“O soarismo não tem hoje qualquer utilidade para a nova narrativa”
Soares foi o seu mestre, o único inspirador, o veemente exemplo “do que vale a pena na política”. Fizeram um livro juntos, a diferença geracional só os aproximou. Sérgio Sousa Pinto conserva intacta uma convicção: o país deve a democracia a Mário Soares; e inteira a memória de uma óptima história política: a de Soares, justamente. De quem o dizem o “herdeiro”, mas de quem Sousa Pinto prefere apenas ser o melhor dos discípulos.
O soarismo? Onde é que ele já vai... Mas não devia, segundo Sérgio Sousa Pinto: Mário Soares teve a parte de leão na vitória contra o comunismo em 1974/75, na realização de eleições, na instauração da democracia liberal em que vivemos. Após ganhar as presidenciais, deve-se-lhe a reconciliação entre as duas muito desavindas metades do país e depois, claro, há Mário Soares como o melhor intérprete político do socialismo democrático. Pedir o retrato do soarismo a Sousa Pinto era um risco — é um devoto —, mas preferi corrê-lo: a aposta seria compensada pela sua voz cortante e desconcertante. Foi com ela que também aqui se entregou ao exercício de rever o PS de hoje à luz do soarismo de ontem — na verdade, foi mais libelo do que exercício.