Uma amizade vivida e resolvida nas canções das Smerz

Nascidas para a vida na Noruega e para a música na Dinamarca, Catharina Stoltenberg e Henriette Motzfeldt são autoras de um belíssimo álbum de r&b sem medo do risco. Believer, em edição da XL Recordings, é uma estreia de espanto.

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Michael Beckert

Não se trata propriamente de novidade que, nos últimos anos, as regras do jogo tenham mudado de maneira substancial. Se há 40 anos o punk era um convite a todos aqueles que não dominavam com mestria técnica os instrumentos e, ainda assim, se sentiam legitimados a tomá-los nas mãos e expressar-se com uma urgência que dispensava saber o que eram acordes de sétima e negava qualquer relação de dependência com a afinação, com a chegada do novo milénio a democratização do acesso a computadores e a software de composição levou ainda mais longe a possibilidade de ser-se músico sem qualquer legitimação por via académica. Cada vez mais, passou a bastar intuição musical e criatividade — até porque (e esse facto era novo neste paradigma que se afirmava) os recursos digitais permitiam já seguir um caminho criativo sem ter de partilhá-lo com outros. Já não eram precisas bandas, como na era punk; um/a criador/a e um portátil tornavam-se suficiente para gerar obras de elevada complexidade musical, bastando que a imaginação e o talento se unissem nesse propósito.