“Um barco único no mundo” sem permissão para atracar em Aveiro

Nos últimos anos, para além de ter feito parte da Team UK na America’s Cup, Renato Conde contruiu um barco do qual terá a patente mundial, mas continua sem autorização da Agência Portuguesa do Ambiente para o colocar num cais.

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A ligação de Renato Conde à vela, seja como velejador, seja como membro de equipa de terra de equipas de elite, como a Ineos Team UK na 36.ª edição da America’s Cup, teve como responsável e impulsionador o seu pai, Delmar Conde, que tem há mais de três décadas um estaleiro de construção naval em Ílhavo, procurado por equipas de topo em diferentes classes.

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A ligação de Renato Conde à vela, seja como velejador, seja como membro de equipa de terra de equipas de elite, como a Ineos Team UK na 36.ª edição da America’s Cup, teve como responsável e impulsionador o seu pai, Delmar Conde, que tem há mais de três décadas um estaleiro de construção naval em Ílhavo, procurado por equipas de topo em diferentes classes.

Habituado desde pequeno a desenvolver valências nas várias vertentes náuticas – “O meu pai sempre me disse que nos barcos temos que ser polivalentes” –, Conde tem actualmente nas mãos um projecto inovador, sem paralelo a nível mundial – um barco a motor com “uma casa em cima”. Há, no entanto, uma questão para resolver: a falta de autorização por parte da Agência Portuguesa do Ambiente (APA) para acostar a embarcação a um cais.

A ideia, revela Renato Conde em conversa com o PÚBLICO, surgiu pela necessidade “de fazer algo diferente, onde fosse possível ter a família e conforto”. Com a possibilidade de trabalhar no estaleiro da Delmar Conde, Renato Conde avançou para construção de “uma casa flutuante auto-sustentável”. Assim, nasceu um barco com “16 metros de comprimento por oito de boca [largura], dois quartos, duas casas de banho, uma sala e uma cozinha, com um total de 85m2 de habitabilidade, para além de uma esplanada com 12m2 e um fly-bridge”.

Segundo o aveirense, o barco já tem “toda a documentação necessária” e está “registado como categoria 3, podendo fazer toda a costa mediterrânica e atlântica – só não pode fazer travessias transatlânticas”. “Temos um barco praticamente concluído. Está tudo a funcionar bem e estão a ser limados os últimos detalhes. Terá patente mundial e é um barco único no mundo. É o único que é considerado um power boat, com velocidades superiores a 15 nós, com uma casa em cima.”

O projecto “despertou o interesse de muitos estrangeiros, principalmente nórdicos que são loucos por barcos-casa”, mas Conde confessa estar “desmotivado” pelas “pedras no sapato e entraves” que tem encontrado. Não existindo em Aveiro nenhuma marina ou porto de recreio com condições para receber um barco com estas dimensões, o velejador comprou “um cais e uma ponte de acesso, mas, até hoje, quase dois anos depois”, continua sem permissão para acostar o barco.

“Dei três ou quatro possibilidades de colocação do cais. Há vários [cais] em Aveiro que foram atribuídos a embarcações que cabem em marinas, o que não acontece com este barco. A mim, o que me foi dito é que não se enquadrava na zona paisagística da Costa Nova, apesar de ser elegante e de ter linhas modernas. Mais tarde, vim a saber que um antigo barco da Douro Azul, com 70 metros de comprimento, antigo e de ferro, que pertence à Martifer, ficará a poucos metros do cais que eu tinha estipulado inicialmente.”

Agradecendo ao Porto de Aveiro pela “cordialidade”, ao permitir a colocação “a título excepcional e temporário” do barco no porto de pesca costeiro, Renato Conde lamenta, porém, que uma “instituição com influência” não tenha “força para resolver um entrave criado pela APA”, um organismo que “está longe da água” e que “não sabe do que se está a falar, ao contrário dos órgãos que estão sediados na ria de Aveiro”. 

Surpreendido pela “falta de eficiência e de apoio” por parte da Câmara Municipal de Ílhavo, que fez “parte das negociações desde o início”, mas “diz não ter responsabilidades”, delegando “a culpa na Administração da Região Hidrográfica do Centro”, Renato Conde mostra-se desiludido por ver um “projecto real” ter “problemas com as autoridades”, enquanto “outras empresas, que abrem e fecham, têm apoios e as portas sempre abertas”.

A terminar, o velejador aveirense deixa um apelo: “Ganho a minha vida fora de Portugal e sinto-me frustrado por ter trazido para Aveiro um projecto destes e estar a lutar contra a maré. Não estou a pedir que me seja dado nada. Apenas estou a pedir permissão para a colocação de uma coisa que eu fiz, construí e paguei. Só estou a pedir que me digam onde posso colocar o cais, a meu custo.”

Notícia corrigida: O organismo que tem a responsabilidade de conceder a autorização é a Agência Portuguesa do Ambiente e não o Porto de Aveiro.