Investigadores da UP criam t-shirt que produz energia e é “uma bateria ao mesmo tempo”
André, Clara, Rui e Ana são investigadores da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto e desenvolveram um dispositivo capaz de produzir e armazenar energia em têxteis e plásticos.
E se uma simples t-shirt fosse um “painel fotovoltaico e uma bateria ao mesmo tempo”? Impensável? Não para um grupo de investigadores da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP). Depois de um casaco que aquece através de energia solar, calças à prova de hackers ou roupa feita com leite estragado, o mundo dos têxteis inteligentes voltou a surpreender e criou uma t-shirt capaz de produzir e armazenar energia. Como? Através da diferença de temperatura entre o corpo humano e o exterior. “A ideia é conseguirmos colocar neste tipo de t-shirts alternativas com baterias que são bastante incómodas, têm peso, massa, essas coisas todas. Nós aqui estamos a fazer processos que podem ser aplicados para esse tipo de tecnologias”, começa por explicar ao P3, André Pereira, um dos investigadores do projecto.
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E se uma simples t-shirt fosse um “painel fotovoltaico e uma bateria ao mesmo tempo”? Impensável? Não para um grupo de investigadores da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP). Depois de um casaco que aquece através de energia solar, calças à prova de hackers ou roupa feita com leite estragado, o mundo dos têxteis inteligentes voltou a surpreender e criou uma t-shirt capaz de produzir e armazenar energia. Como? Através da diferença de temperatura entre o corpo humano e o exterior. “A ideia é conseguirmos colocar neste tipo de t-shirts alternativas com baterias que são bastante incómodas, têm peso, massa, essas coisas todas. Nós aqui estamos a fazer processos que podem ser aplicados para esse tipo de tecnologias”, começa por explicar ao P3, André Pereira, um dos investigadores do projecto.
No Inverno, a parte interna está mais quente e no Verão acontece o oposto. Desde fatos de esqui a roupa de praia, o polímero vai sempre produzir energia, mas fica desde já o aviso: não funciona para carregar telemóveis ou qualquer outro equipamento com elevados níveis de energia.
Por outro lado, a possibilidade de monitorização dos sinais vitais através dos sensores integrados na própria t-shirt revela-se uma ideia útil para pacientes, atletas e militares. Medir o ritmo cardíaco, a frequência respiratória, o movimento ou controlar a performance são alguns dos exemplos.
Reproduzir o efeito Soret (um fenómeno que acontece quando existe transferência de energia entre dois materiais) remonta ao século XIX, mas, neste caso, a forma como foi conseguido aumenta o grau de inovação. O grupo de investigadores dos departamentos de Química e Bioquímica e Física e Astronomia está a trabalhar com o Centro Tecnológico das Indústrias Têxtil e do Vestuário de Portugal (Citeve) com o objectivo de “escalar e levar à indústria”. Porém, é a utilização de um sólido gel que coloca a concorrência de lado: este replica o efeito tanto nas t-shirts como em qualquer outra peça de roupa e, inclusive, em plásticos flexíveis. “A ideia é, em vez de fazermos a impressão directamente no têxtil, podermos imprimir em plástico.”
O sólido gel não é transparente, o que pressupõe que a tonalidade das camisolas esteja limitada à cor dos materiais. Ainda assim, a equipa desvaloriza esta possível desvantagem, alertando para a possibilidade de camuflar o dispositivo. “Isto pode ser usado não só na parte externa da t-shirt, mas também na parte interna; nesse caso, conseguimos manter a cor do próprio vestuário sem a cor da nossa tecnologia comprometer o artigo final”, explica a investigadora Clara Pereira.
A possibilidade de utilizarem tecidos estampados ou com apliques, bem como replicar os mais variados desenhos com o dispositivo, aumenta a oferta. “No outro dia lembrei-me que podia fazer o símbolo da fénix. Por exemplo, utilizar um dos símbolos desse design para fazer um dispositivo. Terá de ser sempre uma coisa desse género, mas tentamos sempre fazer designs agradáveis à vista”, esclarece o investigador.
A tecnologia, garantem, pode ser incorporada em quase todos os materiais e peças de vestuário, e, inclusive, já abriu caminho a uma patente no âmbito europeu. Os dois investigadores têm resposta para todas as dúvidas, excepto para uma: qual é a frequência de lavagens?
“Nós estamos a fazer testes de lavagem, mas neste tipo de tecnologia até vimos algumas coisas interessantes e ainda estamos a perceber melhor o que está a acontecer. O que vemos é que muitas vezes pode-se fazer simplesmente um revestimento sobre o nosso dispositivo e esse fica protegido da própria água”, esclarece André.
O protótipo também já aguçou a curiosidade de uma empresa portuguesa da zona Norte cujo nome ainda não pode ser revelado, mas que, estima-se, dentro de três ou quatro anos a colocará à venda. “Estamos a falar com uma empresa têxtil que mostrou interesse exactamente pela patente. Estamos a procurar alguns tipos de investimentos possíveis para fazer promover essa inovação.” O mercado internacional também vai poder beneficiar das t-shirts. “A industria têxtil portuguesa é muito competitiva nestas áreas e em tudo o que tem a ver com têxteis funcionais e técnicos Portugal é dos melhores países do mundo.”
A equipa da qual também fazem parte Rui Costa e Ana Pires encontra-se ainda a realizar testes com materiais que atinjam níveis energéticos mais elevados. “Neste momento, estamos a trabalhar em duas vertentes: tentar escalar esta tecnologia e, uma vez que também somos investigadores, desenvolver novos materiais alternativos com estas propriedades e que tenham outras cores”, revela Clara Pereira, sublinhando que o laboratório já está a desenvolver novos materiais com recurso a métodos amigos do ambiente. O preço, garantem, “será reduzido”.
Texto editado por Ana Maria Henriques