms

O actor, que tinha 87 anos, começou como intérprete dramático para acabar por consolidar-se como rosto da comédia. Em sete décadas de carreira, trabalhou com Paul Mazursky, Carl Reiner, Mike Nichols, Sidney Lumet ou Robert Altman.

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George Segal NINA PROMMER/EPA

O actor George Segal, rosto conhecido das sitcoms norte-americanas, intérprete dramático nos anos 1960 e protagonista de comédias nos anos 1970, morreu na terça-feira em Santa Rosa, na Califórnia. Tinha 87 anos. A sua morte foi confirmada pela sua mulher, Sonia, que indicou que Segal não resistiu a complicações após uma cirurgia de bypass coronário.

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O actor George Segal, rosto conhecido das sitcoms norte-americanas, intérprete dramático nos anos 1960 e protagonista de comédias nos anos 1970, morreu na terça-feira em Santa Rosa, na Califórnia. Tinha 87 anos. A sua morte foi confirmada pela sua mulher, Sonia, que indicou que Segal não resistiu a complicações após uma cirurgia de bypass coronário.

A carreira de George Segal começou precisamente na televisão, primeiro em telefilmes e depois em algumas séries. E seria nelas que terminaria, com um papel regular como avô e patriarca da família Goldberg na sitcom homónima que está no ar desde 2013 (em Portugal é transmitida no canal Fox Comedy), precedido por participações em Entourage – A Vedeta (2009) ou Ai Que Vida! (Just Shoot Me!, 1997-2003). A equipa de Os Goldberg manifestou já o seu pesar pela morte do actor, “gentil e doce além de talentoso e cómico”: George era a epítome de classe”, “um verdadeiro tesouro nacional”, lembraram. “Uma lenda”, sublinhou o produtor e autor da série, Adam F. Goldberg.

Os papéis mais recentes de George Segal apoiaram-se no reconhecimento do seu valor cómico depois de, como assinala o New York Times em obituário, ter estado à beira de se tornar uma estrela de primeira linha no início da sua carreira em Hollywood – na altura, com papéis dramáticos. O jovem tocador de trombone e banjo nascido em Great Neck, no estado de Nova Iorque, em 1934, teve na aprovação de Elizabeth Taylor a luz verde para o fulgor da sua carreira nas décadas de 1960 e 70. Mas foi uma segunda escolha.

O píncaro do seu reconhecimento foi a nomeação para o Óscar de Melhor Actor Secundário por Quem Tem Medo de Virginia Woolf? (1966). Era um elenco de estrelas num filme que se tornaria histórico: Mike Nichols realizou e Elizabeth Taylor, Richard Burton, Segal e Sandy Dennis interpretavam a adaptação da peça de Edward Albee. Segal foi escolhido depois de a primeira escolha de Liz Taylor ter recusado o papel.

O “não” de Robert Redford abriu a porta ao actor que estava mais perto de ser “o jovem deus que precisava de ser para Elizabeth, e suficientemente espirituoso e engraçado para lidar com toda a humilhação”, como recorda o realizador nas suas memórias, citado pela agência Associated Press. “Com George, o que temos é masculinidade e sensibilidade. A sua qualidade paradoxal – meio duro, meio doce e o cérebro para o controlar –​ dá-lhe um elemento de surpresa seja no que for que faça”, escreveu Mike Nichols em 1965, citado pelo New York Times.

George Segal foi então o jovem professor de biologia que alimenta parte da noite de guerra do casal interpretado por Taylor e Burton. Todos foram nomeados pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood. Segal não recebeu a estatueta nem voltou a ser reconhecido pelos Óscares (o vencedor foi Walter Matthau, com Como Ganhar um Milhão). Taylor e Dennis foram distinguidas com os seus Óscares.

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Segal em 2017, quando recebeu a sua estrela no Passeio da Fama em Hollywood (Los Angeles) EPA/NINA PROMMER

A década de 1960 foi precisamente a década dramática de George Segal, que participou em westerns (Convite a Um Pistoleiro​, de 1964, com Yul Brynner), filmes de guerra (A Nave dos Loucos, de Stanley Kramer e com Vivien Leigh, de 1965, ou Rei de um Inferno, de 1965), comédias sensuais (Uma Ingénua Muito Especial, de 1968, ou O Mocho e a Gatinha, de 1970) ou capers (O Grande Golpe, 1972), bem como em thrillers de ficção científica (O Homem Terminal, 1970).

Foram anos de intenso trabalho, e de colaboração com algumas das mais emblemáticas actrizes do cinema, de Eva Marie Saint (Traições, 1970) a Jane Fonda (Adivinha Quem Vem Para Roubar, 1977), bem como Barbra Streisand (O Mocho e a Gatinha), Jacqueline Bisset (Alguém Anda a Matar os Grandes Chefes da Europa, 1978) ou Natalie Wood (Os Bem Casados, 1980).

Um Toque de Classe, de 1973, a comédia romântica em que contracenou com Glenda Jackson, é um dos seus filmes mais acarinhados. No ano seguinte, Brincando com a Sorte, de 1974, destaca-se como outro dos seus pontos altos. Dirigido por Robert Altman, é um jogador compulsivo inveterado.

Depois, abateram-se sobre ele os anos, o tempo dos blockbusters e uma Hollywood mudada. “Fiquei um pouco mais velho. Comecei a interpretar pais citadinos. E esse tipo de repente era [o actor] Chevy Chase, e depois disso não tinha para onde ir”, disse em 1988 numa entrevista citada pela Associated Press. O seu concorrente era escolhido para tudo o que podia servir-lhe e a sua carreira foi por outros caminhos.

Nos anos 1980, esteve em dois filmes da popular série Olha Quem Fala! e em vários telefilmes; nos anos 1990 começou a instalar-se nas comédias de situação, além de estar em filmes como O Melga (1996). Nos últimos anos, participou no blockbuster 2012, além de Os Goldberg.