O Caos Climático aproxima-se!
É urgente aceitarmos que a crise climática é uma ameaça existencial e compreendermos que não chega votarmos em quem promete e não cumpre o seu compromisso com a protecção e regeneração dos ecossistemas.
Este artigo afasta-se da dissonância cognitiva que opera em grande parte da classe política e de muitas instituições supranacionais tal como dos Estados-Membros, ao afirmar que o Pacto Ecológico Europeu é um marco concretizável para a transição para uma economia social descarbonizada até 2050. Não porque não gostasse de ser o portador de tão auspiciosas notícias, mas porque os dados científicos apontam para uma falha das metas de redução de gases com efeito de estufa aos níveis exigidos pelos mais recentes estudos e projecções.
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Este artigo afasta-se da dissonância cognitiva que opera em grande parte da classe política e de muitas instituições supranacionais tal como dos Estados-Membros, ao afirmar que o Pacto Ecológico Europeu é um marco concretizável para a transição para uma economia social descarbonizada até 2050. Não porque não gostasse de ser o portador de tão auspiciosas notícias, mas porque os dados científicos apontam para uma falha das metas de redução de gases com efeito de estufa aos níveis exigidos pelos mais recentes estudos e projecções.
Veja-se que para termos mais probabilidades de não atingirmos o aumento de 1.5 graus até 2050 teríamos que reduzir as emissões de gases com efeito de estufa (GEE) até 2030 entre 65% a 70%. O acordo conseguido entre a Comissão, o Conselho e o Parlamento Europeu é de 55%. Mais, se olharmos para alguns dos pacotes sectoriais que compõem o próximo Quadro Financeiro Plurianual verificamos que as declarações políticas “verdes” esbarram com a realidade. Por exemplo se falarmos da Política Agrícola Comum, que absorverá cerca de 30% do orçamento comunitário, e é gerador de mais de 10% das emissões com gases de efeito de estufa na Europa, mas um dos maiores factores para a desflorestação na União Europeia (EU), devido à pecuária, vemos que a redução da produção intensiva de animais e a alteração gradual para modos de produção mais extensivos, regenerativos e vegetais não é efetiva.
E, quando olhamos para a macroeconomia, continuamos a verificar que os acordos comerciais com países terceiros estão muito aquém de cumprir as metas do Acordo de Paris e o próprio Pacto Ecológico Europeu. Ou seja, quando a presidência Portuguesa do Conselho da UE afirma que deseja finalizar o Acordo com os países do Mercosul, sem quaisquer vínculos legais que garantam o fim da desflorestação da região amazónica, ou mesmo do Acordo de Investimento com a República Popular da China, desconsiderando direitos Humanos e o impacto da industrialização chinesa na emissão de GEE, comprovamos que o clima não é uma prioridade mas sim um chavão político.
E este conforto psicológico que opera nas instituições Europeias, devido à maioria dos partidos que as compõem e condicionam a sua governação, nomeadamente o Partido Popular Europeu (PSD/CDS), os Socialistas e Democratas (PS) e o Renew Europe (Liberais), e que se projecta em adiar mudanças estruturais e urgentes no modo como produzimos, distribuímos, consumimos e gerimos os resíduos, demonstra que a nível climático não estamos a encarar os dados científicos como uma crise existencial.
Mas há esperança! É urgente aceitarmos que a crise climática é uma ameaça existencial e compreendermos que não chega votarmos em quem promete e não cumpre o seu compromisso com a protecção e regeneração dos ecossistemas. Este desafio de descarbonizar a Europa e garantir também melhor vida aos seus cidadãos só se concretizará dando mais poder aos movimentos políticos verdes, garantindo mais participação das comunidades, dos cidadãos e de empresas no processo de decisão e descentralizando a produção, distribuição e gestão de resíduos em todas as regiões e sectores.