Para unir Loures ao Tejo, um percurso que “é mais do que um passadiço”
Concurso para a obra foi aprovado e a estrutura deve estar pronta a tempo da Jornada Mundial da Juventude, em 2023. Ficará assim completa a ligação ribeirinha de Cascais a Vila Franca.
“Isto é mais do que um passadiço”, diz Tiago Matias logo a abrir. No topo norte do Parque do Tejo e do Trancão, ainda em Lisboa, o vereador da Câmara de Loures aponta para o sapal que se estende a perder de vista e pede que se imagine o que será percorrer aquele espaço na estrutura de madeira que ali vai ser construída. “Vamos andar por cima de uma zona húmida com características ecológicas únicas.”
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“Isto é mais do que um passadiço”, diz Tiago Matias logo a abrir. No topo norte do Parque do Tejo e do Trancão, ainda em Lisboa, o vereador da Câmara de Loures aponta para o sapal que se estende a perder de vista e pede que se imagine o que será percorrer aquele espaço na estrutura de madeira que ali vai ser construída. “Vamos andar por cima de uma zona húmida com características ecológicas únicas.”
Se tudo correr como o vereador deseja, dentro de dois anos será possível ir de Cascais a Vila Franca de Xira a pé ou de bicicleta sempre junto ao Tejo. Faltam duas coisas para isso: uma ponte sobre o Trancão que Lisboa se encarregou de construir; o percurso daí em diante até à zona ribeirinha da Póvoa de Santa Iria.
Mais do que ligar dois pontos, o passadiço em madeira permitirá ligar dois mundos distantes, diz a arquitecta paisagista Catarina Viana, autora do projecto. “A cinco minutos do Parque das Nações parece que estamos a duas horas”, comenta. O sapal do Tejo é “um sítio absolutamente incrível” com “imenso valor ecológico” que agora ficará acessível, acrescenta.
Com 6,2 quilómetros de extensão, o passadiço ficará assente em estacas e elevado em relação ao sapal para não perturbar este rico ecossistema e para que não fique submerso em caso de cheias – e isto já considerando a expectável subida do nível do mar que se avizinha.
O percurso definido não é em linha recta. “O que nós quisemos foi passar devagar. Em vez de fazer os seis quilómetros só para passar, quisemos que as pessoas ficassem”, explica a arquitecta paisagista do atelier Topiaris. “Ondulámos o percurso para o atrasar, para que o sapal se possa ver de diferentes perspectivas”, diz Catarina Viana. Por outro lado, há zonas em que o passadiço se eleva ainda mais “para que fiquemos muito mais altos do que o rio”.
Este projecto vai “tornar a trazer as pessoas ao Tejo”, acredita Tiago Matias. O caminho tem sido longo. Há cerca de dois anos, a autarquia assinou protocolos com a Petrogal e a Tavares e Companhia – Cortiças SA para receber os terrenos junto ao rio e assim avançar finalmente para a concretização do Parque Ribeirinho de Loures, cujo único troço já aberto ao público fica em Santa Iria de Azóia e tem 740 metros. De então para cá o projecto esteve a ser analisado por várias entidades e foi sofrendo alterações para que o impacto no sapal fosse o menor possível.
Esta quarta-feira foi aprovado em câmara o lançamento do concurso público para a empreitada, no valor de 7,2 milhões de euros, para o qual a autarquia teve de contrair um empréstimo bancário. Contando que não haja litigância entre concorrentes e que o visto do Tribunal de Contas não demore muito, a expectativa de Tiago Matias é que a obra possa arrancar ainda este ano para estar pronta a tempo da Jornada Mundial da Juventude, que foi adiada para 2023.
“Há muito a trabalhar e poderíamos já ter estado a trabalhar este ano”, diz o vereador, lamentandco que só agora o Governo se prepare para aprovar uma resolução de Conselho de Ministros que cria uma estrutura própria para preparar esse megaevento católico. Uma das coisas que Loures quer garantir é que o terminal de contentores da Bobadela vai ser deslocalizado. “A parte sul e central sairá até à Jornada, a parte norte sairá depois”, revela Tiago Matias.
Esse será também um passo fundamental para que os lourenses consigam aceder ao futuro parque. “Loures só tem esta frente de rio. Há o IC2 em toda a extensão, a linha do comboio e uma zona industrial ainda muito maciça. Isto afasta as pessoas todas”, constata Catarina Viana.
Numa zona “muitíssimo sensível”, diz a arquitecta paisagista, “a obra tem de se revestir dos maiores cuidados”. É por isso que “há um canal de obra muito, muito estreito” e os trabalhadores e materiais nunca poderão pisar o sapal. Além disso, acrescenta o vereador, antes, durante e após a construção será monitorizado o comportamento das muitas aves que ali acorrem para se alimentar e fazer ninhos. Se necessário for, em período de nidificação, a obra será interrompida. “Se estragássemos o valor que ali está, não teria interesse nenhum fazer isto”, conclui Catarina Viana.