Da cortiça às borras de café: estes sapatos andam a tornar a indústria do calçado mais “verde”

A Treec, criada por dois irmãos de São João da Madeira, quer transformar a indústria do calçado mundial através da substituição da pele por materiais reciclados e mais sustentáveis, como a cortiça, as borras de café e o plástico reciclado.

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Treec

Desde pequenos que os irmãos Rui e Filipe Silva têm contacto com a indústria do calçado. Nasceram na cidade que é o seu epicentro, São João da Madeira, e rapidamente se envolveram na arte de fazer sapatos. À medida que cresciam, amadurecia com eles uma consciência ambiental, e a vista privilegiada que tinham sobre esta indústria fê-los perceber que as suas políticas sustentáveis eram quase inexistentes. 

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Desde pequenos que os irmãos Rui e Filipe Silva têm contacto com a indústria do calçado. Nasceram na cidade que é o seu epicentro, São João da Madeira, e rapidamente se envolveram na arte de fazer sapatos. À medida que cresciam, amadurecia com eles uma consciência ambiental, e a vista privilegiada que tinham sobre esta indústria fê-los perceber que as suas políticas sustentáveis eram quase inexistentes. 

Para colmatar esta falha, fundaram a Treec, uma marca que quer ajudar a indústria do calçado a tornar-se mais “verde”, através da substituição do seu material predilecto — a pele, “não só nociva à vida, por recorrer a produtos de origem animal, mas também causadora de grande poluição”, afirma Rui ao P3. 

A mudança começou aos poucos, com a substituição da pele pela cortiça, mas já se expandiu para o reaproveitamento de excedentes de borracha, borras de café e plástico reciclado para a concepção das solas dos sapatos. A Treec desenha todos os modelos de calçado que pretende produzir, sempre com a ajuda de alguns parceiros da zona de São João da Madeira, e procura os materiais sustentáveis para serem usados na sua criação, sempre feita em Portugal.

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“Por exemplo, a mistura do [material] reciclado com a borracha é um trabalho feito em conjunto com os fabricantes de solas. Eles aproveitam os excedentes da sua produção para a concepção dos nossos sapatos, em vez de utilizarem material virgem, reduzindo, assim, o impacto no ambiente”, conta o jovem de 28 anos. A maior parte dos modelos podem ser encontrados no site oficial da marca e tendem a custar entre os 80 e os 100 euros para o consumidor final. 

A Treec nasceu há pouco mais de um ano, ainda antes de a pandemia chegar a Portugal, mas os criadores não consideram que tenha surgido numa má altura. Embora reconheça algumas debilidades trazidas pela covid-19, como o impacto no retalho físico, que fez com que a loja pop-up, no Porto, estivesse poucos meses aberta, ou a própria mudança nos hábitos de consumo das pessoas, a pandemia também trouxe algumas vantagens que a sua empresa não se acanhou em aproveitar.

Na opinião de Rui Silva, estamos perante “um ponto de viragem no modo como as pessoas devem aproveitar a vida e como encaram o mundo, que precisa de uma mudança”. “Nota-se cada vez mais uma preocupação com o ambiente, com os materiais que compramos ou a forma como os produtos são feitos, até para termos uma economia mais sustentável. Considero até que foi um excelente timing.

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Para além disso, com a covid-19 a ceifar o trabalho de várias pessoas ou a fazê-las procurar outras formas de rendimento, foram vários os novos negócios criados online em que a empresa se conseguiu inserir. “Nós focámo-nos em venda de retalho, não tanto ao consumidor final, e estamos a conseguir satisfazer essa nova procura de quem tem, por exemplo, uma loja vegan ou de produtos amigos do ambiente.”

E é, talvez, neste ponto que a marca dos dois irmãos se distingue. Acima de tudo, o seu objectivo é impulsionar o reconhecimento do calçado sustentável e Rui Silva afirma não ter medo de “emprestar” o seu conhecimento da indústria a outros para criarem o seu próprio produto ou marca. “Muitas vezes, os nossos produtos são comercializados, não com a nossa marca, mas com a marca do cliente”, explica.

A Treec já marcou a sua presença nos quatro cantos do mundo, com exportações para a Austrália, Bélgica e Holanda, mas é nos EUA que têm encontrado o seu maior mercado. O plano para o futuro é expandir: não só os países em que actuam ou os clientes para quem produzem, mas também encontrarem novos materiais para tornar a indústria do calçado mais “verde”.

Para já, têm os seus olhos postos no algodão orgânico e no rPET (plásticos reaproveitados e convertidos em fibras), mas a ideia é continuar à procura de novas soluções. Até porque “o futuro passa pela diversidade de materiais e por desenvolver novos desenhos para captar uma maior audiência”.

Texto editado por Amanda Ribeiro