Genesis Owusu: um black dog na terra dos cangurus

Disco longo, rico, cheio de sumo, superiormente interpretado: podia ser de um veterano mas pertence um miúdo de 22 anos: Genesis Owusu.

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Um caso sério para acompanhar nos próximos anos Daniela Federici

Como é sabido, ainda antes da actual pandemia, uma outra grassava, há já uns bons anos, no meio — ou, talvez mais apropriado neste contexto, na “indústria” — musical: a pandemia do “ecletismo”, agudo vírus cujo primeiro caso conhecido, embora sem data definida mas talvez identificável ali sensivelmente pelos anos 90 (possivelmente à boleia do espírito de fusão da década, embora uma e outra se não confundam), alastrou rapidamente e em força, fazendo vítimas nos quatro cantos do globo. Com um índice de transmissibilidade assaz elevado e sem vacina conhecida até aos dias de hoje, o vírus eclético alojou-se na cabeça de promotores e publicists (sem dúvida os superspreaders), artistas, público e, pior, crítica (numa confrangedora demissão do pensamento de fundo), todos juntos à volta da fogueira na celebração da ideia — na verdade, vendendo-a, porque do que se trata, no fim do dia, é de uma operação de marketing na conquista da maior fatia possível do “mercado” — de que um artista é tão mais talentoso quantos mais géneros ou “tendências” conseguir empilhar num álbum. A “versatilidade”, enfim, como fim em si mesmo e pináculo do ofício do músico (algo, de resto, sintonizado com a estrutura laboral do mundo de hoje, em que já ninguém faz apenas uma coisa, prática arcaica e mal-vista à luz da produtivista lógica do multitasking). O diagnóstico é conhecido: trabalhos confrangedores em que se quer ir a todo o lado e a lado algum se chega, uma salada-de-frutas anónima e desinspirada em que cada tema é uma espécie de destacável (ou descartável), bandeirinha para assinalar que o artista “também consegue fazer isto”.

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Como é sabido, ainda antes da actual pandemia, uma outra grassava, há já uns bons anos, no meio — ou, talvez mais apropriado neste contexto, na “indústria” — musical: a pandemia do “ecletismo”, agudo vírus cujo primeiro caso conhecido, embora sem data definida mas talvez identificável ali sensivelmente pelos anos 90 (possivelmente à boleia do espírito de fusão da década, embora uma e outra se não confundam), alastrou rapidamente e em força, fazendo vítimas nos quatro cantos do globo. Com um índice de transmissibilidade assaz elevado e sem vacina conhecida até aos dias de hoje, o vírus eclético alojou-se na cabeça de promotores e publicists (sem dúvida os superspreaders), artistas, público e, pior, crítica (numa confrangedora demissão do pensamento de fundo), todos juntos à volta da fogueira na celebração da ideia — na verdade, vendendo-a, porque do que se trata, no fim do dia, é de uma operação de marketing na conquista da maior fatia possível do “mercado” — de que um artista é tão mais talentoso quantos mais géneros ou “tendências” conseguir empilhar num álbum. A “versatilidade”, enfim, como fim em si mesmo e pináculo do ofício do músico (algo, de resto, sintonizado com a estrutura laboral do mundo de hoje, em que já ninguém faz apenas uma coisa, prática arcaica e mal-vista à luz da produtivista lógica do multitasking). O diagnóstico é conhecido: trabalhos confrangedores em que se quer ir a todo o lado e a lado algum se chega, uma salada-de-frutas anónima e desinspirada em que cada tema é uma espécie de destacável (ou descartável), bandeirinha para assinalar que o artista “também consegue fazer isto”.