Marta Temido garante que a confiança na EMA não sai beliscada com a suspensão da vacina da AstraZeneca
Ministros da Saúde dos 27 discutiram os últimos desenvolvimentos do processo de vacinação contra a covid-19. Comissão apela a que não seja desperdiçada nem uma única dose.
A ministra da Saúde, Marta Temido, e a comissária europeia com a mesma pasta, Stella Kyriakides, recusaram, esta terça-feira, classificar a suspensão temporária da administração da vacina da AstraZeneca contra a covid-19 por alguns Estados-membros da UE como uma “decisão política”, que pode vir a ter reflexos negativos em termos da confiança e adesão da população à campanha de vacinação actualmente em curso.
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A ministra da Saúde, Marta Temido, e a comissária europeia com a mesma pasta, Stella Kyriakides, recusaram, esta terça-feira, classificar a suspensão temporária da administração da vacina da AstraZeneca contra a covid-19 por alguns Estados-membros da UE como uma “decisão política”, que pode vir a ter reflexos negativos em termos da confiança e adesão da população à campanha de vacinação actualmente em curso.
Pelo contrário, as duas responsáveis esforçaram-se por enquadrar e justificar essa medida “provisória” e de “precaução”, que até agora foi assumida por 17 dos 27 países da UE, incluindo Portugal, com a necessidade de “ganhar tempo” até a Agência Europeia do Medicamento (EMA) voltar a pronunciar-se sobre a segurança da vacina da AstraZeneca, que foi validada pelo regulador no final de Janeiro — e assim “obter uma maior clareza e uma maior tranquilização da população sobre a sua utilização”.
“Temos total confiança no trabalho da Agência Europeia do Medicamento [EMA] e na segurança das vacinas por si aprovadas”, assegurou a ministra da Saúde, no fim de mais uma reunião informal dos ministros da Saúde dos 27, que decorreu por videoconferência.
Porém, nem Marta Temido nem Stella Kyriakides conseguiram explicar a contradição: se os países confiam na EMA, e esta não emitiu nenhuma recomendação no sentido de suspender a administração da vacina da AstraZeneca, porque decidiram fazê-lo?
Esta terça-feira, e em resposta aos últimos desenvolvimentos, a directora executiva da EMA, Emer Cooke, sentiu necessidade de vir a público recordar que os benefícios da vacina em causa ultrapassam largamente os riscos, e esclarecer que as reacções adversas que foram reportadas após a toma da vacina não são nem invulgares, nem inesperadas. Ainda assim, e pela gravidade de alguns casos, o comité de avaliação do risco farmacológico da EMA iniciou uma investigação aprofundada, cujo resultado será divulgado na quinta-feira.
“A nossa confiança no processo de vacinação, na Comissão e nas agências europeias não sai, em momento nenhum, beliscada pelo facto de termos dado nota, com total transparência, de que neste contexto de uma doença nova e medicamentos novos, termos momentos em que temos incertezas”, considerou Marta Temido. Para a ministra, “aquilo que é importante reter deste processo é que todos os Estados-membros tomaram as suas decisões e comunicaram-nas com transparência”, expondo “as suas dúvidas e a sua necessidade de informação adicional”, salientou.
A comissária europeia da Saúde repetiu os mesmos argumentos e acrescentou mais um, numa tentativa de desmentir que exista uma conspiração contra a AstraZeneca. “A nossa luta é contra o vírus”, sublinhou Stella Kyriakides, acrescentando que o combate dos 27 é contra o tempo — e contra o desperdício de vacinas. “É crucial usar todas as doses disponíveis”, insistiu, dando conta da sua preocupação com a existência de “variações grandes” entre os Estados-membros e encorajando-os a acelerar o ritmo da vacinação. “Com o previsível aumento das entregas nos próximos meses, há que garantir que todas as doses são administradas”, alertou.
Em resposta a uma pergunta sobre as encomendas feitas por Portugal no âmbito do seu plano de vacinação, a ministra da Saúde confirmou que o Governo “fez a opção de adquirir todas as quantidades de vacinas que podia” dentro do quadro de distribuição definido pela Comissão (com base na percentagem da população), tendo apenas prescindido da quota que lhe cabia no contrato adicional com a Moderna, “que tinha um prazo de entrega no primeiro trimestre de 2022”.
Quanto à vacina da Pfizer/BioNTech, que foi a primeira a ser aprovada pela EMA, e cuja distribuição está agora a decorrer sem perturbações, Marta Temido disse que o país receberá 1,3 milhões de doses no primeiro trimestre, e mais quatro milhões de doses no segundo trimestre.