Nova mudança no banco central afunda lira turca para perto de mínimos
Erdogan realizou terceira substituição do governador do banco central em menos de dois anos, aumentando os receios de introdução de uma política que deixe subir a taxa de inflação.
Sem surpresa, depois de no sábado Recep Tayyip Erdogan ter anunciado o despedimento do governador do banco central, a divisa turca registou nesta segunda-feira uma queda a pique, aproximando o seu valor face ao dólar do mínimo histórico.
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Sem surpresa, depois de no sábado Recep Tayyip Erdogan ter anunciado o despedimento do governador do banco central, a divisa turca registou nesta segunda-feira uma queda a pique, aproximando o seu valor face ao dólar do mínimo histórico.
De acordo com os dados publicados pela agência Reuters, a lira turca chegou a registar, durante a manhã desta segunda-feira, uma quebra de 15%, passando um dólar a valer 8,485 liras, quando na sexta-feira a divisa norte-americana não valia mais do que 7,22 liras.
A divisa da Turquia aproxima-se assim do seu mínimo histórico de 8,58 liras por cada dólar, que se tinha registado em Novembro pouco antes de o governador do banco central agora despedido ter sido nomeado para o cargo.
No sábado, o Presidente turco, Tayyip Erdogan, anunciou a substituição de Naci Agbal, por Sahap Kavcioglu, na liderança do banco central. Uma mudança que aponta para uma alteração significativa da política monetária que irá ser seguida no país.
Durante os últimos meses, Naci Agbal, numa tentativa de contrariar a tendência de subida da taxa de inflação, que voltou a ultrapassar os 15%, optou por subir as taxas de juro de referência do banco central, passando-as, durante os cinco meses do seu mandato, de 10% para 19%.
Este tipo de política, que tem também como consequência de curto prazo uma travagem da actividade económica, vinha sendo cada vez mais alvo de críticas por parte do Governo. No sábado, poucos dias depois de mais uma subida de dois pontos percentuais nas taxas de juro, o Presidente retirou a confiança ao governador e escolheu para o substituir alguém que dá todas as indicações de pretender aplicar uma política menos restritiva, que limite menos o crescimento.
O problema, temem os mercados, é que se assista ainda a uma maior escalada da taxa de inflação, acompanhada de uma depreciação acentuada da divisa, que tem vindo progressivamente a perder o seu valor ao longo dos últimos anos.
Sahap Kavcioglu, o novo governador, tentou tranquilizar os principais banqueiros da Turquia numa primeira reunião já realizada neste fim-de-semana, garantindo-lhes que se iria assistir a uma continuidade na política monetária e que qualquer descida de taxas de juro apenas ocorreria quando a evolução da taxa de inflação o permitisse. No entanto, o novo líder do banco central, antigo deputado pelo partido de Erdogan, defendeu há pouco mais de um mês, num artigo de opinião, a teoria segundo a qual uma subida das taxas de juro acaba por gerar, de forma indirecta, mais inflação.
Por isso, a expectativa nos mercados, neste momento, é a de aplicação de uma política monetária menos ortodoxa, sendo considerado mais provável que, num cenário de subida de inflação e de depreciação da divisa, a resposta seja, não uma subida de taxas juro, mas a introdução de mecanismos de controlo de capital.
A economia turca tem vivido durante a última década um período quase ininterrupto de instabilidade económica e financeira, com taxas de inflação persistentemente elevadas e mudanças constantes no rumo da política monetária. Desde meados de 2019, esta foi a terceira vez que o Presidente substituiu o governador do banco central.