Há crianças a serem decapitadas em Cabo Delgado, diz ONG

A Save the Children pede ajuda humanitária para as famílias deslocadas pelo conflito no Norte de Moçambique. Quase um milhão de pessoas enfrenta “fome severa”.

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Milhares de pessoas foram obrigadas a fugir ao conflito em Cabo Delgado RICARDO FRANCO/EPA

Há crianças a serem assassinadas na província de Cabo Delgado, no Norte de Moçambique, que é palco de um conflito armado há mais de três anos, diz a organização não-governamental Save the Children.

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Há crianças a serem assassinadas na província de Cabo Delgado, no Norte de Moçambique, que é palco de um conflito armado há mais de três anos, diz a organização não-governamental Save the Children.

“Elsa”, de 28 anos, viu o filho, “Filipe”, de 12, a ser decapitado enquanto ela e os seus outros três filhos se escondiam depois de um ataque à aldeia onde vivia. “Tentámos fugir para a floresta, mas eles tiraram-me o meu filho mais velho e decapitaram-no. Não podíamos fazer nada porque senão também seríamos mortos”, disse a mulher à organização.

A Save the Children diz que a crise humanitária em Cabo Delgado foi “menosprezada” e alerta para a falta de ajuda para a população afectada.

“A ajuda é desesperadamente necessária, mas poucos doadores priorizaram a assistência para aqueles que perderam tudo e para os seus filhos”, numa altura em que o mundo lida também com a covid-19, refere Chance Briggs, director da organização em Moçambique, citado em comunicado.

A Save the Children referiu que “quase um milhão de pessoas enfrenta fome severa” como resultado directo da onda de deslocados provocada pelo conflito armado na região, incluindo pessoas deslocadas e comunidades anfitriãs.

Como reflexo da pirâmide etária do país, cerca de metade das pessoas afectadas pela violência são menores de 18 anos, presenciando muitas vezes morte e destruição e sendo elas próprias alvo das partes em conflito.

“Todas as partes devem garantir que as crianças nunca sejam alvos. Devem respeitar as leis humanitárias internacionais e de direitos humanos e tomar todas as acções necessárias para minimizar os danos civis, incluindo o fim de ataques indiscriminados e desproporcionais contra crianças”, acrescentou Briggs.

“Os relatos de ataques a crianças incomodam-nos profundamente. A nossa equipa foi levada às lágrimas ao ouvir as histórias de sofrimento contadas por mães em campos de deslocados”, sublinhou.

A organização alertou para a possibilidade de muitas das crianças desenvolverem ansiedade, depressão e, em alguns casos, até stress pós-traumático na sequência dos episódios de violência por si vividos.

A violência armada em Cabo Delgado está a provocar uma crise humanitária, com mais de duas mil mortes e 670 mil pessoas deslocadas, sem habitação, nem alimentos.

Algumas das incursões de rebeldes foram reivindicadas pelo Daesh entre Junho de 2019 e Novembro de 2020, mas a origem dos ataques continua sob debate.

A situação de insegurança levou a petrolífera Total a diminuir o número de trabalhadores e a abrandar os trabalhos no megaprojecto de gás na região, até que seja garantido um perímetro de segurança pelas Forças de Defesa e Segurança moçambicanas.

No entanto, mantém-se a previsão de início de exportação de gás natural liquefeito em 2024.