União Europeia: é isto uma potência global?
Na campanha das vacinas, a Europa é um gigante com pés de barro. Milhões de europeus olham para o lado de lá do canal e perguntam: o que ganhamos em estar aqui? Esta ferida terrível vai demorar anos a ser curada.
Matt Hancock, ministro da Saúde do Reino Unido, anunciou este domingo que o país vacinou 873.784 pessoas no dia anterior. E com imoderado orgulho nacional acrescentou: “Este gigantesco esforço de equipa mostra o melhor da Grã-Bretanha”. Do lado de cá do canal da Mancha nenhum ministro poderia exibir nem um número dessa grandeza, nem uma declaração de confiança com esse tom. Pelo contrário, a pandemia continua a ser alarmante e a resistência das pessoas está a esgotar-se. No momento mais dramático da sua história recente, a União Europeia falha aos cidadãos. Já falhara na crise da dívida e volta a falhar na crise pandémica.
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Matt Hancock, ministro da Saúde do Reino Unido, anunciou este domingo que o país vacinou 873.784 pessoas no dia anterior. E com imoderado orgulho nacional acrescentou: “Este gigantesco esforço de equipa mostra o melhor da Grã-Bretanha”. Do lado de cá do canal da Mancha nenhum ministro poderia exibir nem um número dessa grandeza, nem uma declaração de confiança com esse tom. Pelo contrário, a pandemia continua a ser alarmante e a resistência das pessoas está a esgotar-se. No momento mais dramático da sua história recente, a União Europeia falha aos cidadãos. Já falhara na crise da dívida e volta a falhar na crise pandémica.
Se há uma ideia capaz de mobilizar os europeus em torno da União é a garantia de que num mundo global disputado por blocos hegemónicos a partilha de soberania é a melhor forma de garantir segurança, estabilidade e protecção. Com a Alemanha ou a França condenadas ao estatuto de potências médias face à Rússia, China ou Estados Unidos, ou até perante os emergentes, a União serviria não apenas para alicerçar a influência colectiva e poder à escala global. Quando o Reino Unido avançou para o “Brexit”, esta ideia foi dita e repetida até à exaustão: fora da UE, dizia-se, Londres seria um pequeno satélite, condenado a gravitar em torno dos grandes blocos.
O desastre das vacinas é perigoso porque pôs em causa essa ideia de que a União nos faz mais fortes e seguros. O que começou bem com um plano centralizado de compras e de distribuição deu lugar a um rotundo fracasso. No plano prévio de compras, a Europa comportou-se como o videirinho sempre à espera de descontos. Na disputa com a AstraZeneca, Bruxelas parece ter a mesma influência e poder que o Azerbaijão. Na comparação internacional, está atrás não apenas do Reino Unido ou dos Estados Unidos, mas de países como o Chile, a Sérvia ou Marrocos.
Estando em causa a vida de pessoas e a garantia de um lugar na linha de partida para a recuperação, a Europa voltou a ser o anão político de sempre. Ursula von der Leyen foi visionária no conceito da vacinação em comum, mas foi um desastre na forma como o executou. Com a batalha cada vez mais perdida, ameaça processos judiciais, bloqueios de exportações e mil e um expedientes para salvar a face. Tarde de mais: na campanha das vacinas, a Europa é um gigante com pés de barro. Milhões de europeus olham para o lado de lá do canal e perguntam: o que ganhamos em estar aqui? Esta ferida terrível vai demorar anos a ser curada.