O que nos faz felizes? Uma pergunta, um mundo de respostas
O que nos faz feliz hoje? Uma pergunta respondida por uma mão-cheia de personalidades em Dia Internacional da Felicidade.
Abraços, família e amigos, liberdade, bem-estar próprio e colectivo… No dia em que o mundo celebra o direito à felicidade, juntamos respostas rápidas de professores, médicos, investigadores, à eterna demanda filosófica do segredo da eterna felicidade. Ser feliz é…
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Abraços, família e amigos, liberdade, bem-estar próprio e colectivo… No dia em que o mundo celebra o direito à felicidade, juntamos respostas rápidas de professores, médicos, investigadores, à eterna demanda filosófica do segredo da eterna felicidade. Ser feliz é…
A felicidade só pode ser atingida por quem revela uma postura virtuosa e justa perante a vida!
Com este ditame, Sócrates, que viveu uns 500 anos antes de Cristo, resumia muito do que por aí viria em termos de debates filosóficos e teológicos sobre como uma pessoa pode e deve sentir-se feliz, além dessas singelas questões do que é virtude, do que é justiça. Já Aristóteles, que terá nascido uns poucos anos antes de Sócrates ter tido a infelicidade de ser condenado à morte, destacava que a felicidade passava pelo exercício do pensamento, porque só este aproxima o homem do divino.
“Bem visto, mas…”, poderia ter dito o nosso mais próximo Kant uns dois milénios depois. É que este grande crítico, que não dava ponto sem nó, gostava de unir pensamento e intuição e para ele a felicidade dava-se quando “tudo acontece de acordo com o desejo e vontade”.
Uma rapariga que começou a escrever pouco depois do sr. Kant morrer, e a quem os escritos do filósofo não terão sido alheios, responderia a isto, certamente, com “sensibilidade e bom senso”. A Jane Austen, que marcou a ferro e amor muitos desejos de felicidade de leitoras (até hoje), na senda pela união perfeita, vamos porém, só porque nos faz mais felizes, buscar uma citação sobre aquele que é um potencial pilar, para muitos, da Felicidade. Cá está: “O dinheiro só pode trazer felicidade quando não há mais sítio nenhum para a ir buscar”. Era, está visto, uma senhora com “predisposição para a felicidade”. Uma romântica realista? Quiçá.
Já o seu contemporâneo e conterrâneo John Keats era um “pouquinho” menos predisposto para tal. Não só o poeta romântico, que a tuberculose separou da amada e acabou por matar, não acreditava em qualquer “felicidade mundial”, como, escrevia numa carta, mal se lembrava de “contar com qualquer felicidade...para além da do momento”.
Teria o aplauso, decerto, do seu “fã” Fernando Pessoa, que, por outro lado, com a pena de Bernardo Soares no Livro do Desassossego, desabafava: “Irrita-me a felicidade de todos estes homens que não sabem que são infelizes.”
Qualquer leitor de Pessoa é bem capaz de fazer um sorrisinho perante tal desabafo, quase ao mesmo tempo que no espelho se vê triste perante tal agrura deste infelizes os pobres de espírito... Não sabemos qual seria a reacção do filósofo, e especialista em matéria pessoana, Eduardo Lourenço. Mas sabemos o que o podia fazer feliz, porque no ano de 2000 chegou a descrever-se ao PÚBLICO como “um homem que associa a sua felicidade à beleza do mundo, dos pássaros e dos lírios dos campos”.
Virtude e justiça, pensamento e divino, sabedoria e ignorância, amor e eternidade, centelha momentânea, beleza e natureza. Ser feliz é… uma coisa tão simples que pode bem ser uma das coisas mais complicadas do mundo, para mais tão individual quanto ao mesmo tempo tão dependente do colectivo. “Tristeza não tem fim, felicidade sim”, já garantiam Antônio Carlos Jobim e Vinicius De Moraes.
Neste Dia Internacional da Felicidade, também primeiro dia da Primavera, pedimos ainda ajuda a professores, médicos, investigadores para nos ajudarem com esta busca da felicidade. Perguntas “simples”: o que é a felicidade e o que o/a faz feliz?
Helena Águeda Marujo, professora e cátedra da UNESCO para a Paz Global Sustentável
Hoje felicidade é o vinculo forte e bom com os outros — com os mais próximos afectivamente, mas também com os mais distantes —; é servir o bem comum ao mesmo tempo que me cuido e me elevo como ser humano; é ter recursos para transcender o mais doloroso da vida; e é pôr as mãos activamente no futuro que mais perto nos levará à equidade, à justiça, à sustentabilidade e ao bem-estar colectivo.
Carlos Neto, 70 anos, professor e investigador
A minha felicidade, hoje, passaria por liberdade, porque estamos prisioneiros; por autonomia, porque estamos limitados na nossa acção; e por fraternidade, porque a pandemia ensinou-nos que devemos ser mais solidários com os outros. Em suma, que a nossa caminhada evolutiva passe por aqueles três estados de alma, ou de existência, transversais a todas as idades: desde a criança até ao idoso.
Alexandra Vasconcelos, 56 anos, nutricionista
Ter o coração cheio de amor, paz e gratidão, que nos permite viver felizes e alinhados com nós próprios e com o mundo.
Júlio Machado Vaz, 71 anos, médico psiquiatra
É simples – nunca acreditei na felicidade, apenas em momentos felizes. Agora espero por um: ter a tribo reunida: primeiro num longo abraço, depois num longo almoço risonho.
Maria Palha, 39 anos, psicóloga clínica
Felicidade, hoje, é poder abraçar os meus amigos.
Ana Milhazes, 36 anos, fundadora da plataforma Lixo Zero
Felicidade é sentir-me plena e viver de acordo com aquilo em que acredito.