Não sei quantos tradutores negros existem no meu país, nem na Holanda. Admito que não conheço nenhum(a) tradutor(a) literário(a) não branco(a), mas decerto que os há e porventura terão mais dificuldades em trabalhar na área do que eu. Nesta, como noutras profissões, sou a favor de políticas de incentivo ao ingresso do mercado de trabalho das minorias, inclusive beneficiando-as sobre os seus congéneres maioritários, numa tentativa de descalibrar injustiças sócio-históricas. Por isso, creio ser interessante o caso das manifestações contra a escolha da poeta holandesa branca Marieke Lucas Rijneveld para traduzir a obra da poeta negra Amanda Gorman, que recentemente declamou o poema The Hill we Climb na cerimónia inaugural da presidência de Joe Biden. É interessante pelo facto de ter levantado a lebre e agora falar-se dela, e podermos perguntar-nos afinal onde estão os tradutores negros, para além de ponderarmos o âmbito das “políticas de identidade” e o que possa ser a parcialidade da representação.
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Não sei quantos tradutores negros existem no meu país, nem na Holanda. Admito que não conheço nenhum(a) tradutor(a) literário(a) não branco(a), mas decerto que os há e porventura terão mais dificuldades em trabalhar na área do que eu. Nesta, como noutras profissões, sou a favor de políticas de incentivo ao ingresso do mercado de trabalho das minorias, inclusive beneficiando-as sobre os seus congéneres maioritários, numa tentativa de descalibrar injustiças sócio-históricas. Por isso, creio ser interessante o caso das manifestações contra a escolha da poeta holandesa branca Marieke Lucas Rijneveld para traduzir a obra da poeta negra Amanda Gorman, que recentemente declamou o poema The Hill we Climb na cerimónia inaugural da presidência de Joe Biden. É interessante pelo facto de ter levantado a lebre e agora falar-se dela, e podermos perguntar-nos afinal onde estão os tradutores negros, para além de ponderarmos o âmbito das “políticas de identidade” e o que possa ser a parcialidade da representação.