Ex-Presidente interina da Bolívia detida e acusada de “sedição e terrorismo”
Justiça boliviana ordenou a detenção de Áñez, cinco ex-ministros e vários chefes militares que participaram no processo político que levou à demissão e saída do país de Morales.
Jeanine Áñez, ex-Presidente interina da Bolívia, foi detida durante a madrugada deste sábado, na cidade de Trinidad, poucas horas depois de o Ministério Público ter ordenado a sua captura, acusando-a pelos crimes de “sedição e terrorismo”, no âmbito da sua participação no processo político de 2019, que levou à demissão e saída do país do antigo chefe de Estado, o histórico Evo Morales.
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Jeanine Áñez, ex-Presidente interina da Bolívia, foi detida durante a madrugada deste sábado, na cidade de Trinidad, poucas horas depois de o Ministério Público ter ordenado a sua captura, acusando-a pelos crimes de “sedição e terrorismo”, no âmbito da sua participação no processo político de 2019, que levou à demissão e saída do país do antigo chefe de Estado, o histórico Evo Morales.
Para além de Áñez, entretanto transportada para La Paz, foram ainda detidos cinco ex-ministros e vários chefes militares que assumiram cargos de topo durante o ano em que a dirigente conservadora governou a Bolívia.
Entre os militares acusados está William Kaliman, o general que anunciou a retirada do apoio das Forças Armadas a Morales e que o aconselhou a demitir-se, em nome da “pacificação” da “estabilidade” da Bolívia. Kaliman está também acusado de “conspiração”, para além de “sedição” e “terrorismo”.
A investigação da Justiça boliviana foi lançada após uma denúncia do Governo de Luis Arce – o actual Presidente do país, que integra o Movimento para o Socialismo (MAS), de Morales, e que foi eleito em Outubro do ano passado, prometendo um “socialismo moderado”. O MAS defende que a chegada ao poder de Áñez foi um “golpe de Estado”.
Na sequência de um processo confuso de contagem de votos nas presidenciais de Outubro de 2019 – o anúncio dos resultados foi suspenso numa altura em que Morales parecia estar a perder para o candidato opositor, Carlos Mesa –, que originou violentos confrontos nas ruas das principais cidades, a então vice-presidente do Senado autoproclamou-se chefe de Estado interina.
A oposição aos socialistas bolivianos acredita, então, que o Ministério Público está a agir a mando do MAS. E denuncia um caso de politização da Justiça e “perseguição política”.
“A perseguição política começou. O MAS decidiu regressar aos estilos da ditadura. É uma pena, porque a Bolívia não precisa de ditadores, precisa de liberdade e de soluções”, escreveu Áñez no Twitter, na sexta-feira à noite, pouco depois de conhecidas as ordens de captura.
“Denuncio, perante a Bolívia e o mundo, que, através de um acto de abuso e de perseguição política, o Governo do MAS ordenou que me prendessem. Acusa-me de ter participado num golpe de Estado que nunca aconteceu”, acrescentou, na mesma rede social, na manhã deste sábado.
Uma condenação por “sedição” na Bolívia pode levar à aplicação de uma pena de prisão até cinco anos. Para o caso de “terrorismo”, a pena pode ir até aos 20 anos.
Foi precisamente uma acusação pelos mesmos crimes, emitida pouco depois de Áñez assumir o cargo de Presidente interina, que levou Morales a pedir asilo político no México, e depois na Argentina.
Subsequentemente, o Governo interino dirigiu-se à Justiça para denunciar o primeiro Presidente indígena da Bolívia, que governou o país durante 14 anos e que regressou em Novembro do ano passado, por crimes diversos, incluindo corrupção, abusos sexuais, pedofilia e crimes contra a humanidade.