Sílvia pintou um mural em Lisboa que grita “Resiliência”. É um “manifesto” pela cultura
Na Penha de França, nasceu um mural que é também um “manifesto” sobre a crise no sector da cultura, um ano após a primeira declaração de estado de emergência. A pintura é da designer Sílvia Matias e a produção ficou a cargo da Ghost Creative Productions.
No bairro da Penha de França, no topo de uma das colinas de Lisboa, foi pintado um mural para assinalar que passou um ano desde a primeira declaração de estado de emergência em Portugal, motivado pela pandemia, a 18 de Março. Um ano desde que nos fechámos em casa, confinados, para só sair dois meses depois. E um ano desde que nos começaram a pedir que fôssemos resilientes.
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No bairro da Penha de França, no topo de uma das colinas de Lisboa, foi pintado um mural para assinalar que passou um ano desde a primeira declaração de estado de emergência em Portugal, motivado pela pandemia, a 18 de Março. Um ano desde que nos fechámos em casa, confinados, para só sair dois meses depois. E um ano desde que nos começaram a pedir que fôssemos resilientes.
Em Janeiro de 2021, no início de um novo confinamento, a designer Sílvia Matias quis construir algo para marcar este aniversário, e recuperou a palavra que tanto ouvia, “nos planos do Governo, nas notícias, nos telejornais”, recorda, numa pausa entre pinturas na Avenida General Roçadas.
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Desenhou-a em letras garrafais, brancas, num fundo preto, com “linhas rectas e formas cruas, sem adornos”, neste que foi o seu primeiro mural, como descreve, num comunicado enviado à redacção. “'Resiliência’ representa um ano duro para todos, mas também a capacidade de ultrapassarmos uma situação difícil”, explica. Sílvia sublinha, em particular, o impacto da pandemia no sector da cultura. “Fala-se disto constantemente, mas nada se faz. Este mural é quase um manifesto pela situação da cultura em Portugal.” Não é o design que salvará o mundo, reconhece, mas pode ter um impacto “muito positivo”.
A jovem de 31 anos quis que “o mural fosse muito simples de ler": “Não é um mural artístico, não tem esse pretensiosismo. É um projecto social e comunitário, para as pessoas”, afirma. Enquanto o pintava, na manhã desta terça-feira, formou-se uma pequena assistência composta por moradores e trabalhadores na Penha de França, que perguntavam o que estava a acontecer ou, à distância, sem nunca se aproximarem, faziam apostas sobre que palavra sairia dali. A única certeza era a de que se trataria de algo relacionado com a pandemia.
O mural foi desenhado por Sílvia Matias e a produção ficou a cargo da Ghost Creative Productions, empresa de produção cultural criada no Verão de 2020. Tanto Sílvia como Luís Alcatrão e Tiago Silva, fundadores do colectivo Ghost, sublinham a falta de apoios do Estado à cultura e quanta resiliência é pedida aos profissionais do sector. “Acho que os artistas, os produtores, os técnicos, são quem mais se reinventa. Muitas vezes fico surpreendido com a criatividade que nos mostram nas situações mais adversas”, conta Luís. “A cultura não está em crise há um ano. A cultura nunca deixou de estar em crise.”
No colectivo Ghost, Tiago e Luís fazem “um bocadinho de tudo”, dependendo dos pedidos de ajuda dos artistas de diversas áreas. Desempenham o trabalho invisível de implementação de projectos artísticos. “O apoio que damos não é só para a produção, às vezes é emocional. Sentimos que os artistas começam a desistir, não é fácil. Tem sido mesmo um ano de resiliência”, diz Tiago. Já Luís Alcatrão espera assistir a um boom depois de um período difícil: serão os “loucos anos 20” para a cultura.