Alívio nos hospitais mantém-se, mas “é preciso reactivar os centros de saúde o mais rapidamente possível”
Estimativas da Associação dos Administradores Hospitalares pontam para entre 1839 e 1937 doentes com covid internados na próxima semana. Alexandre Lourenço alerta para a urgência de recuperar resposta a doentes sem covid.
“Os dados são positivos”, afirma o presidente da Associação Portuguesa dos Administradores Hospitalares (APAH), referindo-se às estimativas previstas para a próxima sexta-feira de camas ocupadas nos hospitais com doentes covid. O pior e o melhor cenário – tendo por base o relatório da Direcção-Geral da Saúde (DGS) da última quinta-feira e um aumento ou decréscimo de 2% no Rt – aproximam-se e apontam para entre 1839 e 1937 doentes com covid internados, dos quais entre 374 e 383 em unidades de cuidados intensivos (UCI).
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“Os dados são positivos”, afirma o presidente da Associação Portuguesa dos Administradores Hospitalares (APAH), referindo-se às estimativas previstas para a próxima sexta-feira de camas ocupadas nos hospitais com doentes covid. O pior e o melhor cenário – tendo por base o relatório da Direcção-Geral da Saúde (DGS) da última quinta-feira e um aumento ou decréscimo de 2% no Rt – aproximam-se e apontam para entre 1839 e 1937 doentes com covid internados, dos quais entre 374 e 383 em unidades de cuidados intensivos (UCI).
As previsões são superiores aos números reais desta sexta-feira – à excepção das camas de UCI -, mas voltam a mostrar um decréscimo em relação às estimativas anteriores, ainda que com uma quebra menos acentuada. “Há um decréscimo, mas cada vez mais lento. Acredito que dentro de duas a semanas estaremos na casa dos 250 casos [em UCI]”, diz Alexandre Lourenço.
Segundo o boletim da DGS, divulgado esta sexta-feira, estavam internados nos hospitais 1583 doentes com covid, dos quais 383 em UCI. O país registou nas 24 horas anteriores mais 949 novos casos e 28 mortes. Também ontem houve nova actualização do índice de transmissibilidade (Rt), que entre 24 e 28 de Fevereiro foi de 0,71. Uma ligeira subida em relação aos 0,68 e 0,66 das semanas anteriores.
O alívio da pressão tem impacto na necessidade de recursos humanos, permitindo libertar equipas das áreas de atendimento covid - “fazendo-as descansar – e “reactivar a actividade normal o mais rapidamente possível” para responder aos doentes sem covid. É para este ponto que o presidente APAH lança o alerta. “O problema grave que agora temos é a quebra da referenciação por parte dos cuidados de saúde primários. Temos quase um valor recorde de menos inscritos para cirurgia, mesmo tendo havido uma quebra das operações neste período [de pandemia]”, diz.
Também nas referenciações para primeiras consultas hospitalares – que chegam maioritariamente via médicos de família - “há quebras entre os 30% e os 50%”. “Isto funciona com uma bola de neve. Se não vão a consultas não fazem exames, se não os fazem não iniciam as terapêuticas nem se fazem referenciações para cirurgias”, explica Alexandre Lourenço, que deixa um repto: “É preciso reactivar os centros de saúde o mais rápido possível. Tem de ser priorizado.”
Para o presidente da APAH, devia existir uma orientação para que os centros de saúde convocassem os doentes mais críticos, como diabéticos, hipertensos, com insuficiência cardíaca, de forma a ser recuperado o acompanhamento presencial dos mesmos. Sugere o mesmo em relação à oncologia, defendendo que “têm de existir programas ágeis para reactivar os rastreios”. Dá o exemplo de emissões automáticas de requisições para a realização de mamografias em unidades convencionadas com o SNS no caso das mulheres que deviam ter feito o exame e não o fizeram. “Há muito a aprender para evitar que as pessoas percam tempo no sistema”, diz, também defendendo campanhas de informação que dêem confiança aos doentes para se deslocarem aos hospitais e centros de saúde quando precisam.
A quebra da taxa de incidência de novos casos de covid, que se começou a registar depois de o Governo ter aplicado um confinamento com regras mais apertadas, também já teve efeito sobre a necessidade de recursos humanos na área da saúde pública. Para a próxima semana, estimativas da ferramenta da APAH – que conta com a colaboração da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública – apontam para uma necessidade de rastreadores entre os 2222 e 2448 para a realização de inquéritos epidemiológicos, primeiro contacto e contactos subsequentes. Um número praticamente igual ao da estimativa anterior, mas ainda superior aos cerca de 1100 rastreadores que o Ministério da Saúde disse há umas semanas estarem no terreno.