Junta militar birmanesa mantém-se firme e violenta apesar da pressão internacional

A comunidade asiática, que habitualmente não critica as situações políticas dos países vizinhos, condenou a violência e brutalidade sentidas na Birmânia.

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Protesto em Hlaing, na periferia de Rangum, a maior cidade da Birmânia STRINGER/Reuters

Os países asiáticos vizinhos da Birmânia juntaram-se à comunidade internacional para aumentar a pressão sobre a Junta militar que tomou o poder por um golpe de Estado a 1 de Fevereiro, apelando ao fim da violência contra os manifestantes e contra a democracia. Violência que não tem impedido uma parte substancial da população de cotninuar a sair à rua apesar da força letal usada pelos militares.

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Os países asiáticos vizinhos da Birmânia juntaram-se à comunidade internacional para aumentar a pressão sobre a Junta militar que tomou o poder por um golpe de Estado a 1 de Fevereiro, apelando ao fim da violência contra os manifestantes e contra a democracia. Violência que não tem impedido uma parte substancial da população de cotninuar a sair à rua apesar da força letal usada pelos militares.

Mais uma pessoa morreu neste sábado durante um protesto, num dos bairros mais turbulentos de Rangum, segundo avançou um media local. Outras duas pessoas morreram durante a noite, no Norte do país, juntando-se aos 238 mortos desde o golpe, segundo as contagens da Associação de Assistência a Presos Políticos.

Mesmo assim, os protestos da população não diminuíram, antes pelo contrário, a indignação pela acção da Junta contra o Governo democraticamente eleito e a detenção da líder do país, a prémio Nobel Aung San Suu Kyi, que continua em prisão domiciliar, continua forte.

No entanto, alguns activistas admitiram ter mudado de tácticas: “Manifestamo-nos onde não há polícia ou militares, e quando os ouvimos chegar, dispersamo-nos rapidamente”, disse à Reuters o activista Kyaw Min Htike, na cidade do Sul de Dawei, antes de se juntar a outros manifestantes num protesto fora do centro da cidade.

“Não quero perder nenhum dos meus camaradas, mas protestaremos da forma que for possível até que prevaleça a nossa revolução”, continuou.

Alguns grupos reúnem-se durante a noite com velas e cartazes, dispersando-se depois de tirar fotografias. A população também encena protestos sem pessoas, com filas de cartazes com mensagens como “Não vamos parar até que nos devolvam a democracia” instalados nas ruas.

No sábado, dezenas de manifestantes juntaram-se na segunda grande cidade de Mandalay. Alguns ficaram feridos após terem sido atropelados e atacados com balas de borrachas pela Polícia, avançou um portal de notícias da cidade. Mas ainda não é claro por que razão o veículo investiu contra os manifestantes.

Houve também protestos mais pequenos noutras cidades, incluindo Kyaukme e Hsipaw no Nordeste, Kawlin no Norte, Hpa-na e Myawaddy no Este, Labutta junto ao delta do rio Irrawaddy, Myeik no Sul e na cidade central de Yay Oo, de acordo com portais de notícias e imagens partilhadas nas redes sociais.

Centenas marcharam na cidade de Monywa e queimaram uma cópia da Constituição de 2008, revista com supervisão militar, que limita os poderes dos cidadãos eleitos, avançou o portal noticioso de Irrawaddy.

António Guterres, secretário-geral da ONU, condenou na sexta-feira o que apelidou da continuada brutal violência militar. É urgente uma “resposta internacional unida e firme”, disse o porta-voz, em nome de Guterres.

“O mundo tem de reagir através do corte de financiamento e armas. Já”, escreveu no Twitter o relator especial da ONU para a Birmânia, Tom Andrews, exigindo a imposição de sanções em resposta aos ataques “cruéis” contra as pessoas

As autoridades birmanesas apertaram as restrições nos serviços de Internet, tornando a verificação da informação mais difícil e bloquearam o acesso aos media privados.

O Facebook baniu as páginas relacionadas com as directrizes militares por incitarem à violência. Neste sábado, o Twitter afirmou ter suspendido a informação da página do Ministério da Informação birmanês, cumprindo a “política de manipulação e spam da plataforma”. As publicações do ministério têm sido diárias.

Dois jornalistas foram, entretanto, detidos por homens vestidos à civil junto a um tribunal da capital, Naypyidaw, diz a Al-Jazeera. Aung Thura, do serviço em birmanês da BBC, e Than Htike Aung, antigo jornalista do Mizzima News.

Indignação asiática

O golpe militar e a violência exercida têm sido repetidamente condenados pelos países ocidentais. A que se juntam agora também os países asiáticos vizinhos da Birmânia, que não têm por costume criticar assuntos internos de outras nações da área.​

O Presidente indonésio, Joko Widodo, diz que vai pedir ao Brunei, que actualmente exerce a presidência da Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN, na sigla em inglês), para convocar uma reunião urgente.

“A Indonésia apela ao fim imediato do uso da violência para que não haja mais vítimas”, pediu Jokowi numa reunião virtual na sexta-feira.

O primeiro-ministro malaio, Muhyiddin Yassin, afirmou estar horrorizado pelo uso persistente de violência letal contra civis desarmados. “Nós… não podemos ver a nossa nação irmã da Birmânia tornar-se tão instável pelas mãos de alguns, que procuram promover os seus próprios interesses”, disse.

As Filipinas apelaram também a uma resposta da ASEAN, enquanto Singapura se pronunciava contra o golpe militar.

No entanto, a Junta birmanesa não parece disposta a recuar, continuando a defender a sua tomada do poder, que terminou com o lento processo de democratização em vigor há uma década, depois de uma ditadura instalada por outro golpe militar em 1962.

A Junta afirma que as eleições de 8 de Novembro, que deram a vitória esmagadora à Liga Nacional para a Democracia de Suu Kyi, foram fraudulentas e que as suas queixas foram ignoradas pela comissão eleitoral. Prometeu umas novas eleições, mas sem avançar a data.

Suu Kyi, de 75 anos, enfrenta acusações de corrupção e outros crimes que podem bani-la da política se for considerada culpada. Os seus advogados afirmam que as acusações foram forjadas.