Bangladesh: incêndio em campo de refugiados fez pelo menos 15 mortos e deixou 400 pessoas desaparecidas

Organizações humanitárias pedem uma “devida investigação” ao terceiro incêndio em quatro dias em Cox’s Bazar. Mais de 50 mil pessoas ficaram desalojadas.

Fotogaleria

O incêndio que deflagrou no campo de refugiados de Balukhali no Bangladesh, na segunda-feira, fez pelo menos 15 mortos, 560 feridos e ainda há 400 pessoas desaparecidas, de acordo com os números divulgados pela Agência das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR).

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

O incêndio que deflagrou no campo de refugiados de Balukhali no Bangladesh, na segunda-feira, fez pelo menos 15 mortos, 560 feridos e ainda há 400 pessoas desaparecidas, de acordo com os números divulgados pela Agência das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR).

“O fogo estava sob controlo seis horas depois [por volta das 21h30 na hora local], mas em algumas zonas do campo ainda se avistava fumo durante toda a noite”, disse à Reuters um refugiado rohingya do campo de ​Balukhali, em Cox's Bazar​.

“Foi-se tudo, milhares ficaram sem casa”, sublinhou. Mais de 17 mil tendas foram devastadas pelo fogo, levando a que cerca de 50 mil refugiados ficassem desalojados, segundo os dados de organizações humanitárias, que agora vivem com membros da família e amigos ou nos locais de “transição” criados pela ACNUR.

As causas do incêndio ainda estão por apurar, disse a polícia local à Reuters. Sabe-se que o fogo se espalhou por quatro zonas do campo à medida que era alimentado pelas tendas de bambu e lona e pelos cilindros de gás de cozinha que encontravam pelo caminho.

“É massivo, é devastador”, afirmou esta terça-feira Johannes van der Klaauw, da ACNUR, numa conferência de imprensa, citado pela Al Jazeera, referindo-se à situação que se vive agora no campo.

As organizações humanitárias alertam agora para o agravamento das consequências do incêndio, tendo em conta as 400 pessoas que ainda estão por encontrar e os mais de 500 feridos que têm de ser sujeitos a cuidados médicos.

Cerca de mil membros do Movimento Internacional da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho, voluntários e equipas de bombeiros ajudaram no combate ao incêndio.

“Estou em Cox's Bazar há três anos e meio e nunca tinha visto um incêndio assim”, disse Sanjeev Kaflev, o director do Movimento Internacional da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho no Bangladesh. “Estas pessoas já foram transferidas por duas vezes. Para muitos, já não resta nada”.

O campo de Balukhali, um dos 34 campos existentes no distrito de Cox's Bazar, inclui cerca de 124 mil refugiados, pouco acima de um décimo do total de refugiados rohingya que estão espalhados por vários campos na região.

Arame foi obstáculo  

A Refugees International, uma organização humanitária independente, censurou o arame farpado que é utilizado para cercar os campos de refugiados, referindo, em comunicado, que “várias crianças continuam desaparecidas e algumas não conseguiram fugir devido ao arame farpado erguido nos campos”.

Também John Quinley, da Fortify Roghts, uma organização que trabalha directamente com a minoria bengali rohingya, oriunda da actual Birmânia, reconhece que o uso de arame farpado é um obstáculo aos serviços de ajuda humanitária. Afirma que “o Governo deve remover as vedações e proteger os refugiados”, citado pela Reuters.

O fogo de segunda-feira é já o terceiro no espaço de quatro dias. Na sexta-feira, dois outros incêndios deflagraram em zonas separadas dos campos de Cox's Bazar, causando a destruição de várias tendas, e cujas causas também ainda estão por divulgar.

A regularidade da ocorrência dos incêndios tem levantado suspeitas, entre as organizações, sobre uma possível ligação entre os casos, potencialmente criminosa.

“Tem havido uma série de grandes incêndios nos campos, incluindo um grande incêndio em Janeiro deste ano. As autoridades têm de fazer uma devida investigação sobre a causa dos incêndios”, segundo Quinley.

Texto editado por António Saraiva Lima