Portugal Fashion regressa sem sair do sofá
Evento de moda portuguesa acontece em dois momentos. Para já, serão conhecidas nove propostas; os restantes desfiles deverão ser em breve.
A proposta é precisamente não sair do sofá. O Portugal Fashion (PF), com a The Sofa Edition, regressa desta quinta-feira até sábado. Desta vez, a moda não vai invadir a Alfândega do Porto, mas entrar em casa de cada um, numa edição “pensada para o digital”. É apenas o “take 1”, com nove apresentações — onde se incluem Maria Gambina e Alexandra Moura, com quem o PÚBLICO conversou. Já o “take 2”, com os restantes desfiles, deverá acontecer em breve.
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A proposta é precisamente não sair do sofá. O Portugal Fashion (PF), com a The Sofa Edition, regressa desta quinta-feira até sábado. Desta vez, a moda não vai invadir a Alfândega do Porto, mas entrar em casa de cada um, numa edição “pensada para o digital”. É apenas o “take 1”, com nove apresentações — onde se incluem Maria Gambina e Alexandra Moura, com quem o PÚBLICO conversou. Já o “take 2”, com os restantes desfiles, deverá acontecer em breve.
“Em resposta a algumas dificuldades logísticas”, o PF vai acontecer em dois momentos, começa por explicar Mónica Neto, directora do evento que reúne criadores e indústria da moda portuguesa. Dada a ausência de um parecer positivo por parte da Direcção-Geral da Saúde — à semelhança do que aconteceu com a ModaLisboa — a organização do evento decidiu adiar as filmagens dos restantes desfiles.
Assim, esta primeira parte será composta por conteúdos previamente preparados pelos designers, quer seja para apresentações internacionais, como é o caso de Alexandra Moura, quer seja em exclusivo para o PF. Manter a data original — ainda que apenas com uma parte dos designers — “é uma vitória para nós e uma vitória para os designers”, defende Mónica Neto.
A 48.ª edição do PF terá como anfitrião o ilustrador e radialista Hugo van der Ding, que conduzirá as entrevistas aos designers. Foi também o responsável pela campanha de promoção do evento. “Esta era uma edição em que precisávamos de uma aposta de marketing de guerrilha para chamar a atenção”, justifica a responsável. Por isso, a escolha de “outras expressões criativas”, como a ilustração, para “sair dos cânones”.
Maria Carlos Baptista, Estrelita Mendonça e Katty Xiomara apresentam as colecções esta quinta-feira a partir das 20h, na página do Portugal Fashion e também nas redes sociais. Já na sexta-feira é a vez de Inês Torcato, Maria Gambina e Miguel Vieira. No sábado, o evento encerra com Ernest W. Baker, David Catalán e Alexandra Moura. “É um bom teaser com nomes fortes”, resume Mónica Neto, que acredita que este é um desafio muito abraçado pelos designers.
“Viajar dentro de nós”
Maria Gambina e Alexandra Moura foram duas designers que abraçaram o desafio de que fala Mónica Neto. Ao PÚBLICO revelam alguns detalhes das colecções para o próximo Outono/Inverno, que ambas acreditam ser reflexo da pandemia que vivemos.
Fagan é o título da colecção de Maria Gambina, que será apresentada “num formato diferente”, um vídeo realizado por André Tentúgal. O “clique” para o tema surgiu-lhe quando estava a ver a série The Crown, que retratava uma crise socioeconómica no Reino Unido, do final dos anos 70. A história transportou-a para “aquilo que estamos a viver”, a “incerteza”, a “frustração”, a “solidão” e uma “certa inquietude”, revela.
O resultado é uma colecção “muito escura”, mas, ao mesmo tempo, “feminina e delicada”, com “alguns apontamentos gráficos de vermelho e branco”, destaca a designer e professora. “Tem um lado feminino de quem poderá lutar, mas com uma certa delicadeza”, constata. Chegar ao resultado final não foi fácil e Maria Gambina confessa até que, nos seus 30 anos de carreira, foi a colecção “que mais custou a fazer”.
E se Maria Gambina teve a ideia ao ver uma série televisiva, Alexandra Moura rumou ao passado — à juventude nos anos 90, quando começou a estudar moda. “Neste momento de pandemia, nada melhor do que viajar dentro de nós próprios. É aí que vamos buscar a nossa sabedoria criativa”, observa em conversa com o PÚBLICO.
A colecção Subversão é reflexo dos primeiros passos de Alexandra Moura no universo da moda, dos primeiros desenhos onde era tudo feito à mão, da música que ouvia, da forma de vestir dessa época. No fundo, resume, “é ir reviver como tudo começou”.
Para apresentar a colecção, contou com a ajuda de Rui Aguiar, responsável pela concepção do vídeo e fotografia, e Pedro Carvalhinho, para a realização. O resultado — já apresentado na Semana da Moda de Milão — é uma apresentação conceptual, que subverte a visão da moda e também do papel dos manequins, “a ideia de que têm de ser perfeitos”. O vídeo, que os portugueses terão oportunidade de ver no próximo sábado, foi filmado no Estúdio Pires Vieira.
Futuro no digital
O último ano de pandemia não foi fácil para a moda portuguesa. Maria Gambina viu a sua loja — onde faz a maior parte das vendas — constantemente fechada ou com horário reduzido. “A moda de autor precisa de toque, de sentir. Não é uma peça que se venda online”, defende, confessando ter sido “um desgaste muito grande”.
Também Alexandra Moura fala desse desgaste e do “ano de quebras”, mas salienta que “passo a passo” os compradores se estão também a adaptar à nova realidade. Diz compreender que “ver roupa online é complicado”, mas tem encontrado estratégias para colmatar essa dificuldade, como ter alguém que vista a peça, enquanto faz uma apresentação para compradores estrangeiros, e explicar com o máximo de detalhe possível.
Em última instância, as duas designers acreditam que o digital abre a moda a novas possibilidades e até a uma maior criatividade. “Acho que, em termos de linguagem, parece que se torna mais pessoal. Se calhar é o futuro”, analisa Gambina. Já Alexandra Moura acredita que poderá ser uma forma de “igualar” as marcas mais pequenas aos “desfiles incríveis das grandes marcas”.
Ainda assim, e mesmo dando primazia ao digital, as criadoras salientam a importância dos eventos presenciais. “A moda também tem a componente artística de contar histórias e as pessoas precisam sentir essa energia”, defende Alexandra Moura. Por sua vez, Maria Gambina conclui: “Não há nada que substitua o calor humano; devemos lutar para que nunca deixe de existir.”