Em Istambul, os cães vadios são protagonistas de um documentário

Zeytin, Nazar e Kartal são três cães vadios que fazem das ruas de Istambul a sua própria casa. A forma como são acarinhados pela população transformou-os em protagonistas de Stray, o novo documentário da realizadora Elizabeth Lo.

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ARTEM MALTSEV/Unsplash

Zeytin gosta de andar pelas ruas de Istambul à noite, Nazar faz facilmente amizade com estranhos e Kartal vive numa zona de construção na agitada cidade turca.

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Zeytin gosta de andar pelas ruas de Istambul à noite, Nazar faz facilmente amizade com estranhos e Kartal vive numa zona de construção na agitada cidade turca.

O trio é o foco do novo documentário Stray, que retrata a vida quotidiana em Istambul através dos olhos de três cães que percorrem as ruas da cidade, à procura de comida, deambulando ao longo do Bósforo e tropeçando numa marcha pelos direitos das mulheres.

Inspirada no luto pela perda do seu animal de estimação de infância, a realizadora Elizabeth Lo, nascida em Hong Kong, disse que queria fazer um filme sobre cães e ficou fascinada ao saber da existência de uma lei de 2004, na Turquia, que protege os animais vadios e exige que recebam um bom tratamento.

“Lembro-me que quando fui a Istambul e vi a forma como os cães viviam, parecia que estavam a ser tratados comunitariamente e que podiam ter estas amizades transitórias com todas as pessoas que os rodeavam, fiquei realmente surpreendida”, revelou à Reuters. “Eu queria documentar e capturar isso para que o resto do mundo o pudesse ver, de forma a fazer-nos reflectir e reconsiderar as relações que temos com outras espécies e, em particular, com os cães.

Lo encontrou Zeytin, a estrela do filme, num túnel quando a viu correr atrás de um grupo de jovens refugiados sírios, que se destacam no documentário devido à sua relação com os animais.

“Essas foram as coisas que me emocionaram muito... Pareceu-me uma reflexão real do instinto primitivo que temos em relação aos cães e ao facto de precisarmos uns dos outros para sobreviver nos nossos tempos mais difíceis”, afirmou.

Lo usou um colete especial para apoiar a câmara enquanto seguia os cães, que corriam ou por vezes deitavam-se ao lado de estranhos, como se estivessem a escutar as conversas. “Conversas sobre amor e mulheres, coisas que me atraem pessoalmente, mas foi também o que Zeytin acabou por escutar, por acaso”, disse.

Questionada sobre o que tinha aprendido na criação do documentário, filmado entre 2017 e 2019, Lo disse: “Presumi que as cidades com grande número de animais vadios eram desumanas ou não cuidavam dos animais, mas descobri que, na realidade, é exactamente o oposto.”

“São as cidades onde não existem quaisquer animais vadios que estão, de facto, a trair os cães e os gatos. Isso significa que as pessoas estão a abandoná-los.”