Pacientes com alergia à penicilina podem tomar antibiótico recomendado na cirurgia

A testagem para a alergia às penicilinas permite poupanças económicas importantes, uma vez que que “apenas um em cada dez doentes diagnosticados é realmente alérgico”, segundo investigador português.

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Manuel Roberto

Investigadores da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto concluíram que a maioria dos pacientes com historial de alergia às penicilinas sujeitos a cirurgia pode “tomar em segurança” a cefazolina, o antibiótico habitualmente recomendado pelas autoridades de saúde.

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Investigadores da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto concluíram que a maioria dos pacientes com historial de alergia às penicilinas sujeitos a cirurgia pode “tomar em segurança” a cefazolina, o antibiótico habitualmente recomendado pelas autoridades de saúde.

Em comunicado, a Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) explica que o estudo, publicado na revista JAMA Surgery, confirmou que a “cefazolina pode ser dada à maioria dos pacientes que reporta alergia às penicilinas”.

O estudo, que reuniu investigadores portugueses e norte-americanos, evidencia que os pacientes sujeitos a cirurgias podem “tomar em segurança” este antibiótico - habitualmente recomendado pelas autoridades de saúde - “ao invés de outros antibióticos que são menos eficazes e mais caros”.

O investigador Bernardo Sousa Pinto afirma, no comunicadoque “muitos pacientes acham que são alérgicos às penicilinas, quando na verdade não o são”. “Tiveram manifestações infecciosas na infância que foram confundidas com alergias. Isto reflecte a necessidade de os pacientes que reportam alergia às penicilinas serem adequadamente testados”, refere o investigador e professor do Departamento de Medicina da Comunidade, Informação e Decisão em Saúde da FMUP.

Os resultados do estudo, uma meta-análise “de grande robustez científica”, confirmam-se em parte pela “baixa frequência de alergia confirmada às penicilinas”.

A não utilização de cefazolina em doentes com alergia às penicilinas tem por base estudos dos anos 1960 e 1970 que registavam uma frequência elevada de reactividade cruzada entre as penicilinas e a cefazolina.

Também citada no comunicado, a investigadora Meghan Jeffres, da Universidade do Colorado (Estados Unidos) esclarece que “a não utilização de cefazolina em pacientes que não são verdadeiramente alérgicos às penicilinas é preocupante, uma vez que este antibiótico é mais eficaz contra agentes frequentemente causadores de infecções cirúrgicas”.

A investigadora e médica no Hospital Geral do Massachusetts, Kimberly Blumenthal, acrescenta que “o estudo verificou que a frequência de alergia simultânea às penicilinas e cefazolina ronda os 0,7%, ascendendo aos 3% nos pacientes com alergia confirmada às penicilinas”. No estudo participaram ainda investigadores da Universidade do Colorado, nos EUA.

Em Portugal, a Direcção-Geral da Saúde recomenda a cefazolina como o antimicrobiano de primeira escolha para as cirurgias, no entanto, em pacientes com historial de alergia à penicilina é sugerida a utilização de outros fármacos, como outras cefalosporinas ou vancomicina.

A FMUP alerta existirem “muitas pessoas com falsos diagnósticos de alergia a antibióticos da família das penicilinas, cujas consequências, em termos clínicos e de serviços de saúde, podem ser graves”. “Desde logo, estes doentes são tratados com antibióticos de segunda linha, que são menos eficazes e comportam um maior risco de resistências do que as penicilinas”, acrescenta o investigador Bernardo Sousa Pinto, também investigador do Cintesis - Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde.

O investigador português já participou noutras investigações que mostraram que a testagem para a alergia às penicilinas permite “poupanças económicas substanciais” (na ordem dos 282 euros por doente internado nos hospitais e até 2103 euros em contexto de ambulatório) e que “apenas um em cada dez doentes diagnosticados é realmente alérgico”.