A Bolsa Estrume quer adubar as artes na periferia — e já tem terreno em Vila Nova de Gaia
A Fogo Lento, associação dirigida por Constanza Givone, lançou uma angariação de fundos para criar residências artísticas que servirão de “fertilizante natural” para novas performances. O crowdfunding quer semear um “circuito independente de entreajuda e fertilização do tecido cultural” e termina a 26 de Março.
Aos poucos, com a ajuda de mãos voluntárias e matérias-primas reutilizadas, uma “quinta” em Vila Nova de Gaia prepara-se para receber os primeiros artistas da Bolsa de Criação Estrume. Serão as “sementes” que a Fogo Lento quer depois transformar em “fertilizante para novas bolsas e projectos futuros de outros artistas”, explica Costanza Givone, performer, criadora e directora artística da associação.
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Aos poucos, com a ajuda de mãos voluntárias e matérias-primas reutilizadas, uma “quinta” em Vila Nova de Gaia prepara-se para receber os primeiros artistas da Bolsa de Criação Estrume. Serão as “sementes” que a Fogo Lento quer depois transformar em “fertilizante para novas bolsas e projectos futuros de outros artistas”, explica Costanza Givone, performer, criadora e directora artística da associação.
Para arrancar com este “circuito independente de entreajuda e fertilização do tecido cultural”, a associação lançou uma angariação de fundos. Com um novo objectivo de mil euros, até 26 de Março, o valor recolhido será atribuído a um projecto, escolhido por um júri após uma chamada aberta.
“A ideia é que sejam projectos numa fase muito embrionária, para ajudar nas dificuldades inerentes dos processos iniciais de uma criação, mas também porque aqui não há as condições técnicas para finalizar um espectáculo”, resume a criadora italiana, “quase portuguesa, há mais de dez anos a lutar para ser artista neste país”.
Foi na quinta em Pedroso, numa zona mais rural a 20 minutos de carro do centro do Porto, que a artista construiu grande parte do último espectáculo que apresentou, Exposição. “O material para o cenário foram coisas que encontrei aqui. Eu gosto muito dos sítios nesta fase, porque andas por lá e logo encontras alguma coisa”, caminha, com as ervas ainda pelo joelho, enquanto aponta para um colorido balancé feito com pedaços de madeira re-aproveitada.
A reutilização e recuperação de materiais, mas também de ideias e conceitos artísticos, é outra das bases da bolsa de criação que vai apoiar projectos de artes plásticas e performativas. Isto porque parte dos produtos artísticos desenvolvidos com o apoio da bolsa serão oferecidos “como contrapartida numa nova campanha de angariação de fundos, para a edição seguinte da bolsa de criação”. “E assim sucessivamente”, explica, “apoiando e divulgando o trabalho de artistas que colaboram ciclicamente no impulsionamento de novos/as criadores/as junto da sociedade civil”, lê-se, na proposta da bolsa cooperativa concebida por Constanza Givone e Thamiris Carvalho, bailarina.
As candidaturas vão abrir a 1 de Maio e o projecto vencedor será seleccionado por Nuno Preto, Ana Rocha, Gustavo Ciríaco e pelas duas responsáveis da bolsa.
Até lá, a “quinta”, ainda sem nome, ergue-se, “devagarinho”. A oficina para construção de cenários e peças, com ferramentas e mesas para artes manuais, poderá vir a abrir-se ao público, com workshops. A sala com piso de linóleo com caixa-de-ar já aguarda por bailarinos e o apartamento já está pronto para a primeira residência, programada para durar entre duas a quatro semanas, no Verão, após a proposta vencedora ser apresentada a 21 de Junho. No “campo dos sonhos”, está projectada uma biblioteca e um pavilhão.
O espaço, onde também está sediada a associação Fogo Lento, quase em frente ao Estádio Municipal Jorge Sampaio, foi comprado por dois professores, que querem ali “criar um modelo diferente de ensino”.
Num terreno rodeado de campos de agricultura de subsistência, educadores e artistas planeiam um “lugar onde criação artística, educação e agricultura possam contaminar-se”. “Onde seja possível aquecer para a prática artística de enxada na mão”, ri-se Constanza.