Lares: “Essa coisa de se dizer ‘Não chores, vai ficar tudo bem’ não existe aqui”
Estourados, os funcionários dos lares só agora começam a ter “o direito de chorar”. “Alguns são aconselhados a ir ao médico, tirar férias, tomar vitaminas, mas recusam-se. Dizem que estão bem. Claro que depois percebemos que estão no limite.” O PÚBLICO voltou ao Lar Dra. Leonor Beleza, em Santo Tirso, um ano depois do primeiro estado de emergência.
“O meu riso agora está longe”, recusa Maria Amélia Oliveira, quando o fotógrafo insiste num sorriso para a objectiva. Desengane-se, porém, quem julgue que por detrás do semblante sério da octogenária está algum resquício de tristeza ditado pelo coronavírus que, durante 15 dias, a manteve presa a uma cama de hospital, com prognóstico reservado. “Qual quê?! O vírus até foi meu amigo: passou-me por cima, mas deixou-me viver. Os meus dentes é que me fugiram com a idade”, gargalha, por fim, num assomo de vaidade que nem a pandemia nem a consequente clausura reforçada no Lar Dra. Leonor Beleza, em Santo Tirso, fez desaparecer, muito graças ao zelo dos funcionários que, um ano volvido desde o início da pandemia, começam, agora eles, a dar sinais de esgotamento.