Lisboa vai desafiar as suas gentes a filmarem os seus bairros
Está a decorrer a décima edição do programa municipal BIP/ZIP, por isso, este é um ano de comemoração. Entre as actividades anunciadas está um concurso de curtas-metragens, um roteiro por dez zonas da cidade que têm esta “marca” e um mural em homenagem ao actor Bruno Candé.
Foi há uma década que a Câmara de Lisboa quis olhar para os seus territórios mais críticos e pôr a comunidade a pensar neles. São locais onde a intervenção era prioritária, zonas de onde se queria retirar a palavra - e o estigma - "problemática”. Assim nasceu o programa BIP/ZIP, pela mão de Helena Roseta, à data vereadora da Habitação, tendo como missão fazer chegar a voz da população à gestão da cidade.
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Foi há uma década que a Câmara de Lisboa quis olhar para os seus territórios mais críticos e pôr a comunidade a pensar neles. São locais onde a intervenção era prioritária, zonas de onde se queria retirar a palavra - e o estigma - "problemática”. Assim nasceu o programa BIP/ZIP, pela mão de Helena Roseta, à data vereadora da Habitação, tendo como missão fazer chegar a voz da população à gestão da cidade.
A ideia era melhorar o dia-a-dia de bairros desfavorecidos da capital — os chamados Bairros/Zonas de Intervenção Prioritária (BIP/ZIP). E isso, uma década volvida, foi conseguido, assume a actual vereadora da Habitação e Desenvolvimento Local, Paula Marques, consciente contudo de que há ainda muito por fazer e onde chegar.
“Esta é a cidade que queremos construir”, começou por dizer a autarca na apresentação da programação comemorativa dos dez anos do programa, acenando logo depois com alguns exemplos de projectos que nasceram com o BIP/ZIP, financiados pelo município, e que depois de autonomizaram. São os casos da Cozinha Popular da Mouraria ou da padaria comunitária do Bairro da Boavista, em Benfica. “Tudo isto tem sido construído com uma visão crítica e reivindicativa das organizações locais”, notou.
Este ano é, por isso, de celebração. Não se sabe ainda o quão presenciais poderão ser as iniciativas, mas há já uma programação e actividades que se poderão fazer online e que podem ser consultadas no novo site do programa.
Entre essas, destaca-se um concurso de curtas-metragens — “O Meu bairro é Lisboa” — sobre o passado, o presente ou até o futuro de dez bairros BIP/ZIP. A ideia é que os moradores peguem nos seus telefones e encontrem histórias no seu bairro e depois as transformem numa história contada num pequeno filme. “O objectivo deste desafio será partilhar as perspectivas dos vários bairros de Lisboa, formando um olhar conjunto sobre a cidade”, explicou Maria João, da Apordoc - Associação pelo Documentário.
Entre esta quarta-feira e 5 de Abril, as equipas (constituídas por três a cinco pessoas, sendo que pelo menos uma deverá ser moradora) poderão concorrer com a sua ideia. A 16 de Abril, serão divulgadas as dez ideias vencedoras. Poderão depois começar as filmagens, tendo acompanhamento em oficinas de formação
Consciente de que muitos munícipes passam ou usufruem de espaços e de serviços que nasceram no âmbito do BIP/ZIP, o município vai criar um roteiro por projectos que nasceram neste programa.
E, sem esquecer um dos muitos participantes no programa, o município vai promover a criação de um mural em homenagem a Bruno Candé, o actor de 39 anos da companhia de teatro Casa Conveniente, que foi assassinado no Verão passado por, diz a acusação, ódio racial.
Em curso está a décima edição do programa, na qual 38 projectos têm como missão realizar, num ano, 215 actividades em 42 territórios BIP/ZIP. São projectos que se dirigem sobretudo a jovens, mas também aos grupos vulneráveis e às famílias, focados na promoção da inclusão, na prevenção e na promoção de competências e do empreendedorismo - com foco no impacto que a pandemia de covid-19 está a causar.
Em dez anos, segundo o último balanço da autarquia, o programa BIP/ZIP chegou a 143 mil habitantes de 67 territórios da capital. Foram investidos 15,7 milhões de euros com a realização de 391 projectos, por 647 entidades.
Ainda nesta sessão, o município e os parceiros apresentaram “Jogo de Desenvolvimento Local”, que nada mais é do que um jogo que funciona como uma ferramenta de discussão participativa.
Na prática, todos os jogadores – se quisermos, moradores, activistas e decisores políticos, por exemplo – reúnem-se à volta da mesa para discutir quais são as prioridades para resolver determinado problema, conscientes de que, pelo caminho, muitas cedências terão de fazer.
Este jogo, resultado de um projecto BIP/ZIP, está em fase final de desenvolvimento, e será disponibilizado online. A câmara pretende distribui-lo aos parceiros, assim como ao seu presidente, Fernando Medina, para que o aplique nas suas decisões.
Para os próximos dez anos, diz a vereadora, o projecto terá de continuar a adaptar-se às necessidades que vão surgindo, como a pandemia que há mais de um ano assola o planeta. “Continuamos a lutar por esta cidade mais participada a todos os níveis. Esta crise tem de nos fazer evoluir. Temos de combater desigualdades”, disse Paula Marques. “É um caminho longo, com algumas pedras, mas para isso é que aqui estamos. Para as ir tirando o caminho.”