Reabertura da linha do Douro aprovada por unanimidade no Parlamento

Deputados defendem que Portugal deve avançar já para a reabertura da linha entre Pocinho e Barca de Alva sem esperar pelo lado espanhol

Foto
Anna Costa

Os projectos de resolução do BE, PAN, PSD, PCP e PEV que defendem a requalificação da linha do Douro e reabertura do troço Pocinho-Barca de Alva foram aprovados por unanimidade. O debate parlamentar que antecedeu a votação mostrou sintonia na intenção de devolver a linha do Douro à sua configuração inicial, com a reabertura do troço Pocinho-Barca de Alva (encerrado em 1988), mas também na prioridade em modernizar a totalidade desta infra-estrutura, cuja electrificação ainda só chegou a Marco de Canaveses.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Os projectos de resolução do BE, PAN, PSD, PCP e PEV que defendem a requalificação da linha do Douro e reabertura do troço Pocinho-Barca de Alva foram aprovados por unanimidade. O debate parlamentar que antecedeu a votação mostrou sintonia na intenção de devolver a linha do Douro à sua configuração inicial, com a reabertura do troço Pocinho-Barca de Alva (encerrado em 1988), mas também na prioridade em modernizar a totalidade desta infra-estrutura, cuja electrificação ainda só chegou a Marco de Canaveses.

Os deputados lamentaram o encerramento das linhas de via estreita do Tâmega, do Corgo, do Tua e do Sabor e até mesmo os partidos com responsabilidades governativas nas últimas décadas reconheceram que o país apostou, erradamente, em fechar linhas férreas em troca de auto-estradas.

Bruno Dias, do PCP, leu uma intervenção sobre a linha do Douro feita em 1991 pelo então deputado comunista Agostinho Lopes, que, surpreendentemente, se mantinha actual, pois nos últimos 30 anos nada mudou.

Referindo-se ao argumento do Governo de que é difícil reabrir a linha até Barca de Alva porque Espanha não quer abrir do lado de lá da fronteira, Bruno Dias apelou a que funcionem os canais diplomáticos, mas recusa que Portugal não faça já a sua parte.

“Faz sentido reabrir a linha mesmo sem a Espanha”, disse, pois este investimento justifica-se com o minério de Moncorvo, a coesão territorial e o turismo numa região que é Património Mundial.

Luís Leite Ramos, do PSD, também referiu que a linha do Douro une quatro sítios classificados como Património Mundial pela UNESCO (Porto, Guimarães, Douro Vinhateiro e Foz Côa), mas sublinhou a importância deste eixo ferroviário no transporte de mercadorias e na ligação ao Porto de Leixões, referindo um estudo de 2016 da então Refer (hoje Infraestruturas de Portugal) que “desmistifica a alegada inadequação técnica da via para a circulação de composições pesadas de mercadorias”.

O deputado social-democrata afirmou: “a actual direcção da IP tem sido o maior obstáculo, diria mesmo, o maior inimigo da reabilitação e da reabertura da linha ferroviária do Douro” pois tem “ignorado as conclusões dos estudos da empresa e os argumentos económicos dos operadores ferroviários, a começar pelo presidente da CP, mas também pelos operadores privados, e até da abertura e manifestação de interesse do próprio ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos”.

Santinho Pacheco, do PS, recordou uma iniciativa em Barca de Alva em 2007, a propósito dos 20 anos do encerramento da linha (que contou com a presença da então secretária de Estado dos Transportes, Ana Paula Vitorino), da qual os participantes “saíram não só com a ambição, mas também com a certeza de que [a reabertura] seria uma realidade”. Mas 14 anos depois, nada aconteceu.

O deputado socialista disse que do lado espanhol o investimento é muito maior, pelo que não é de esperar grande interesse do país vizinho na reabertura, devendo, por isso, Portugal avançar já até Barca de Alva. “O problema não é bilateral, é exclusivamente português”, sublinhou, adiantando que “o interior não tem mais tempo a perder” pois há 34 anos que reivindica, sem êxito, este projecto nas cimeiras ibéricas.