Forças de segurança vão ter oficial de direitos humanos para controlar discriminação
Plano de Prevenção de Manifestações de Discriminação nas Forças e Serviços de Segurança, criado pela Inspecção-Geral da Administração Interna, apresentado esta sexta-feira. Recrutamento de polícias terá avaliação com critérios que despistem candidatos com traços que colidem com defesa de direitos humanos. Polícias devem ter metas de feminização em cada concurso.
Todas as forças de segurança — Guarda Nacional Republicana (GNR), Polícia de Segurança Pública (PSP) e Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) — vão ter um oficial de Direitos Humanos que irá acompanhar na sua entidade a monitorização do Plano de Prevenção de Manifestações de Discriminação nas Forças e Serviços de Segurança, criado pela Inspecção-Geral da Administração Interna (IGAI) e apresentado esta sexta-feira numa cerimónia com o Ministro da Administração Interna (MAI). O plano já foi aprovado e está, assim, em vigor.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Todas as forças de segurança — Guarda Nacional Republicana (GNR), Polícia de Segurança Pública (PSP) e Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) — vão ter um oficial de Direitos Humanos que irá acompanhar na sua entidade a monitorização do Plano de Prevenção de Manifestações de Discriminação nas Forças e Serviços de Segurança, criado pela Inspecção-Geral da Administração Interna (IGAI) e apresentado esta sexta-feira numa cerimónia com o Ministro da Administração Interna (MAI). O plano já foi aprovado e está, assim, em vigor.
O objectivo é que este oficial tenha funções distintas de cada uma das forças de Segurança e faça a ponte com a IGAI, a polícia das polícias criada para monotorização dos direitos humanos. Este oficial responderá a um dos objectivos do plano que é “implementar medidas que visam a detecção” e “acompanhamento de situações em que haja manifestação, por parte de elementos das forças de serviço e segurança no exercício de funções, de primeiros sinais de atitudes ou comportamentos” que se distanciam da “defesa dos direitos humanos”.
Além disso, o plano inclui a definição de critérios de avaliação na selecção de candidatos que “despistem atitudes, comportamentos, traços ou características de personalidade” que colidam com esses mesmos valores. Pretende-se ainda que esses critérios sejam aplicados nas fases de formação e de exercício da função. Serão chumbados candidatos com baixos graus de empatia, que tenham uma postura radical e intolerante, portadora de níveis de agressividade desregrados, que não toleram a frustração, que sejam impulsivos e descontrolados — porque dificilmente aceitarão o “respeito pela legalidade e de todos por igual, com compreensão pela situação do outro como se do próprio se tratasse, recorrendo à força na estrita medida do necessário e sempre ponderando os interesses e bens afectados”, justifica-se.
A forma como se vão identificar essas características “são questões para as quais tem de se buscar resposta”, nomeadamente entre quem faz os testes psicológicos e de avaliação, refere o documento.
O plano desenvolvido por um grupo de trabalho identificou cinco áreas de intervenção: recrutamento; formação; interacção dos agentes com os cidadãos, e com outros elementos das forças de segurança, incluindo nas redes sociais; promoção da imagem e mecanismos preventivos e monitorização.
Uma das medidas propostas será o recrutamento activo de uma maior diversidade de candidatos, nomeadamente em relação ao género e origem étnico-racial, em locais e contextos privilegiados para esse efeito. Aliás, a IGAI quer cada uma das forças de segurança estabeleça antes da abertura de concursos uma “definição prévia da meta a atingir nesse recrutamento em termos da taxa de feminização” — esse incremento deve ser, no mínimo de mais 3 pontos percentuais, disse a inspectora-geral da IGAI, Anabela Cabral Fernandes. O objectivo é que as polícias “espelhem a diversidade que a comunidade acolhe”, lê-se no plano.
Foi Anabela Cabral Fernandes quem teve a iniciativa de criar este plano anunciado no ano passado, e na apresentação afirmou um “combate sem tréguas” a todas as formas de discriminação por parte dos agentes das forças de segurança, que devem ser o garante da paz social, sublinhou. Disse que a taxa média europeia de feminização nas forças de segurança é de 17%, sendo muito inferior na PSP, com 8%, e na GNR, com 7%.
Tal como já tinha anunciado, também vai existir uma maior monitorização e controlo das intervenções de agentes das forças de segurança nas redes sociais. “As redes sociais são a praça pública moderna”, disse a inspectora. “Quem exerce funções de garante da paz social e do normal funcionamento do Estado de Direito tem de estar preparado para o fazer em todos os momentos da sua vida. Não podem ser o garante do Estado de Direito para nas redes sociais atentarem contra esses valores que juraram defender. Se o fizerem estarão a colocar em causa a imagem de toda a corporação”, afirmou.
O documento afirma que um dos objectivos das acções de sensibilização para recrutar agentes será contribuir para “afastar os estereótipos relacionados com a actividade policial que a conotam, por exemplo, como uma actividade ‘masculina’, e com funções iminentemente mais ‘musculadas’ e securitárias”. Na área da formação “prevê um reforço do tratamento das matérias relacionadas com o combate à discriminação”, bem como acções de formação.
A IGAI não reconhece que este plano é uma resposta aos vários relatórios do Conselho da Europa que apontam a frequência de violência policial contra cidadãos, sobretudo afrodescendentes e imigrantes, em Portugal. No seu último relatório de Novembro, o Comité Anti-Tortura do Conselho da Europa (CPT na sigla inglesa), colocou a ênfase na questão dos maus tratos infligidos pelas forças de segurança e afirmou que “não foi feito o suficiente para reconhecer e atacar o real e persistente problema dos maus tratos pelas forças de segurança que existe em Portugal.” Esta é, aliás, uma preocupação que vem sido referida nos relatórios anteriores.