Bienal de Arquitectura de Veneza atribui Leão de Ouro Especial a Lina Bo Bardi
Arquitecta italo-brasileira, autora do Museu de Arte de São Paulo, foi agora reconhecida a título póstumo pelo conjunto da sua obra.
Lina Bo Bardi (1914-1992), a carismática arquitecta nascida em Roma que desenvolveu a parte mais marcante da sua obra no Brasil, e mais concretamente em São Paulo, onde assinou vários projectos até hoje muito celebrados, foi distinguida pela Bienal de Veneza, a título póstumo, com um Leão de Ouro Especial pelo conjunto da sua obra.
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Lina Bo Bardi (1914-1992), a carismática arquitecta nascida em Roma que desenvolveu a parte mais marcante da sua obra no Brasil, e mais concretamente em São Paulo, onde assinou vários projectos até hoje muito celebrados, foi distinguida pela Bienal de Veneza, a título póstumo, com um Leão de Ouro Especial pelo conjunto da sua obra.
O prémio, anunciado esta segunda-feira, foi proposto por Hashim Sarkis, o curador da 17.ª edição da Bienal italiana, que vai decorrer entre 22 de Maio e 21 de Novembro (um ano depois do que deveria ter acontecido, por causa da pandemia da covid-19), e aprovado pela direcção do evento.
“Se há arquitecto que verdadeiramente encarna o tema da Bienal de Arquitectura 2021 [Como vamos viver juntos?], é Lina Bo Bardi. A sua carreira como designer, editora, curadora e activista lembra-nos o papel do arquitecto como organizador e, mais importante do que isso, como construtor de visões colectivas. Lina Bo Bardi também significa a perseverança do arquitecto em tempos difíceis, sejam eles guerras, conflitos políticos ou migrações, e a sua capacidade de permanecer criativa, generosa e optimista”, justifica o arquitecto e curador libanês, citado no comunicado da bienal. “Acima de tudo, são os seus fantásticos edifícios que se destacam, tanto pelo projecto como pela forma como unem a arquitectura com a natureza, a vida e a comunidade. Nas suas mãos, a arquitectura torna-se verdadeiramente uma arte social, que convoca as pessoas”, acrescenta Hashim Sarkis.
Considerada uma das mais importantes arquitectas da história do Brasil – país onde se radicou após a Segunda Guerra Mundial, depois de ter casado com o historiador e coleccionador de arte Pietro Maria Bardi (1900-1999) –, Lina Bo Bardi conta, entre as várias obras que projectou em São Paulo, a sua Casa de Vidro (que habitou com o marido, e que posteriormente se tornou a sede do Instituto com o nome do casal), o complexo de cultura e lazer SESC-Pompeia e o Museu de Arte de São Paulo (MASP), que a Bienal de Veneza recorda agora como “exemplar na sua capacidade de criar um espaço público para toda a cidade, com zonas internas flexíveis e abertas a exposições experimentais e mais inclusivas, como as da própria Bo Bardi”. E cita algumas dessas realizações, que mostraram a capacidade que a arquitectura tem de aproximar as pessoas: A Casa como Alma, A Dignidade da Arquitectura e A Mão do Povo Brasileiro.
O Instituto Bardi agradeceu a atribuição do Leão de Ouro de Veneza, festejando o “reconhecimento actual de uma mulher generosa e multi-talentosa, que tocou tantas pessoas e continuará a inspirar muitas gerações vindouras”.
Numa referência ao tema da edição que vai começar no próximo mês de Maio, o Instituto Bardi, também citado pelo comunicado, realça que “a vida e a obra fantásticas de Lina Bo Bardi há muito tocam essa questão central” da vida em comunidade. “Infelizmente, como tem acontecido com os espaços públicos em todo o mundo, a pandemia global minou o uso dos icónicos lugares públicos que ela projectou no Brasil, e que têm servido as comunidades e os cidadãos desde há décadas. Nesse sentido, este prémio vem reafirmar a responsabilidade do Instituto Bardi em disponibilizar e comunicar ao público a importância do trabalho e dos materiais de arquivo do casal Bardi.”
A atribuição de um Leão de Ouro Especial a título póstumo é uma situação rara na história do evento. Antes de Lina Bo Bardi – segundo recorda o blogue de arquitectura ArchDaily –, só o arquitecto japonês Kazuo Shinohara (1925-2006) fora anteriormente distinguido postumamente, seguindo uma recomendação da sua compatriota Kazuyo Sejima, que foi a curadora da bienal de 2010, o mesmo ano em que recebeu o Prémio Pritzker.
Depois de dois adiamentos decididos no ano passado na sequência da pandemia, de que a Itália foi um dos primeiros países europeus (mais) afectados, a 17.ª Bienal de Arquitectura de Veneza irá realizar-se este ano sensivelmente nas mesmas datas que estavam previstas para 2020. A arquitectura portuguesa far-se-á representar no evento através do atelier depA, que divulgou na semana passada o calendário do seu programa, repartido entre um ciclo de debates a realizar entre Veneza, Lisboa e Porto, e uma exposição subordinada ao tema In Conflict, a apresentar no Palácio Giustinian Lolin, junto ao Grande Canal.