100 anos do PCP-Renovador Comunista
Aa “geringonça” que viu a luz do dia em 2015 e que teve a assinatura de Jerónimo de Sousa (que na década de 90 alinhava pela via “cunhalista”) é exactamente o culminar de um caminho que há mais de 20 anos vários dirigentes comunistas apontavam - sem sucesso.
O PCP, que faz este sábado 100 anos, teve várias guerras intestinas. Uma delas teve a ver com os chamados renovadores comunistas que na década de 90 e depois de um longo ciclo de maiorias absolutas de Cavaco Silva, começaram a exigir mais à direcção do PCP, entre outras coisas, que dialogasse com o PS, que ajudasse a que houvesse mais respostas de esquerda para o país que passariam, assim, não apenas pelas ruas, pelos sindicatos, mas pela via parlamentarista. E é essa guerra que agora, nas comemorações dos 100 anos do partido sob o mote “O futuro tem partido”, nos parece irónica, aos olhos de hoje.
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O PCP, que faz este sábado 100 anos, teve várias guerras intestinas. Uma delas teve a ver com os chamados renovadores comunistas que na década de 90 e depois de um longo ciclo de maiorias absolutas de Cavaco Silva, começaram a exigir mais à direcção do PCP, entre outras coisas, que dialogasse com o PS, que ajudasse a que houvesse mais respostas de esquerda para o país que passariam, assim, não apenas pelas ruas, pelos sindicatos, mas pela via parlamentarista. E é essa guerra que agora, nas comemorações dos 100 anos do partido sob o mote “O futuro tem partido”, nos parece irónica, aos olhos de hoje.
Ao fim de uns anos, muitos renovadores acabaram expulsos (como Edgar Correia e Carlos Luís Figueira) ou suspensos (como Carlos Brito). Desde então e até há bem poucos anos, Carlos Luís Figueira, por exemplo, continuava a lamentar que “o PCP fosse um partido de protesto, lugar que lhe dá uma responsabilidade na gestão do país muito diminuta”. E Carlos Brito lembrava que “os comunistas não dialogam com os socialistas por terem medo de serem levados no processo”.
Ora, a “geringonça” que viu a luz do dia em 2015 e que teve a assinatura de Jerónimo de Sousa (hoje secretário-geral do PCP, mas que na década de 90 alinhava pela via “cunhalista") é exactamente o culminar de um caminho que há mais de 20 anos vários dirigentes comunistas apontavam - sem sucesso. Estes ex-dirigentes expulsos ou censurados por “terem propósitos de social-democracia” e insistirem em “acções fraccionárias”, recorde-se, quiseram fazer o debate numa altura em que o PS ganhou as eleições de 1995, ficando a poucos lugares da maioria absoluta, e em 1999, quando António Guterres conseguiu subir nas urnas mas falhou por um deputado a maioria absoluta. Imaginemos que nessa altura, na primeira legislatura de Guterres, teria havido uma “geringonça": o BE (fundado em 1999) poderia nunca ter existido, Durão Barroso e Santana Lopes poderiam nunca ter chegado a primeiros-ministros (um em 2002 e outro em 2004) ou até mesmo José Sócrates. Nunca saberemos. O que sabemos é que a luta pela sobrevivência do PCP - um case-study no Ocidente democrático - acabou inevitavelmente por passar pela abertura ao diálogo à esquerda e que hoje vivemos o momento em que mais influência o PCP tem na acção governativa (não vamos ter aqui em conta os governos provisórios após o 25 de Abril). Não diria que o PCP deveria mudar de nome como o CDS, quando se tornou CDS-Partido Popular, mas não deixa de valer a pena sublinhar, com alguma ironia, que este é um PCP-Renovador Comunista.