Regulador europeu aprova vacina da Johnson & Johnson. Como funciona? Quantas vamos receber?

A Agência Europeia de Medicamentos aprovou o uso desta vacina, que deve chegar a Portugal no segundo trimestre de 2021 e é administrada numa única dose. Os EUA já tinham dado luz verde a esta vacina.

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As autoridades de saúde pública têm estado a contar com esta vacina para acelerar as campanhas de imunização Reuters/LIM HUEY TENG

A vacina desenvolvida pela Janssen, uma empresa da Johnson & Johnson, contra a covid-19 tornou-se esta quinta-feira a quarta a ser autorizada na Europa pela Agência Europeia de Medicamentos. Foi a primeira a ser testada já com as novas variantes do coronavírus a circular e o facto de ser aplicada numa única dose pode, espera-se, acelerar a campanha de imunização mas não imediatamente, pois as primeiras doses só devem começar a ser entregues a partir de meados de Abril.

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A vacina desenvolvida pela Janssen, uma empresa da Johnson & Johnson, contra a covid-19 tornou-se esta quinta-feira a quarta a ser autorizada na Europa pela Agência Europeia de Medicamentos. Foi a primeira a ser testada já com as novas variantes do coronavírus a circular e o facto de ser aplicada numa única dose pode, espera-se, acelerar a campanha de imunização mas não imediatamente, pois as primeiras doses só devem começar a ser entregues a partir de meados de Abril.

Qual é o mecanismo de acção desta vacina?

A vacina da Janssen contra a covid-19 usa um vector viral – um adenovírus, que é um tipo de vírus que causa constipações comuns, mas inactivado, no qual foi inserido o ADN de um gene do novo coronavírus, aquele que comanda a produção da proteína spike, a chave-mestra que o SARS-CoV-2 usa para entrar nas nossas células. Este material genético não se insere no nosso próprio ADN, mas as células do nosso sistema imunitário lêem-no e passam a produzir cópias desta proteína. Desta forma, aprendem a reconhecê-la como um alvo a atacar, caso haja uma infecção.

Outras vacinas de vectores virais contra a covid-19 são, por exemplo, a da AstraZeneca e a russa Sputnik V. A tecnologia de vectores virais começou a ser desenvolvida na década de 1970 e já foi testada para desenvolver outras vacinas. Um sucesso recente deste tipo de plataforma tecnológica foram duas vacinas contra o ébola – que estão a ser usadas no actual surto desta febre hemorrágica em África.

É diferente assim das vacinas da Pfizer-BioNtech e da Moderna, que usam ARN-mensageiro para inserir o gene que comanda a produção da proteína spike nas células, para desencadear uma reacção imunitária.

Ou de vacinas mais tradicionais, como a Coronavac chinesa, que usa todo o vírus inactivado para desencadear a mesma reacção imunitária.

A vacina é da Janssen ou da Johnson & Johnson?

A vacina foi desenvolvida pela Janssen, uma empresa com sede na Bélgica subsidiária da multinacional Johnson & Johnson.

Quando é que esta vacina pode chegar a Portugal?

As vacinas da Janssen devem começar a chegar a Portugal na segunda metade de Abril, disse ao PÚBLICO fonte da farmacêutica, tal como aos restantes países europeus. O primeiro lote a chegar a Portugal será de 1,25 milhões de doses de um total de 4,5 milhões canalizadas para Portugal, para chegar ao longo de 2021. A Comissão Europeia contratou o fornecimento de 200 milhões de doses da vacina da Janssen, com a opção de mais 200 milhões.

Há a esperança de que o ritmo da campanha de vacinação possa acelerar-se. Isso confirma-se?

Tal como outros fabricantes de vacinas, a Janssen, e a empresa-mãe, a Johnson & Johnson, lutam com dificuldades para cumprir os prazos de todas as encomendas com que se comprometeram. Nos Estados Unidos, a Administração de Joe Biden promoveu um acordo da Johnson & Johnson com a Merck, para ajudar a fabricar e distribuir esta vacina. Nos países europeus, a expectativa é a de que as primeiras doses da vacina comecem a chegar a partir de 1 de Abril, e isso numa perspectiva optimista. A empresa só garantiu que forneceria vacinas no segundo trimestre, e, segundo o eurodeputado alemão Peter Liese, citado pelo Politico, podem começar a chegar apenas a partir de meados de Abril. Não veremos chegar em poucos dias esta vacina, como aconteceu com a vacina da Pfizer-BioNtech.

Segundo as contas do Politico, no fim do segundo trimestre, a União Europeia deve ter cera de 570 milhões de doses de vacinas: cerca de 300 milhões da Pfizer-BioNtech, 35 milhões da Moderna, 180 milhões da AstraZeneca e 55 milhões da Janssen.

É verdade que é preciso uma única dose?

Esta foi a única vacina contra a covid-19 que desde o início foi testada usando apenas uma única dose, aplicada através de injecção intramuscular. Todas as outras disponíveis até agora foram concebidas para serem usadas com duas doses. Não é inédito que uma vacina funcione apenas com uma dose – simplesmente repetindo as doses espera-se garantir maior efeito.

A Food and Drug Administration (FDA), a agência que regula os medicamentos nos Estados Unidos, aprovou a vacina da Janssen no final de Fevereiro para ser administrada a maiores de 18 anos, sem limites de idade. Tal como as restantes vacinas, pode ter efeitos secundários temporários, ou provocar reacções alérgicas em pessoas com um historial de alergias graves.

Qual é a eficácia desta vacina?

Os ensaios clínicos mostraram que uma única dose desta vacina tem uma eficácia de até 72% nos Estados Unidos. Mas nos ensaios realizados na África do Sul, onde é maioritária a variante do coronavírus B.1.351, uma das que causam mais preocupação, a sua eficácia na protecção contra doença moderada a severa ficou-se pelos 57%. Mas esta variante também diminui a eficácia das vacinas da Pfizer-BioNTech, Moderna, AstraZeneca e da Novavax, esta última ainda em desenvolvimento.

Porém, os ensaios clínicos em três continentes, que levaram em conta múltiplas variantes do coronavírus, revelaram que a vacina teve uma eficácia de 66% na prevenção da covid-19.

No entanto, a vacina da Janssen foi 85% eficaz a evitar a doença na forma grave em todas as geografias. Mas tal como todas as outras vacinas aprovadas, protege totalmente contra a hospitalização, mesmo contra múltiplas variantes, 28 dias após a imunização.

Parece ter uma taxa de eficácia mais baixa do que a das vacinas de ARN-mensageiro da Pfizer-BioNtech e da Moderna, que apresentam valores na ordem dos 95%. Contudo, além de ser complicado comparar ensaios clínicos que não foram feitos para ser comparados entre si, é preciso ter noção de algo importante: as vacinas de ARN-mensageiro foram testadas quando ainda não estavam a circular as variantes do coronavírus que agora nos preocupam, por poderem afectar a eficácia da imunização e causar uma forma mais grave da doença. Já os ensaios clínicos da vacina da Janssen foram feitos quando as variantes estavam a circular e sofrem os seus efeitos.

Quando um estudo pequeno indicou que a vacina da AstraZeneca teria maus resultados face à variante B.1.351, a África do Sul deu as suas doses desta vacina à União Africana e optou por vacinar a sua população com a Janssen o Presidente, Cyril Ramaphosa, deu o exemplo, sendo dos primeiros a vacinar-se.

Quanto à diversidade dos participantes nos ensaios clínicos, cerca de um terço tinham 60 anos ou mais. Dois terços podiam ser classificados como brancos e 20% negros, diz a empresa.

Qual a vantagem de ser só uma dose?

As autoridades de saúde pública têm estado a contar com esta vacina não só para alargar o leque da oferta, como para simplificar a campanha de imunização. Se não necessita de uma segunda dose, toda a logística e procedimentos são simplificados.

Por outro lado, a vacina da Janssen não necessita de ser mantida a temperaturas extremamente baixas, o que a torna uma forte candidata para utilização em partes do mundo com fracas infra-estruturas de transporte e instalações de armazenamento de frio insuficientes. Consegue permanecer viável num congelador durante três meses, a uma temperatura entre 2 e 8 graus Celsius e pode ser congelada a 20 graus negativos durante dois anos.

A Janssen comprometeu-se a vender vacinas para os países mais pobres?

A empresa comprometeu-se a enviar 500 milhões de doses para a iniciativa Covax, na qual participam, entre outros, a Organização Mundial da Saúde, a distribuir até 2022, diz um comunicado oficial.