PSD e CDS querem tentar quebrar a “hegemonia” do PS e abrem a porta a aliança nas legislativas
Rui Rio e Francisco Rodrigues dos Santos deram aval a acordo-chapéu para as autárquicas do Outono.
O teor do acordo-chapéu entre o PSD e o CDS para as autárquicas deste ano, assinado na tarde desta terça-feira, incide sobre aspectos financeiros e organizativos mas os líderes dos dois partidos quiseram dar um sinal político: Rui Rio e Francisco Rodrigues dos Santos assumiram que querem quebrar a “hegemonia” dos socialistas no poder local mesmo que isso signifique apenas reduzir o actual diferencial de câmaras.
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O teor do acordo-chapéu entre o PSD e o CDS para as autárquicas deste ano, assinado na tarde desta terça-feira, incide sobre aspectos financeiros e organizativos mas os líderes dos dois partidos quiseram dar um sinal político: Rui Rio e Francisco Rodrigues dos Santos assumiram que querem quebrar a “hegemonia” dos socialistas no poder local mesmo que isso signifique apenas reduzir o actual diferencial de câmaras.
Na cerimónia, em Lisboa, Rui Rio lembrou que “o PS tem mais presidentes de câmara do que os outros todos partidos juntos” e assumiu que “com os pés assentes na terra é difícil ter mais presidentes de câmaras”, mas estabeleceu como meta reduzir o diferencial de 62 câmaras que o PS leva de vantagem. Francisco Rodrigues dos Santos, por seu turno, salientou o acordo autárquico como um “marco importante de alternativa mobilizadora”. “Se puder ser um momento de viragem da mudança, creio que fomos bem-sucedidos”, disse.
Os dois líderes foram questionados sobre se este entendimento tem seguimento nas próximas legislativas. “Logo se verá em função das circunstâncias e da conjuntura se assim será. Do ponto de vista estrutural é muito provável, isto tem história, é natural mas a conjuntura política também conta”, disse Rui Rio. O líder do CDS não destoou: “Tradicionalmente [os dois partidos] souberam unir esforços em alturas chave para o país. O futuro está em aberto depende desta caminhada que fazemos juntos”.
A sintonia foi também o tom nas respostas sobre as sondagens. O líder do PSD lembrou que o partido teve sondagens antes das legislativas de 2019 entre os 18% e os 20%, alcançou 28% nas urnas. O presidente do CDS, partido que aparece nos últimos lugares dos estudos de opinião, gracejou: “Não vamos ser vacinados contra as sondagens”. E, ao mesmo tempo que Rui Rio acenava afirmativamente com a cabeça, Rodrigues dos Santos contrapôs: “Ao contrário do que dizem as sondagens basta andar no país e ver que há descontentamento contra o Governo”.
As autárquicas podem ser também um cartão vermelho ao Governo? “É muito difícil dizer por antecipação”, respondeu Rui Rio, lembrando que houve apenas dois casos em que primeiros-ministros se demitiram por resultados em eleições locais — Francisco Pinto Balsemão e António Guterres. Já sobre se o resultado das autárquicas pode ser também um cartão vermelho às duas lideranças, o líder do PSD voltou a sublinhar a importância destas eleições e assumiu toda a “responsabilidade” pelo dossier. Francisco Rodrigues dos Santos lembrou que ambos os líderes já foram desafiados internamente e que superaram isso: “Aqueles que esperam que as autárquicas sejam o fim das nossas lideranças também não vão conseguir”.
Relativamente ao adiamento das eleições autárquicas, há divisão entre os dois partidos. O PSD propôs o adiamento por 60 dias — uma proposta que Rio considera reforçada com a suspensão da vacina AstraZeneca — mas o CDS preferia esperar mais tempo para decidir e assume que irá abster-se na votação da proposta no Parlamento a 25 deste mês.
Ainda sem se conhecer o número de coligações entre os dois partidos — depende das estruturas locais — já é certo que no Porto os dois partidos têm posições diferentes. O CDS vai voltar a apoiar Rui Moreira, já o PSD terá candidato próprio. Mas ambos rejeitaram que possa haver qualquer “atrito” por esse motivo.
O acordo autárquico, formalmente assinado pelos secretários-gerais dos dois partidos, não faz qualquer referência à exclusão do Chega nas coligações pré-eleitorais entre os dois partidos.
O texto prevê, por exemplo, que o partido liderante na coligação apresente o orçamento de candidatura, que tem de receber o “ok” do segundo partido. Neste ponto, Rui Rio referiu que o entendimento entre os dois partidos foi clarificado no sentido de não permitir gastos não autorizados. “Vamos ser implacáveis. Tudo faremos para que [os que gastam sem autorização] paguem do seu bolso”, afirmou.