Samia Suluhu Hassan: “construtora de consensos” e primeira Presidente mulher da Tanzânia
Hassan contrasta com o estilo de governação do antecessor, John Magufuli, que morreu na quarta-feira. Na Tanzânia há esperança de que haja “muitas mudanças” sob a liderança da “calma e competente” primeira Presidente mulher do país.
A primeira Presidente mulher da Tanzânia, a calma e ponderada Samia Suluhu Hassan, traz consigo uma mudança significativa no estilo de liderança que era adoptada pelo seu antecessor, John Magufuli, um populista impetuoso que chamou a atenção global por ter desvalorizado a ameaça da pandemia de covid-19.
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A primeira Presidente mulher da Tanzânia, a calma e ponderada Samia Suluhu Hassan, traz consigo uma mudança significativa no estilo de liderança que era adoptada pelo seu antecessor, John Magufuli, um populista impetuoso que chamou a atenção global por ter desvalorizado a ameaça da pandemia de covid-19.
Hassan, que tomou posse nesta sexta-feira, na sequência do anúncio da morte de Magufuli, dois dias antes, é considerada uma construtora de consensos, característica que pode jogar a seu favor, nomeadamente para lidar com as várias facções dentro do partido Chama Cha Mapinduzi (CCM) e com as forças de segurança.
“Não falo num tom violento, como outros o fazem”, disse à BBC no ano passado. “Para falar com alguém de forma que me entendam, não é necessário gritar. Posso falar consigo num tom sereno, mas fazendo-me entender”.
Samia Hassan é a também a primeira Presidente tanzaniana nascida no ocasionalmente inquieto e semiautónomo arquipélago de Zanzibar, em vez da região continental africana que domina a Tanzânia desde a união dos dois territórios, em 1964.
Na tomada de posse, Hassan encorajou os tanzanianos a olharem para o futuro com esperança, numa declaração que aparentemente pretendia distanciar-se do ambiente de incerteza causado pelo desaparecimento de Magufuli, 18 dias antes de ter sido anunciada a morte.
Como mulher bem articulada e muçulmana, vinda das ilhas, o seu contraste pessoal com o cristão do interior que fazia digressões, como era o ex-Presidente, foi uma das razões que levou os líderes do CCM a escolherem Hassan como parceira de Magufuli na corrida presidencial de 2015, contou um membro do partido à Reuters.
“Calma e competente”
Elsie Eyazuke, colunista e blogger, residente em Dar es Salaam, diz que Hassan projectou segurança e serenidade durante a tomada de posse.
“Sentimos a sua seriedade e apreciamos a sua inteligência. Olhamos com entusiasmo para a abordagem calma e competente que traz à política. Este momento é muito importante para as mulheres”, disse à Reuters.
“Ela adoptou um tom conciliatório que não foi demasiado suave nem demasiado duro. Acho que trouxe uma certa calma, o que é algo que todos queríamos”, explicou.
Durante os seis anos em que ocupou o cargo de vice-presidente de Magufuli, Hassan pareceu, por vezes, acolher publicamente o estilo pouco ortodoxo e cada vez mais autoritário do líder apelidado de “bulldozer”. Copiou, inclusivamente, o seu hábito de fazer visitas de surpresa a gabinetes governamentais para confirmar que os funcionários públicos estavam a trabalhar.
Mas embora tenha assumido a linha de Magufuli, um político tanzaniano próximo de Hassan afirmou que ela era desconfiada sobre o rumo que o país estava a levar e que se sentia excluída pelo campo político que rodeava o Presidente.
“Tenho a certeza de que serão feitas muitas mudanças sob a sua liderança”, disse o político, que preferiu manter o anonimato.
Enquanto chefe de Estado e do Governo, Hassan terá de combater o impacto da pandemia de covid-19, que o seu antecessor negligenciou, juntamente com as suas consequências económicas.
Terá, ainda, de enfrentar o desafio de aproximar uma população polarizada durante a governação de Magufuli. De acordo com alguns analistas, essa tarefa requererá a construção de uma base política próprio dentro do CCM.
“Ela apresenta-se de forma muito diplomática. Ainda não a vimos gritar com pessoas em público ou despedir pessoas em público. Mas é uma política muito perspicaz”, disse Aikande Kwayu, investigador honorário na Universidade de Wisconsin-Madison, nos Estados Unidos.
“Ela não pode ser como ele”
Samia Suluhu Hassan, de 61 anos, subiu na hierarquia do CCM depois de ter sido eleita deputada no parlamento regional de Zanzibar. Exerceu cargos no governo autónomo da ilha, antes de ter sido eleita para a Assembleia Nacional da Tanzânia, em 2010.
O então Presidente Jakaya Kikwete nomeou-a ministra dos Assuntos Sindicais e ela ficou encarregue das relações entre o Governo central da Tanzânia e Zanzibar. Foi, depois, nomeada vice-presidente de uma assembleia criada para escrever uma nova Constituição, numa tentativa de apaziguar as tensões entre Zanzibar e o território continental.
Fatma Karume, uma advogada tanzaniana e crítica do antigo Presidente, acredita que Hassan vai contrastar com o seu antecessor, que era considerado intolerante pela oposição.
“Hassan não pode ser como Magafuli. Ela é uma mulher, é de Zanzibar, é muçulmana. Projecta um tom mais conciliatório, mais gentil”, considera Karume, justificando que “vem de uma ilha muito pequena, onde, quem trata mal as pessoas, pode vir a encontrá-las em funerais. É um contexto social completamente diferente”.
Reuters