Últimas limpezas antes da reabertura das escolas: “Estamos prontinhos para começar!”

Ao contrário do início do ano lectivo, agora não foi preciso definir circuitos de circulação ou actualizar planos de contingência. Para as escolas reabrirem na segunda-feira foi preciso limpar os espaços e pouco mais, nada que atrapalhe os responsáveis das escolas

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Percebe-se a cara corada de esforço por baixo da máscara de Fernanda Rocha. Para cima e para baixo, entre dois pisos, a auxiliar do edifício sede do Agrupamento de Escolas Irmãos Passos, em Matosinhos, anda a limpar salas e reorganizar espaços que, a partir de segunda-feira, vão encher-se com as crianças do pré-escolar e do 1.º ciclo. A alguns quilómetros de distância, no Colégio Novo da Maia, Carla Sousa, também já pegou no líquido e pano de limpeza e começou a tratar das salas que acolhem a creche, o jardim-de-infância e o 1.º ciclo. O anúncio, na quinta-feira à noite, de que as crianças destes níveis de ensino regressariam às escolas já na segunda-feira não atrapalhou os responsáveis pela escola pública e o colégio privado.

“Estamos prontinhos para começar!”, sorri Bruna Brito, educadora e coordenadora da creche do colégio privado da Maia. No edifício dedicado às crianças mais novas nunca deixou de haver alguma actividade, porque o colégio manteve as portas abertas para receber os filhos de trabalhadores essenciais. Mas muito poucos, como conta Carina Fonseca, educadora da sala dos 2 anos que, de sorriso de orelha a orelha, explica que das 16 crianças que costuma ter na sala esteve, diariamente, apenas com duas. “Já estávamos mais ou menos a contar que a reabertura fosse acontecer, por isso, nos últimos dias já estivemos a organizar tudo. As salas estão preparadas para receber os meninos, a desinfecção dos materiais foi feita, logo que eles foram embora [em Janeiro, quando as escolas encerraram]. Estamos preparadíssimos e ansiosos”, diz. 

E não são apenas as crianças a entusiasmarem-se com o regresso anunciado. “Ainda agora acabámos de fazer uma aula de ensino à distância e os pais estão super ansiosos que eles regressem”, ri-se a educadora. Bruna Brito conta algo similar: “Hoje, o tema no ensino à distância tem sido: vamos para o colégio! Quer pelo lado dos pais, quer dos meninos.”

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Anna Costa

Marina Pinto, directora do colégio, admite que tem havido muitos telefonemas para fazer desde que se confirmou a reabertura para a segunda-feira. “Sinceramente, tinha muitas dúvidas se o 1.º ciclo ia abrir, mas a creche tinha a certeza que sim e havia alguma dúvidas quanto ao jardim-de-infância. Mas tínhamos tudo mais ou menos organizado e não será assim tão difícil colocar tudo a funcionar. Já contactei as empresas de outsourcing, de alimentação e limpeza, e está tudo a andar. A nossa nutricionista também já tinha feito um plano A e B para as ementas, prevendo mais ou menos crianças. Acho que hoje fica tudo praticamente pronto”, afirma, quando lhe perguntam se vai ter de trabalhar durante o fim-de-semana para que nada falhe na segunda-feira.

Em Guifões, também se ouvem algumas vozes que saem das salas onde alguns (poucos) alunos do 1.º ciclo assistem pelo computador às aulas à distância. Paulo Gaspar, director do agrupamento, também está tranquilo quanto à reabertura, mesmo que este seja o edifício que exigirá algum trabalho extra. “Ontem à noite, mal soubemos das notícias, telefonei à coordenadora dos serviços operacionais, para a alertar que esta escola precisava de uma intervenção mais pormenorizada, porque temos aqui meninos. Enquanto nas outras está tudo estabilizado, porque as salas estão vazias, e está tudo limpo, aqui irá haver um reforço de limpeza e há que fazer alguma reorganização das salas de aulas, porque, neste período em que tínhamos poucos meninos, foram retiradas muitas mesas e cadeiras, para estarem mais à vontade”, diz.

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Fernanda Rocha, pano na mão, esfrega uma mesa e outra. “O professor Paulo já sabe que estamos habituadas a este ritmo, não é?”, atira ela, descontraída, ao director, e este confirma que é assim mesmo.  

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Está quase tudo pronto para receber as crianças no edifício-sede do Agrupamento de Escolas Irmãos Passos Anna Costa

Agora, insiste o professor, não há muito a fazer. O mais complicado foi quando foi preciso abrir as escolas no início deste ano lectivo, quando se introduziram uma série de medidas de segurança. “Já temos tudo estabelecido em termos de circuitos, planos de contingência... Tudo isso, referente à estrutura, estava organizado. Isso está montado, só cá não estão os professores”, diz. E em relação às máscaras, entre as crianças do 1.º ciclo, também não se adivinham grandes mudanças. “Não é obrigatório e alguns pais fazem com que os miúdos as tragam, outros não. É sempre uma decisão dos pais”, conta. A julgar pela amostra das crianças que, nesta sexta-feira, assistiam às aulas à distância na escola, a opção pelo uso parece estar em maioria, já que praticamente todas as usavam. 

No Colégio Novo da Maia, também não se antevêem grandes mudanças a esse nível. “Aqui não é obrigatório para o 1.º ciclo, mas é recomendável. Tenho turmas inteiras a usar máscara, sobretudo entre os mais velhinhos, do 3.º e 4.º anos. Vamos continuar a aconselhar o uso, mas não obrigando”, afirma Marina Pinto.

Mais trabalho à tarde

A tarde nos dois espaços deveria ser de alguma azáfama. No Colégio Novo da Maia, o lay-off em que se encontrava a maior parte dos profissionais termina automaticamente neste dia, e até ao final desta sexta-feira, o tempo deveria ser dedicado a arranjar o que falta para que as salas estejam prontas para receber as crianças na segunda-feira. Ao final da tarde e durante a noite, os colegas de Carla Sousa, da empresa de limpeza que trabalha para o colégio, deveriam chegar para uma última limpeza geral. Em Guifões, com as aulas a terminar às 16h, também se abria um novo espaço de maior acalmia para terminar a reorganização e limpeza que ainda não estivessem concluídas. Paulo Gaspar até diz que gostava de ter sabido com mais alguma antecedência da data de reabertura, mas garante que “não causou grande transtorno, porque estava tudo organizado”.

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É claro que pode haver algumas pontas a dar algum trabalho extra. Na Maia ainda se trabalhava na reorganização de horários, porque, neste período de ensino à distância, a carga horária foi reduzida e, agora, as crianças do 1.º ciclo voltam ao horário habitual, o que obriga a reajustar alguns tempos lectivos para que os que se mantêm no ensino à distância e partilham professores (de educação física ou música, por exemplo) não deixem de ter essas aulas. E as actividades extra-curriculares também não devem arrancar logo na segunda-feira, pelo menos, não todas, diz Marina Pinto. 

No agrupamento de Paulo Gaspar as dúvidas surgiram mais entre os professores que, obrigados a regressar à escola e com filhos no 2.º ciclo, ficaram sem saber muito bem o que fazer. “Tive alguns telefonemas, mas disse-lhes que têm de agilizar o processo e, havendo escolas de acolhimento, os miúdos terão de ir”, diz o director, que não conta ter de lidar com alguma ausência de profissionais por causa disso.

O que é preciso, concordam todos, é regressar - em segurança e, neste âmbito, os dois espaços já entregaram também os dados de todos os profissionais, que foram solicitados nos últimos dias, pela Segurança Social (no caso da creche) e pela Dgest - Direcção-Geral de Estabelecimentos Escolares, para que possam ser vacinados (embora desconheçam ainda quando tal irá acontecer). “Não vou dizer que não receio o impacto que a reabertura possa ter, mas não é só das escolas, é de tudo. Agora, que os nossos alunos estão a precisar mesmo de voltar à escola, pela sua saúde mental, estão. Hoje estão eufóricos, nas aulas online estão contentíssimos, maravilhados por poderem voltar à escola. Era urgente”, diz Marina Pinto. 

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Máscara e higienização frequente das mãos são conceitos que já entraram nos hábitos das crianças Anna Costa

Paulo Gaspar não tem dúvidas que o entusiasmo é o mesmo nas crianças das suas escolas. “Vemos pela satisfação que têm quando vão para o recreio e estão a brincar. Nas aulas são as obrigações escolares normais, alguns estão mais motivados do que outros, mas a satisfação deles lá fora, com colegas que nem sequer conheciam, porque acolhemos crianças de outras escolas, é fantástica.”, diz.

E o entusiasmo não se fica por aqui. Quando lhe perguntam se também sente falta dos colegas, o sorriso da educadora Carina Fonseca cresce ainda mais: “Então, não? Claro que sim. Sentimos muita falta dos nossos colegas. Acho que vai correr tudo bem, estamos todos ansiosos.”