O fantasma das “rachadinhas” apareceu à porta de Jair Bolsonaro
Análise às movimentações de dinheiro por assessores do Presidente quando era deputado federal mostra indícios de corrupção.
O caso da contratação de funcionários fantasma para os gabinetes parlamentares parece não largar a família Bolsonaro. Depois do senador Flávio Bolsonaro, novas investigações às movimentações bancárias mostram indícios da existência de esquemas de “rachadinhas” nos gabinetes do Presidente Jair Bolsonaro e de outro dos seus filhos.
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O caso da contratação de funcionários fantasma para os gabinetes parlamentares parece não largar a família Bolsonaro. Depois do senador Flávio Bolsonaro, novas investigações às movimentações bancárias mostram indícios da existência de esquemas de “rachadinhas” nos gabinetes do Presidente Jair Bolsonaro e de outro dos seus filhos.
Apenas Flávio Bolsonaro é visado formalmente por investigações do Ministério Público do Rio de Janeiro, mas o site de notícias UOL revela esta segunda-feira pormenores acerca de movimentações bancárias de pessoas do seu círculo mais próximo que apontam para a existência durante vários anos deste esquema fraudulento a envolverem o seu pai e Presidente da República. Foram analisadas mais de 607 mil movimentações bancárias.
Entre as contratações suspeitas está a de Andrea Sequeira Valle, irmã da ex-mulher de Jair Bolsonaro, para o gabinete do então deputado federal durante oito anos, entre 1998 e 2006. O que causou estranheza foi a transferência, um ano e oito meses depois de ter deixado o cargo, de todo o dinheiro depositado na conta de Valle, a mesma em que recebia o salário de assessora parlamentar, para a conta da irmã, Ana Cristina Valle, na altura casada com Bolsonaro. Ao todo, foram transferidos 54 mil reais, que aos valores de hoje equivalem praticamente ao dobro, 110 mil reais (16 mil euros).
Quatro funcionários que trabalharam com Bolsonaro levantaram em dinheiro vivo 72% dos seus vencimentos ao longo de 12 anos analisados, diz o UOL. Esta quantidade pouco usual de levantamentos em multibanco é consistente com a prática da “rachadinha”, em que assessores e funcionários parlamentares são contratados por políticos que acabam por ficar com a quase totalidade dos seus salários.
Um comportamento idêntico foi detectado nas movimentações de quatro funcionários de Carlos Bolsonaro, vereador no Rio de Janeiro, que levantaram 87% dos montantes dos seus salários em dinheiro ao longo de vários anos.
Estas movimentações são semelhantes às que foram encontradas na análise às transferências bancárias entre os assessores de Flávio Bolsonaro enquanto era deputado estadual no Rio de Janeiro. Foi a partir destes indícios que o Ministério Público carioca acabou por acusar o filho mais velho do Presidente de operar um esquema de “rachadinhas” entre 2007 e 2018.
No entanto, no mês passado, o Supremo Tribunal de Justiça invalidou o levantamento do sigilo bancário de Bolsonaro, enterrando na prática as acusações. A decisão ainda pode ser revertida e os procuradores apresentaram um recurso para tentar manter a investigação aberta.
As suspeitas que recaem sobre Flávio Bolsonaro são uma das principais preocupações de Jair Bolsonaro, eleito em 2018 com um discurso altamente moralizador alicerçado no combate à corrupção evidenciada pela Operação Lava-Jato. Volvidos três anos, Bolsonaro parece ter deixado pelo caminho essa bandeira, sobretudo depois da demissão do ministro da Justiça, o ex-juiz federal Sergio Moro, principal rosto da Lava-Jato, que o acusou de ter tentado interferir na nomeação da cúpula da Polícia Federal no Rio de Janeiro, alegadamente para travar as investigações a Flávio.
Apesar de ser Presidente, Bolsonaro pode ser formalmente investigado e, se houver indícios suficientes, acusado por crimes cometidos antes do mandato. O Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) apresentou esta segunda-feira um pedido para a abertura de uma comissão parlamentar de inquérito no Congresso para apurar as suspeitas.