Observado campo magnético perto de buraco negro “famoso”
Investigação teve particiação de cientista português.
Três estudos divulgados esta quarta-feira, num dos quais participa o astrónomo português Hugo Messias, revelam a assinatura de um campo magnético perto do buraco negro que em 2019 se tornou conhecido pela primeira imagem exibida desse tipo de corpo celeste.
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Três estudos divulgados esta quarta-feira, num dos quais participa o astrónomo português Hugo Messias, revelam a assinatura de um campo magnético perto do buraco negro que em 2019 se tornou conhecido pela primeira imagem exibida desse tipo de corpo celeste.
O buraco negro está no centro da galáxia M87, situada a 55 milhões de anos-luz da Terra, e a sua imagem, divulgada em a 10 de Abril de 2019, foi a primeira que se obteve de um buraco negro, no caso a sua sombra envolta por um anel de plasma radiante (um buraco negro é, em si, um corpo do Universo completamente escuro do qual nada escapa, nem mesmo a luz).
É a primeira vez que astrónomos conseguem medir a assinatura de um campo magnético “tão perto da borda de um buraco negro”, salienta em comunicado o Observatório Europeu do Sul (ESO), organização astronómica da qual Portugal faz parte e que é parceira no radiotelescópio ALMA, com o qual trabalha Hugo Messias, colaborador do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço.
Partindo das observações que permitiram obter a imagem que correu o mundo em 2019, os cientistas caracterizaram a natureza da luz recebida da zona brilhante em redor do buraco negro e os resultados revelam, de acordo com Hugo Messias, que o plasma radiante “está envolto num campo magnético forte o suficiente” para travar a matéria antes de ser sugada pelo buraco negro, processo que constitui “a base” para a formação de jactos de partículas que “se vêem pelo Universo todo”.
“Este campo magnético leva as partículas para os pólos [do buraco negro], de onde depois são ejectadas sob a forma de jacto. Este pode-se ver a grandes escalas a sair da galáxia”, esclareceu à Lusa o investigador, assinalando que o buraco negro da galáxia M87 “come” por ano matéria equivalente a entre 100 e 700 planetas Terra.
O ESO precisa, no comunicado, que a maioria da matéria que se encontra perto das extremidades do buraco negro cai para dentro dele, mas “algumas das partículas circundantes escapam momentos antes de serem capturadas e são lançadas para o espaço sob a forma de jactos”.
“Os jactos brilhantes de energia e matéria que emergem do núcleo da M87 e que se estendem pelo menos ao longo de 5000 anos-luz a partir do seu centro são uma das estruturas mais misteriosas e energéticas da galáxia”, realça o observatório.
Continua a ser uma incógnita como é que jactos maiores do que a galáxia são lançados da sua região central, que tem o tamanho do nosso sistema solar, e como é que a matéria cai no buraco negro, aponta ainda o ESO.
Localizado no Chile, o ALMA faz parte da rede de oito radiotelescópios com que foram recolhidos os dados que permitiram dar a primeira imagem de um buraco negro, no “coração” da galáxia M87, um trabalho que envolveu mais de 300 cientistas, incluindo Hugo Messias. Um dos três estudos hoje divulgados pelo ESO tem o seu cunho e será publicado na revista The Astrophysical Journal Letters.