“É muito surpreendente e preocupante” o que passa no Brasil com a covid-19, diz a OMS
O que acontece no Brasil tem importância em termos globais, recordou Mike Ryan, director do Programa de Emergências em Saúde da OMS. E as variantes do coronavírus deixaram o país em aflição, sem capacidade de resposta à pandemia.
Na semana passada, a Organização Mundial da Saúde (OMS) lançou múltiplos alertas sobre o estado da epidemia de covid-19 no Brasil. Nesta sexta-feira, os alertas foram ainda mais desesperados, porque a situação agravou-se ainda mais. “A situação piorou, a ocupação dos cuidados intensivos ronda os 96%, resta muito pouca resiliência”, disse Mike Ryan, director executivo do Programa de Emergências em Saúde da OMS, numa conferência de imprensa virtual.
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Na semana passada, a Organização Mundial da Saúde (OMS) lançou múltiplos alertas sobre o estado da epidemia de covid-19 no Brasil. Nesta sexta-feira, os alertas foram ainda mais desesperados, porque a situação agravou-se ainda mais. “A situação piorou, a ocupação dos cuidados intensivos ronda os 96%, resta muito pouca resiliência”, disse Mike Ryan, director executivo do Programa de Emergências em Saúde da OMS, numa conferência de imprensa virtual.
“Já fui várias vezes ao Brasil e considerava-o um modelo, porque tinha um sistema de saúde com uma forte ênfase na saúde familiar. Por isso, esperava que este sistema com uma forte base comunitária pudesse responder melhor à pandemia de covid-19. É muito surpreendente, e muito preocupante, não só porque está a aumentar o número de casos, como o de óbitos”, comentou, em resposta a uma pergunta de um jornalista brasileiro, o director-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus.
“As autoridades têm de emitir mensagens claras e tomar medidas enérgicas, porque a situação está a ficar para além da capacidade de gestão do país – ontem vi que o número de óbitos tinha cruzado a barreira dos 2000 diários”, frisou Tedros Ghebreyesus, num alerta claro para o Brasil e para a forma como está a lidar com a pandemia de covid-19.
O Presidente, Jair Bolsonaro, continua a defender que não deve haver confinamento e a fazer má cara às máscaras, enquanto alguns governadores tentam decretar medidas de contenção nos seus estados. A vacinação avança muito lentamente: pouco mais de 5% da população recebeu a primeira dose, e 2% a segunda dose, segundo dados citados pelo jornal Folha de São Paulo.
“O Brasil é uma grande nação, é uma importante âncora. Foi um dos primeiros países a eliminar a poliomielite. O que acontece no Brasil tem importância em termos globais. Mas o que lá acontece de mau também importa”, sublinhou Mike Ryan. “Outros países da região estão a ir numa boa direcção, mas isso não está a acontecer com o Brasil”, afirmou.
Além disso, diz a Reuters, o Brasil diminuiu a quantidade de testes realizados na última semana de Fevereiro, quando os casos de covid-19 estavam a aumentar: fez cerca de 44 mil testes PCR diários, quando na terceira semana de Dezembro tinha feito 65 mil por dia, mostram dados do Ministério da Saúde brasileiro, citados pela agência noticiosa.
As variantes do coronavírus estão a causar o recrudescimento da doença. Se a variante P.1 foi inicialmente detectada no estado em Manaus, no estado do Amazonas, agora está já espalhada pelo resto do país. Neste momento, disse Ryan, a situação aliviou um pouco nos hospitais do Amazonas e piorou noutros estados brasileiros.
As variantes tornam o vírus mais transmissível, e estão a fazer aumentar o número de hospitalizações, disse Maria Van Kerkhove, especialista em doenças infecciosas emergentes do Programa de Emergências em Saúde da OMS. Mas também há estudos que sugerem que “podem estar a tornar a doença mais grave”.
Mas é preciso não perder de vista que as medidas de distanciamento social, a criação de gestos-barreira contra o vírus, resultam para controlar estas novas variantes do coronavírus, tal como contra a estirpe original, sublinhou Van Kerkhove.
“Temos a funcionar um sistema internacional de vigilância epidemiológica para seguir a evolução do vírus, em que estão a ser usadas plataformas criadas para acompanhar outras doenças, como a gripe, a tuberculose ou HIV. Faz-se sequenciação genómica das variantes e os dados são partilhados com todo o mundo, para poder influenciar o desenvolvimento de métodos de diagnóstico, vacinas e medicamentos”, explicou Maria Van Kerkhove. “Ainda assim, não chega, e precisamos que mais países façam sequenciação de estirpes do vírus, embora com critério, por exemplo, de determinados aglomerados de casos”, frisou a cientista.