Não é por Lisboa, é contra o PS
Os lisboetas não se esquecerão de Carlos Moedas nos malfadados tempos da troika, em que sofremos a bom sofrer entre uma espada que nos ameaçava e outra que nos retalhava. Por ele, Lisboa bem poderia tornar-se numa Disneylândia privada.
As autárquicas aproximam-se e com isso os candidatos perfilam-se. Há sempre duas câmaras que suscitam naturalmente maior curiosidade e interesse: Lisboa e Porto.
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As autárquicas aproximam-se e com isso os candidatos perfilam-se. Há sempre duas câmaras que suscitam naturalmente maior curiosidade e interesse: Lisboa e Porto.
Não havendo ainda qualquer anúncio relativamente ao Porto, não podemos ficar indiferentes ao que se vai sabendo sobre Lisboa. Os partidos da direita desdobram-se em esforços e negociações para, supostamente, fazerem uma coligação alargada, mas não conseguem mais do que nos brindarem com uma trapalhada monumental.
Desde logo porque o PSD teve que apresentar o seu candidato à pressa, de forma trapalhona e atabalhoada, porque o nome de Carlos Moedas tornara-se público antes mesmo de ser anunciado. Percebe-se hoje que negociavam uma candidatura alargada, que incluiria todos os partidos da direita liderada pelo PSD, um castelo de cartas que ruiu mal jogaram o seu trunfo. Um sete de espadas, que se viu apresentado por Rui Rio enquanto se mantinha calado, taciturno, encostado ao fundo da apresentação, numa conferência de imprensa convocada à pressa, e no fim nem uma só palavra. Nunca tal se tinha visto.
E digo um sete de espadas, porque se para o PSD este é aparentemente o seu melhor trunfo, os portugueses, e os lisboetas naturalmente, não se esquecerão da sua relevância nos malfadados tempos da troika, em que sofremos a bom sofrer entre uma espada que nos ameaçava e outra que nos retalhava. Carlos Moedas era, afinal, um dos seus mais próximos colaboradores, o que lhe valeu à época o epíteto de “grilo falante da troika”. Por ele, nem Carris, nem Metro, nem nada. Lisboa bem poderia tornar-se numa Disneylândia privada.
Mas como “o que nasce torto, tarde ou nunca se endireita”, esta suposta coligação federadora das direitas converteu-se num nado-morto. A Iniciativa Liberal, um dos partidos em que mais apostavam, tratou de demarcar-se de imediato, apresentando com estrondo um candidato próprio. Carlos Moedas veio publicamente afirmar que nada havia mudado, mas todos percebemos que mudou. Só não mudaram as trapalhadas.
A propósito da apresentação relâmpago, como se se esperasse uma reação épica e entusiástica das populações (que nem aconteceu dentro do próprio PSD, diga-se), Carlos Moedas surge perdido numa imagem multicolorida, onde imperava o roxo, com o lema: “Por Lisboa, Sem Medo do Futuro.” A própria imagem de candidatura tem sido uma trapalhada, porque logo de seguida se apresenta sobre os auspícios de “Novos Tempos”. Sabem lá afinal o que querem.
Ora, por Lisboa, já sabemos que não é, porque dias depois surge uma outra peça de comunicação a afirmar estarem “cansados da governação socialista”. Logo todos sabemos que não é por Lisboa, é contra o Partido Socialista! É pela sobrevivência do seu próprio partido que soçobra às mãos de um líder fraco. E o que podemos esperar? Nada. Com Carlos Moedas ficaremos sem nada.
Sem Carris e sem Metro, que tentarão rapidamente privatizar. Voltaremos a ter aumentos dos passes, ou o fim do passe único metropolitano, que nunca quiseram aprovar. Voltaremos a uma austeridade cega, e uma gestão implacável com as pessoas.
Fernando Medina recusou-se a comentar o anúncio desta candidatura, lembrando que tem um programa para cumprir como presidente da Câmara de Lisboa. E fez bem, não vale a pena perder tempo precioso a comentar uma candidatura tão atrapalhada e que nos traz tantas más memórias. Por muito que se desdobrem a lançar frases de campanha, todos os dias, que tentam fazer passar boa imagem de um político, que entretanto tentou limpar a sua imagem num cargo europeu, os lisboetas não esquecem a relevância que teve nos tempos da I. Por muito que tente afirmar que se apresenta “por Lisboa, sem medo do futuro”, sabemos claramente que, na verdade, se apresenta por uma “Lisboa sem futuro”, contra os Lisboetas e contra o Partido Socialista.
Não esquecemos a célebre lei das rendas, que tantos lisboetas obrigou a abandonar a cidade: Medina e o PS responderam com rendas acessíveis e com o Habitar Lisboa. Não esquecemos a tentativa inglória de privatizar a Carris e o Metro: Medina respondeu com a gestão municipal da empresa, renovou a frota e ainda baixou os preços dos títulos de transporte, favorecendo as famílias e os lisboetas.
O governo PSD-CDS e a sua austeridade levou ao abandono escolar: Medina respondeu em Lisboa com a oferta de manuais escolares a todos os alunos. A gestão socialista que o PSD tanto quer afastar com setes de espadas, biscas e cartas furadas, foi aquela que devolveu a cidade às pessoas, a reinventou e a colocou como uma das cidades destino mais procuradas do mundo.
Se é só isto? Não! Há muito, muito mais e nos cá estaremos para nos irmos lembrando e reavivando a memória de todos que uns há por aí, tal como Fernando Medina, que planeiam, definem políticas públicas com visão de presente e de futuro e as executam e, depois, outros que surgem, aqui e ali, de 4 em 4 anos a apregoar a malfadada desgraça socialista.
Existe apenas uma coisa adequada a fazer, a recusa em perder tempo precioso com veraneios eleitoralistas sazonais. Há uma cidade e as suas gentes para governar e, neste momento e de há um ano a esta parte, proteger, bem como aos seus cidadãos, de um inimigo, este sim temeroso, a pandemia covid-19.
Quanto ao resto, é só isso mesmo, o resto. E Lisboa é Lisboa...
A autora escreve segundo o novo acordo ortográfico