Treinar na rua “já era tendência e os confinamentos só vieram acelerar o processo”
Confinada em casa, num apartamento no centro de Lisboa, sem varanda, Mariana Tavares sentiu “muita necessidade de ir para a rua”, de se “mexer mais”. Foi então que começou a correr no Jardim do Campo Grande.
Se há um ano dissessem a Mariana Tavares que andaria a correr no Jardim do Campo Grande, em Lisboa, a própria provavelmente não acreditaria. Vive num apartamento sem varanda e, com a pandemia de covid-19, sentiu mais vontade do que nunca de ir para a rua. Agora, diz estar na melhor forma física de sempre. Faz parte das muitas pessoas que aproveitam os parques, jardins e ciclovias das cidades para praticar exercício físico.
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Se há um ano dissessem a Mariana Tavares que andaria a correr no Jardim do Campo Grande, em Lisboa, a própria provavelmente não acreditaria. Vive num apartamento sem varanda e, com a pandemia de covid-19, sentiu mais vontade do que nunca de ir para a rua. Agora, diz estar na melhor forma física de sempre. Faz parte das muitas pessoas que aproveitam os parques, jardins e ciclovias das cidades para praticar exercício físico.
Antes da pandemia de covid-19 tomar conta da vida dos portugueses, Mariana Tavares, de 31 anos, apenas treinava no ginásio e não com a frequência desejada. Confinada em casa, sentiu “muita necessidade de ir para a rua”, de se “mexer mais do que fazer um treino de força”. Foi então que começou a correr. No primeiro dia, obrigou-se — nas palavras da própria — a correr dois quilómetros. “Odiei ao início, mas obriguei-me e comecei a melhorar as distâncias.” Agora, costuma correr cerca de quatro quilómetros no Jardim do Campo Grande ou no Paredão de Cascais.
A corrida não é, ainda assim, o único exercício que faz, mas sim um complemento ao treino com personal trainer (PT). Quando os ginásios voltaram a abrir — a 1 de Junho de 2020 — não se sentiu “segura” e começou a treinar ao ar livre com o acompanhamento de Cláudia Dias. A PT conta como, mesmo pessoas que treinavam regularmente em ginásios, se converteram ao treino na rua. A pandemia garante a “oportunidade de fazer mais exercício do que antes” e “as pessoas preferem treinar ao ar livre” pois “sentem-se mais seguras”.
Cláudia Dias sublinha, também, que os resultados são “optimizados” e ainda “melhores”, quando comparados com um treino tradicional no ginásio. Mariana Tavares é exemplo disso. “Durante a pandemia, consegui emagrecer, aumentar a massa muscular e diminuir a massa gorda”, revela, acrescentando que fisicamente está “melhor do que nunca”.
Mas Mariana Tavares não está, de todo, sozinha na preferência pelo treino ao ar livre. José Maria Castelo Branco, responsável da Move Hiit e Paulo Teixeira, CEO e fundador da Powr Outdoor Fitness — empresas especializadas em treinos ao ar livre — garantem que se antes já havia procura, com a pandemia de covid-19 deu-se um “boom”.
Em 2019, o relatório anual da Academia Americana de Medicina Desportiva apontava o treino outdoor como a 17.ª tendência para o fitness naquele ano. No relatório de 2020, o treino ao ar livre subiu para o 13.º lugar e, agora, ocupa o 4.º lugar da tabela nas tendências de fitness para 2021. Por isso, Paulo Teixeira apoia-se nestes estudos para explicar que treinar na rua “já era tendência e os confinamentos só vieram acelerar o processo”.
Acelerar e de que maneira conta, por sua vez, José Maria Castelo Branco, que destaca o “crescimento brutal” da Move Hiit, depois do primeiro confinamento em 2020. “Duplicamos o número de fidelizações e temos agora 1500 fidelizados”, revela o fundador da empresa, que dá treinos de alta intensidade no Jardim da Estrela e no Parque Eduardo VII, em Lisboa.
O boom do treino outdoor, analisam Paulo Teixeira e José Maria Castelo Branco, pode ser explicado pela fadiga de estar em espaços fechados, aliada à falta de segurança que algumas pessoas sentem nos ginásios e às vantagens do treino ao ar livre, como a maior libertação de endorfinas. Paulo Teixeira destaca que este sentimento de diversão está ligado à consistência e só essa consistência permite atingir bons resultados.
Defensores acérrimos do treino ao ar livre nos espaços verdes da cidade, os dois profissionais apelam a que as cidades “aproveitem melhor os espaços” e invistam na sua manutenção. Paulo Teixeira sugere, ainda, que, em vez de investirem em “aparelhos para ficar ao abandono”, as autarquias e juntas de freguesias devem apostar em projectos de treino ar livre, gratuitos para os residentes. Até porque a tendência vai continuar a crescer, garantem Paulo Teixeira, Cláudia Dias e José Maria Castelo Branco. Para Mariana Tavares isso é claro e promete que, mesmo depois da pandemia, não troca as suas corridas e treinos ao ar livre pelo ginásio.