Pedro Simas. Plano de desconfinamento é “muito bom”, mas é preciso testagem e vacinação dos grupos de risco
Pedro Simas acredita que o potencial de uma quarta vaga é elevado, mas Portugal tem agora “um plano estruturado de vigilância, com linhas bem definidas,” para desconfinar com segurança. Diz que a testagem tem que ser “inteligente” e o rastreamento de contactos contínuo, mas destaca que é preciso não perder de vista os principais visados da vacinação: os grupos de risco.
O virologista Pedro Simas, do Instituto Molecular da Universidade de Lisboa, considera o plano de desconfinamento que foi apresentado na noite desta quinta-feira “muito bom” e diz que permitirá ao país desconfinar com segurança com a ajuda de critérios objectivos, como o índice de transmissibilidade e o número de novos casos por 100 mil habitantes a 14 dias.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
O virologista Pedro Simas, do Instituto Molecular da Universidade de Lisboa, considera o plano de desconfinamento que foi apresentado na noite desta quinta-feira “muito bom” e diz que permitirá ao país desconfinar com segurança com a ajuda de critérios objectivos, como o índice de transmissibilidade e o número de novos casos por 100 mil habitantes a 14 dias.
Para já, na opinião do virologista, os dois indicadores são suficientes para medir a evolução epidemiológica do país, mas, sublinha, daqui a algumas semanas será preciso começar a olhar para um terceiro. “Há uma décalage [discrepância] de mais de uma semana entre o aumento de casos e o aumento dos internamentos. Nesta fase, em que a maioria da população portuguesa ainda não tem imunidade, se houver algum descontrolo o vírus transborda para os grupos de risco que ainda não estão vacinados. Temos de ser proactivos, temos de nos antecipar a essa curva exponencial”.
O especialista diz, no entanto, que as medidas agora apresentadas só funcionarão se forem “apoiadas por uma testagem e rastreio dos contactos de infectados, pela vacinação e pela cooperação dos portugueses”. Para o também professor universitário, só se justifica continuar em confinamento num cenário em que o país não esteja preparado para completar essa “lista”. “Gostei muito do plano e anunciar as restrições para a Páscoa foi extremamente importante porque nessa altura temos de voltar atrás para não induzir comportamentos de risco, tal como no Natal. Isso tem de ser claro e ser transmitido já, para não ferir as expectativas dos portugueses”, diz, em conversa com o PÚBLICO.
O plano a “conta-gotas” apresentado por António Costa marca a reabertura das creches, pré-escolar e 1.º ciclo e ATL para as mesmas idades (entre outras actividades) já para a próxima segunda-feira, 15 de Março. Para Pedro Simas, essa foi a medida “mais natural”. “Foi a última coisa a fechar, deve ser a primeira a abrir. Achei bem que se abrisse também o 1.º ciclo, acho que há condições para o fazer. Não adianta perpetuar este confinamento porque mesmo que baixemos ainda mais os índices de novas infecções, a partir do momento em que nos desconfinarmos, eles vão aumentar. Temos é que ser muito cautelosos: se tivermos de recuar, recuamos”, abona o virologista.
Em relação à testagem, o perito acredita que esta não pode ser só “maciça”, tem de ser “inteligente”. “O importante é testar com inteligência, testar amostras de turmas com os testes rápidos porque estas servem de sentinelas para o que se passa nas famílias. É uma maneira inteligente de monitorizar a transmissão comunitária. E depois, se há casos positivos por teste rápido, têm de se isolar os contactos directos e indirectos e fazer-se o teste RT-PCR e proceder-se ao rastreio e às quarentenas”.
Foco da vacinação tem de continuar a ser os grupos de risco
O investigador científico refere ainda que é crucial que a vacinação continue a focar-se nos grupos mais afectados pela covid-19 — até porque são estes que colocam mais pressão nos números dos internamentos, particularmente na ocupação das unidades de cuidados intensivos. E diz, sem rodeios, que o processo de vacinação “não pode ser feito de decisões políticas, mas sim de decisões para salvar vidas.”
“Na vacinação, começo a ver a incorporação de mais e mais grupos na primeira fase. Acho que o mais importante é, quanto antes, vacinar os grupos de risco. Na faixa etária dos mais de 80 anos, mais de metade ou metade das pessoas ainda não estão protegidas. É importante agora que se anunciou a entrada dos professores e dos funcionários das escolas para a primeira fase de vacinação não perder de vista quem são os principais visados da vacinação”, refere.
Ainda segundo o virologista, o problema que havia nos meses passados com os lares “está a ser resolvido”, tanto através das vacinas como através de testes. Citando dados que lhe foram fornecidos esta quinta-feira pelo Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, avança que a campanha de testes preventivos em lares, que começou em Outubro, permitiu identificar 834 caos de infecção. “Isto significa que se evitaram cerca de 834 surtos nestes locais”, diz.
Pedro Simas mostra-se optimista para os próximos meses e diz que o alargamento da administração da vacina da AstraZeneca aos grupos com mais de 65 anos e a chegada, em Abril, das vacinas de dose única da Johnson & Johnson contribuirão para tempos “diferentes” destes últimos.
“Nesta altura, o que é importante transmitir é que se as vacinas conseguem proteger contra a morte e contra a doença severa, já não faz mal ter uma maior disseminação do vírus na comunidade porque já estaremos protegidos. O potencial de uma quarta vaga é muito grande, mas agora temos um plano estruturado de vigilância com linhas bem definidas. Todos os dias estamos a construir o muro, o que é muito bom”, remata.