Estudantes criam “nariz electrónico” que detecta Parkinson e um penso com sensores e ganham prémio
O Programa de Empreendedorismo da Nova School of Science and Technology distinguiu quatro projectos inovadores na área da saúde. Um teste que detecta Parkinson, um penso rápido com sensores, um biossensor que mede níveis de ferro no sangue e um teste triplo a doenças sexualmente transmissíveis foram os vencedores.
Um “nariz electrónico” que detecta Parkinson, um penso rápido que alerta para a necessidade de troca e um teste que mede os níveis de ferro através da urina foram os três projectos distinguidos no Programa de Empreendedorismo da Nova School of Science and Technology (FCT Nova de Lisboa) por professores, empresas, startups e organismos ligados ao empreendedorismo. Fora do pódio ficou o 47Care, distinguido com o prémio Glintt pelo teste que detecta, em simultâneo, três doenças sexualmente transmissíveis.
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Um “nariz electrónico” que detecta Parkinson, um penso rápido que alerta para a necessidade de troca e um teste que mede os níveis de ferro através da urina foram os três projectos distinguidos no Programa de Empreendedorismo da Nova School of Science and Technology (FCT Nova de Lisboa) por professores, empresas, startups e organismos ligados ao empreendedorismo. Fora do pódio ficou o 47Care, distinguido com o prémio Glintt pelo teste que detecta, em simultâneo, três doenças sexualmente transmissíveis.
A inovação está num nariz
A ParkinsonAISmeller conquistou o primeiro lugar e um prémio no valor de 5000 euros. A equipa, constituída por cinco estudantes das áreas de Engenharia e Biomedicina, uniu esforços em busca de algo inovador. Durante o processo, pensaram em ideias “muito simples”, entre as quais figurava “um copo com uma espécie de palhinha para manter o gelo no final”, revela Diogo Trinchante ao P3. A ideia tinha potencial, mas o grupo decidiu arriscar e, depois de uma pesquisa sobre as principais doenças neurodegenerativas, chegaram ao Parkinson — doença que, por norma, apenas é detectada quando a pessoa apresenta tremores que afectam entre 60% 70% dos movimentos. “Encontrámos um artigo das universidades de Cambridge, Edimburgo e Manchester, que descobriram moléculas presentes no sebo dos doentes de Parkinson em quantidades anormais e estas moléculas conseguem ser testadas anos antes de os doentes apresentarem sintomas.”
Com base neste estudo, desenvolveram um “nariz electrónico” para que os anos à espera de diagnóstico possam vir a ser substituídos por 20 minutos. O teste não é invasivo e basta uma amostra de gordura superficial da pele, por exemplo da parte de trás do pescoço, recolhida com uma zaragatoa, para que o resultado seja conhecido. Realizada a colheita, o hardware de inteligência artificial verifica, “ao comparar com a base de dados, se essas moléculas têm quantidades anormais ou não e chegam a um diagnóstico positivo ou negativo”, explica Diogo.
A inexistência de aparelhos que realizem um diagnóstico precoce torna-o, acreditam os criadores, num dos projectos mais “inovadores” no mercado. No entanto, e ainda sem investidores, a equipa estima que tal só possa vir a acontecer em 2026 em Portugal e 2027 no estrangeiro. “As patentes podem variar, por exemplo, em termos de creditação por parte da Agência Europeia do Medicamento e do Infarmed, entre os 200 mil e os milhões de euros. Nós prevemos um investimento de três milhões ao longo dos primeiros cinco anos.”
ReCover, o penso com sensores que cura feridas
Em segundo lugar, com um prémio de 3500 euros, ficou a ReCover, com a criação de um penso rápido com sensores de humidade, temperatura e PH, destinado a feridas pós-cirúrgicas.
Trata-se de um penso que alerta para a necessidade de troca. “Esta possibilidade de alerta aumenta a eficiência da cura, porque faz com que haja uma cicatrização mais rápida e, além disso, também detecta sinais de infecção”, explica a porta-voz da equipa, Sofia Martins. Mas como é que sabemos que está na altura de o substituir? Através da aplicação de telemóvel criada para o efeito. Com ela, o paciente “sabe se está bom, se é necessário trocar ou se está com uma infecção.”
Depois de um investimento de 300 mil euros, a equipa estima que o produto possa estar disponível em hospitais entre o final de 2022 e o início de 2023. Nesta primeira fase será criado um pack com 100 unidades de pensos com sensores e um pack adicional com o chip responsável pelo processamento dos dados. “Mas a nossa ideia, quando tivermos um volume de vendas que o permita, é passar a fazer packs com unidades de cinco pensos e um chip, para ser vendido em farmácias, onde as pessoas os possam comprar directamente”, explica a estudante de 22 anos.
Os níveis de ferro da ironMede
Um biossensor que mede os níveis de ferro no organismo e que poderá estar no mercado já em 2022 é a proposta da ironMede, cujo elemento diferenciador reside no facto de não exigir uma amostra de sangue.
“Os concorrentes mais próximos usam testes descartáveis, ou seja, essa questão da picada no dedo é só para um teste. Nós temos a questão das recargas em papel. Depois, os testes deles demoram entre cinco a dez minutos e o nosso resultado é conhecido em menos de três”, destaca a estudante Maria Justino.
A ideia já despertou a atenção de empresas como a Anemia Working Group of Portugal (AWGP), com quem já está agendada uma reunião e, mais recentemente, a Alma Science.
Com a ajuda das equipas médicas em missão humanitária, um dos públicos-alvo do produto, a ironMede espera chegar a países em desenvolvimento, nomeadamente ao Brasil. “Doentes pós-operatórios que, normalmente, têm uma enorme perda de sangue e com níveis de ferro que diminuem bastante, bem como qualquer pessoa que esteja sensibilizada para os seus níveis de ferro”, são outros compradores possíveis do produto.
47Care, “o projecto promissor”
As doenças sexualmente transmissíveis continuam a ser um dos maiores problemas da sociedade, especialmente nas camadas mais jovens que ainda têm vergonha de serem testadas. Desta forma, a 47Care, equipa vencedora do prémio Glintt, que distingue o projecto “mais interessante e promissor do ponto de vista do negócio”, criou três versões do STDeasy, um teste que detecta três doenças ao mesmo tempo, recorrendo a nanopartículas de prata que as identificam. A equipa está em reuniões com a Glintt e a estabelecer contactos com fábricas autorizadas a produzir este tipo de produtos.
O teste é confidencial e assemelha-se “a um teste de gravidez”, começa por explicar Inês Gonçalves. “O primeiro utiliza uma amostra de urina e os outros dois de sangue. Portanto, basta que a pessoa, por exemplo nos de sangue, pique o dedo e vai obter linhas no caso de ser positivo ou não obter no caso de ser negativo. Existe também a linha controlo para saber se o teste está a correr bem ou não.” Em pouco mais de cinco minutos, sem recurso a laboratórios, o resultado é conhecido.
Os dois primeiros vão custar, à partida, 30 euros e testar, respectivamente, gonorreia, clamídia e herpes; sífilis, herpes e VIH/Sida. O terceiro é uma “versão personalizada”, que será distribuída unicamente em países subdesenvolvidos. Permite descobrir sífilis, VIH e hepatite B e terá um custo de 25 euros.
Quando é possível comprar? Primeiro é necessário um período de seis meses de investimento e validação no valor de 150 mil euros. Terminado esse tempo, o STDeasy estará disponível. “Queremos começar a comercialização, numa primeira fase, online e depois fazer acordos com farmácias e ONG que façam essa disseminação para países subdesenvolvidos”, adianta. Formar alianças com governos é outro dos objectivos. “Em Portugal podemos ir ao centro de saúde pedir uma credencial e essa credencial dá-nos um desconto. Portanto, queremos fazer um serviço desse tipo no sentido em que a pessoa pede essa credencial e tem desconto na farmácia.”
Texto editado por Ana Maria Henriques