Papa chega ao Iraque numa “visita emblemática para cumprir um dever”
À chegada a Bagdad, Francisco disse que se sente a cumprir “um dever para com um território que tem sido martirizado durante muitos anos”.
O Papa Francisco chegou ao Iraque, esta sexta-feira, para uma visita de três dias que é a mais arriscada desde a sua eleição como chefe do Vaticano, em 2013. À chegada, Francisco disse que se sentiu obrigado a fazer esta visita por causa dos anos de “sofrimento do Iraque”.
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O Papa Francisco chegou ao Iraque, esta sexta-feira, para uma visita de três dias que é a mais arriscada desde a sua eleição como chefe do Vaticano, em 2013. À chegada, Francisco disse que se sentiu obrigado a fazer esta visita por causa dos anos de “sofrimento do Iraque”.
O avião da Alitalia que transportava o Papa, a sua comitiva e um grupo de 75 jornalistas aterrou no Aeroporto Internacional de Bagdad pouco antes das 14h locais (11h em Portugal continental).
“Sinto-me feliz por retomar estas visitas”, disse o Papa Francisco num breve comentário a bordo do avião, numa referência à suspensão de grande parte das actividades por causa da pandemia de covid-19, no ano passado. Esta é a primeira vez que Francisco sai de Itália desde Novembro de 2019.
“É uma viagem emblemática e é um dever para com um território que tem sido martirizado durante tantos anos”, disse o Papa Francisco, antes de colocar uma máscara e cumprimentar cada um dos jornalistas individualmente, sem apertar as mãos.
“Peregrino da paz”
É a primeira visita de um Papa a um país muçulmano de maioria xiita, numa missão em que se apresenta como “peregrino da paz”.
“Venho como peregrino para implorar ao Senhor perdão e reconciliação, depois de anos de guerra e terrorismo. Venho entre vós como peregrino de paz”, sublinhou o Papa, na quinta-feira, numa mensagem de vídeo publicada na véspera da sua partida.
Francisco, que tem no seu programa uma visita à planície de Ur, o lugar de Abraão (onde é recordado que as três principais religiões monoteístas têm a mesma origem), manifestou “o desejo de orar com irmãos e irmãs de outras tradições religiosas”.
No vídeo, o Papa considerou o povo iraquiano “uma única família, de muçulmanos, judeus e cristãos”.
A agenda papal inclui encontros com a comunidade católica, composta por 590 mil pessoas, cerca de 1,5% da população iraquiana; além de cristãos de outras Igrejas e confissões religiosas; líderes políticos; e o grande ayatollah Ali Sistani, a maior autoridade xiita do país.
O Papa vai passar por Bagdad, Najaf, Ur, Erbil (capital do Curdistão iraquiano), Mossul e Qaraqosh.
Segundo a agência Ecclesia, em 2003 havia cerca de 1,4 milhões de cristãos no Iraque.
De acordo com dados da Ajuda para as Igrejas Necessitadas (ACN), nos três anos de guerra contra o Daesh, 34 igrejas foram totalmente destruídas, 132 foram incendiadas, 197 parcialmente danificadas, assim como mais de mil casas de cristãos foram totalmente destruídas e mais de três mil incendiadas, mostrando o grau de perseguição a esta minoria religiosa que se concentra sobretudo no norte do Iraque.
Exemplo para outros líderes
O vice-ministro dos Negócios Estrangeiros do Iraque, Nizar Kheirallah, acentuou o simbolismo da visita de Francisco.
“Que responsável estrangeiro poderá agora recusar-se a vir ao Iraque se o Papa o fizer?”, enfatizou o responsável da Presidência iraquiana.
Em três dias, o Papa deverá percorrer mais de 1445 quilómetros de helicóptero ou avião e sobrevoará zonas onde se escondem ainda elementos activos do Daesh.
Símbolo das atrocidades dos fundamentalistas é Mossul, a terceira maior cidade do Iraque, onde o Papa fará uma oração pelas vítimas, no domingo.
Não sendo o distanciamento físico e o uso da máscara práticas muito seguidas pelos iraquianos, os organizadores da visita papal limitaram os lugares para as missas.
O estádio de Erbil, com 20 000 lugares, apenas deverá receber cerca de 4000 fiéis para a missa de domingo, e Francisco será privado dos habituais banhos de multidão.
Será ainda decretado um confinamento nacional durante todo o período da visita do Papa e “as forças de segurança serão destacadas para proteger as estradas”, disse o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros, Nizar Kheirallah.
Além das preocupações com a covid-19, a segurança estará alerta tendo em conta que Erbil e Bagdad (a segunda capital mais populosa do mundo árabe, com cerca de dez milhões de habitantes) foram palco recentemente de ataques de rockets contra interesses norte-americanos.