Variante do Reino Unido já representará mais de 70% dos casos em Portugal
Investigador do Insa indicou na reunião no Infarmed que daqui a algumas semanas esta variante pode vir a representar 90% dos casos de covid-19 no país.
Qual a situação em Portugal das variantes genéticas do SARS-CoV-2 que mais nos preocupam? A variante inicialmente identificada no Reino Unido já representará mais de 70% dos casos em Portugal e em algumas semanas pode estar acima dos 90%, informou João Paulo Gomes, investigador do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (Insa) na reunião no Infarmed desta terça-feira. Na actualização que fez da vigilância de variantes genéticas do SARS-CoV-2 em Portugal, também referiu que, até à data, foram identificados 24 casos da variante primeiramente detectada na África do Sul e 16 da variante associada a Manaus, no Brasil. Quanto a estas duas, reforçou a importância do controlo de fronteiras para que se evitem mais introduções e a sua maior disseminação.
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Qual a situação em Portugal das variantes genéticas do SARS-CoV-2 que mais nos preocupam? A variante inicialmente identificada no Reino Unido já representará mais de 70% dos casos em Portugal e em algumas semanas pode estar acima dos 90%, informou João Paulo Gomes, investigador do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (Insa) na reunião no Infarmed desta terça-feira. Na actualização que fez da vigilância de variantes genéticas do SARS-CoV-2 em Portugal, também referiu que, até à data, foram identificados 24 casos da variante primeiramente detectada na África do Sul e 16 da variante associada a Manaus, no Brasil. Quanto a estas duas, reforçou a importância do controlo de fronteiras para que se evitem mais introduções e a sua maior disseminação.
Vejamos mais ao pormenor a situação da variante do Reino Unido. Em Inglaterra, quase 100% dos casos de covid-19 já são causados por esta variante. “O mesmo deverá acontecer com o resto dos países. Será uma questão de tempo”, afirmou João Paulo Gomes. Na Dinamarca sabe-se que esse valor já vai nos 90% ou que na Suíça, Áustria, Alemanha e Portugal o crescimento tem sido “acelerado”. Estes países têm todos valores acima dos 50% e 60%. “Não é de estranhar se daqui a algumas semanas todos estes países estiverem acima dos 90% dos casos de covid-19 causados pela variante do Reino Unido.”
Concretamente em Portugal, através dos dados fornecidos pelo laboratório privado de análises clínicas Unilabs, a prevalência da variante no país está em cerca de 70% (mais concretamente 70,3%). Estes dados pertencem à semana 11 de 2021, que terminou no último domingo. A monitorização dessa prevalência está relacionada com a falha da detecção de um dos alvos do vírus em testes de diagnóstico. Quanto à estimativa de 70%, o investigador salientou que deve estar “um pouco por baixo”, porque as primeiras estimativas dos dados de sequenciação genómica que se obtiveram apontam para que esta variante já represente mais de 80% dos casos de covid-19 no país.
Relativamente à variante da África do Sul, até agora, foram identificados 24 casos em Portugal, o que se pode considerar “modesto” em comparação aos casos noutros países, referiu João Paulo Gomes. Na Bélgica foram detectados cerca de 300 casos, no Reino Unido mais de 250, e em França e na Áustria mais de 150. Uma das preocupações quanto a esta variante é o facto de ter algumas mutações associadas à falha de ligação dos anticorpos.
Sobre os casos desta variante em Portugal, o investigador deixou também uma mensagem: “Não podemos ficar descansados com isto.” Por isso, realçou a importância de “um eficaz controlo de fronteiras”, com o controlo de voos e historial de viagem, ao saber-se a origem dos passageiros que chegam ao país. “Estamos a desconfinar e os outros países estão a desconfinar também.”
Afinal, na própria África do Sul, esta variante já está muito disseminada, mas também está noutros países africanos como Moçambique, e está já presente ao nível da transmissão comunitária nalguns países da Europa com um forte historial de voos com Portugal. “A situação epidemiológica de Portugal depende fortemente da situação epidemiológica que se for verificando nos outros países”, referiu. “Não queremos que [esta variante] tenha mais introduções [no nosso país].”
Também já se identificaram 16 casos da variante associada a Manaus em Portugal. “Estamos na média dos outros países, mas distantes da Itália, que tem 160 casos identificados já”, disse, frisando também a continuação do controlo dos voos que chegam ao país para que se evite mais entradas e disseminação desta variante.
Questões e soluções
Foi ainda mostrado o cenário da capacidade de sequenciação genómica de Portugal relativamente a outros países. Dos cerca de 50 países que têm algum tipo de vigilância genómica, Portugal está em 12.º ao nível do número de genomas sequenciados – já foram sequenciados 4332 genomas do vírus. Quanto ao número de genomas sequenciados por 100 mil habitantes (43), Portugal está à frente de França, Alemanha e Espanha. “Portugal está perfeitamente enquadrado nos países que melhor vigilância [genómica] fazem”, afirmou João Paulo Gomes, também coordenador do estudo sobre diversidade genética do SARS-CoV-2 no país. Para se ter uma noção da sequenciação em relação ao número de casos de covid-19, o investigador mostrou que em Março (cuja vigilância se está a focar em duas semanas) já se conseguiu atingir 13 e 17% da sequenciação de todos os casos de covid-19 em Portugal, sendo que o recomendado pela Comissão Europeia é entre 5 e 10%.
Foram apresentadas ainda algumas questões sobre esta temática, nomeadamente qual será a consequência da diminuição do número de testes de RT-PCR – que são os únicos que permitem a sequenciação do vírus através das suas amostras – devido à testagem em massa com testes rápidos. João Paulo Gomes referiu que a solução seria o aumento da amostragem através do alargamento da rede laboratorial para selecção de amostras positivas por RT-PCR para sequenciação com os laboratórios da academia e da rede privada, bem como a possível retestagem por RT-PCR dos testes rápidos positivos.
Outra questão é como se pode manter a taxa de sequenciação recomendada. Para isso, o investigador indicou o aumento da capacidade no Insa e do alargamento do consórcio de sequenciação. Além do Insa e do Instituto Gulbenkian de Ciência, fazem também já parte do consórcio a Universidade de Aveiro, o Instituto de Inovação e Investigação em Saúde da Universidade do Porto e o Instituto de Biossistemas e Ciências Integrativas da Universidade de Lisboa.
Quanto à forma como se pode melhorar a vigilância contínua das variantes, a solução seria fazer um pré-rastreio paralelo à sequenciação para se identificar os casos suspeitos de variantes do Reino Unido, África do Sul e Manaus. O investigador apontou assim a implementação na rede laboratorial nacional de um sistema de testagem dos positivos com sondas genéticas que identifiquem mutações específicas dessas variantes. Os casos suspeitos seriam depois enviados para o Insa e seria aí feita a confirmação por sequenciação genómica.